Copa do Rei
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Rodrygo genial e Vinícius explosivo deram suas respostas e também o caminho na classificação sobre o Atlético

O Real Madrid sofreu nas quartas de final da Copa do Rei, contra o Atlético de Madrid, mas encontrou forças e teve talento para uma grandiosa virada na prorrogação

Rodrygo e Vinícius Júnior apareceram no noticiário durante os últimos dias por motivos que não se restringiam às quatro linhas. Na última semana, Rodrygo indicou não ter gostado de ser substituído contra o Villarreal e recebeu uma lição de Carlo Ancelotti, enquanto via os homens que saíram do banco comandarem a virada pela Copa do Rei. Já nesta quinta, antes do duelo contra o Atlético de Madrid pelas quartas de final do torneio, Vinícius Júnior mais uma vez foi vítima de racismo dos rivais, com um boneco enforcado nas ruas de Madri. A resposta de ambos, cada um à sua maneira, veio em campo. Num jogo dificílimo para o Real Madrid no Estádio Santiago Bernabéu, Rodrygo reiterou seus ares de talismã misturado com o talento de craque. Quando o Atleti vencia, a dez minutos do fim, o atacante anotou um golaço ao fazer fila na defesa adversária e forçar a prorrogação. Já no tempo extra, os merengues buscaram a classificação. Benzema virou o placar e a contagem foi fechada em 3 a 1 por Vinícius, numa arrancada que culminou numa comemoração explosiva. Em tempos difíceis, o Real Madrid segue vencendo, muito por conta dos talentos prontos a responder.

O Real Madrid entrou em campo com Toni Kroos e Luka Modric de volta ao meio-campo, acompanhados por Eduardo Camavinga. Já na frente, Karim Benzema tinha as companhias de Federico Valverde e Vinícius Júnior – que teve seu nome gritado pela torcida no Bernabéu, em apoio diante dos ataques racistas da torcida do Atlético de Madrid. O time de Diego Simeone, por sua vez, incluía Koke e Rodrigo de Paul no meio, com Antoine Griezmann, Thomas Lemar e Ángel Correa no apoio, além de Álvaro Morata na frente.

Quando a bola rolou, a imaginada tensão da partida se traduziu em muita intensidade dos times, mas também muitos passes errados. Entretanto, naquilo que o jogo pedia, o Atlético era melhor em seu plano. Griezmann conseguia organizar a equipe, também melhor postada na defesa. Já do lado merengue, a iniciativa tantas vezes partia de Vinícius Júnior. O brasileiro aparecia nas principais jogadas, mas nada suficiente para testar Jan Oblak. Os madridistas demoraram demais para encaixar sua primeira finalização, contra uma marcação sólida.

O bom trabalho sem a bola do Atlético foi recompensado com o primeiro gol, aos 19. E o vacilo defensivo do Real Madrid esteve na conta de Vinícius. Koke lançou e o ponta não acompanhou a escapada de Nahuel Molina. O lateral estava com muito espaço na área e escorou para Álvaro Morata fuzilar quase em cima da linha. Nem o chacoalhão fez o Real Madrid melhorar tanto, ainda com dificuldades na criação. Tanto que a primeira finalização surgiu apenas aos 25, num tiro de fora dado por Valverde.

Pobre nas ideias, o Real Madrid lamentou sua grande chance desperdiçada aos 31. Numa falta cobrada com força em direção á área, o Atlético não conseguiu afastar e a bola sobrou para Éder Militão quase em cima da linha. No susto, o zagueiro desviou para fora. Não bastasse, quase Morata anotou o segundo do outro lado, a centímetros de completar o passe de Lemar. Os colchoneros continuaram travando bem o meio-campo na reta final do primeiro tempo, com mais propósito. Já os merengues tiveram que lidar com a lesão de Ferland Mendy, substituído por Dani Ceballos, com Camavinga deslocado à lateral.

O segundo tempo enfim teve um Real Madrid mais agressivo desde os primeiros minutos. A equipe conseguia espetar mais os seus jogadores no ataque e ganhava profundidade, o que faltou na primeira etapa. Valverde e Benzema auxiliavam o time a arriscar mais. Vinícius Júnior também esteve a ponto de marcar, num rebote de Oblak em ótima defesa contra Benzema, mas vacilou demais quando deveria ter sido rápido no gatilho. De qualquer maneira, era um time com mais ideias. O Atlético ficava mais contido, até que Thibaut Courtois trabalhasse contra Ángel Correa. Simeone mudou pela primeira vez aos 18, com Axel Witsel na vaga de Morata.

O Atlético de Madrid reforçava sua marcação, mas também chamava o Real Madrid. Benzema não conseguiu aproveitar um ótimo cruzamento de Valverde, pouco antes que o uruguaio desse lugar a Rodrygo. Uma mudança decisiva. Courtois ainda precisou salvar do outro lado, ao espalmar uma falta potente de Griezmann. Depois do escanteio, Witsel mandou uma bicicleta para fora. Os dois times também fizeram novas mudanças, com Memphis Depay e Yannick Carrasco no Atleti, além de Marco Asensio no Madrid na vaga de Kroos. E num momento em que a situação ficava perigosa, Rodrygo assinou sua obra de arte aos 34, menos de dez minutos depois de entrar.

A segurança e a frieza de Rodrygo na definição do lance impressionaram. A cada marcador que chegava para apertar, o atacante executava um drible impecável. Fez três adversários ficarem no vácuo, antes da definição cirúrgica: um chute de bico entre Oblak e a trave, na única fresta para as redes. Diante da perspectiva de prorrogação, o Atlético de Madrid ainda estava mais ligado para evitar o tempo extra. Griezmann bateu por cima quando estava de frente para o gol, mas o lance seria anulado por impedimento. Memphis também chamava a partida para si e forçou uma boa defesa de Courtois. Nada que evitasse os 30 minutos extras.

(Florencia Tan Jun/Getty Images/One Football)

O Atlético começou a prorrogação com Pablo Barrios no lugar de Griezmann. E o Real Madrid tomou a iniciativa. Passou o tempo todo no campo de ataque, bombando a bola dentro da área. O caminho se abriu aos nove minutos, quando Stefan Savic recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Já o abafa merengue deu resultado aos 14, com a virada. Asensio fez o cruzamento rasteiro, Vinícius Júnior furou na definição e a bola ficou limpa para o chute de Benzema no canto, sem que Oblak alcançasse. Como de costume nas últimas partidas, o francês não ia bem, mas aparecia num momento importante para marcar.

O segundo tempo extra seria difícil para o Real Madrid. O time recuou e chamou o Atlético para o seu campo. Demorou para que os madridistas encontrassem um respiro. A sorte é que os colchoneros definiam mal. Foram dois lances desperdiçados pela equipe, com Memphis e Carrasco. Já as últimas duas trocas do Madrid aconteceram aos nove, com Álvaro Odriozola e Mario Martín. Rodrygo foi um dos substituídos, lesionado. A esta altura, o Atleti também dava claros sinais de cansaço. Não agredia tanto. E os madridistas queriam concluir o serviço.

As chances de gol pareciam até maiores para o Real Madrid, com contra-ataques abertos. Vinícius Júnior puxava as jogadas com suas arrancadas pela esquerda e, num passe redondo, os companheiros descompensaram. Porém, por tudo o que viveu, o brasileiro merecia seu gol. E ele aconteceu nos acréscimos, para sacramentar a classificação. A partir de uma recuperação, o brasileiro disparou por todo o campo de ataque. Encontrou uma avenida e ninguém com gás para acompanhá-lo. Invadiu a área e definiu no canto. Na comemoração, explodiu entre palavras e gestos. Não foi sua melhor atuação, mas foi uma grande resposta após mais uma semana de ataques sórdidos. Respondeu na bola.

O Real Madrid se junta a Athletic Bilbao, Barcelona e Osasuna nas semifinais da Copa do Rei e aguarda agora o sorteio da próxima fase da competição. O time de Carlo Ancelotti permanece com necessidade de melhorias. Em compensação, emenda a terceira vitória de extrema dificuldade, após bater Villarreal e Athletic Bilbao nos últimos dias. Mostra como, mesmo com limitações, há muita qualidade para seguir competitivo. Rodrygo e Vinícius provaram da melhor maneira.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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