‘Se ficamos bêbados não falam nada, mas se pintamos a unha…’: Bellerín fala sobre machsimo tóxico no futebol
Discurso do lateral do Betis abre precedente para a luta por um mundo mais empático

Héctor Bellerín é um jogador que pensa “fora da caixinha”, está a margem da indústria do futebol e se preocupa com o bem-estar do torcedor e de quem trabalha com o esporte. Recentemente, a Trivela publicou uma matéria sobre a visão sustentável do atleta e como o Betis, clube que defende na Espanha, atua para conscientizar jogadores e funcionários para uma vida mais focada na preservação do planeta. Sem medo de falar o que pensa, o jogador foi cirúrgico ao abordar o machismo no futebol em uma entrevista concedida à BBC.
Em um mundo pautado pela toxicidade na relação entre as pessoas, principalmente nas redes sociais, Bellerín falou sobre como reage às críticas que recebe e sobre os comentários de pessoas que pedem para que o atleta foque apenas em jogar futebol e deixe de lado algumas questões que acha importante. Segundo ele, isso só acontece, pois boa parte dos torcedores não considera as suas atividades “muito masculinas”.
– É muito engraçado porque só dizem aos jogadores de futebol para se apegar ao futebol quando falam sobre algo ou fazem algo que não seja muito masculino -, afirmou o jogador.
“Quando eles jogam PlayStation e dirigem carros velozes, quando ficamos bêbados ou algo assim, não há nada a dizer sobre isso. Mas quando Borja Iglesias pinta as unhas ou quando vou a um desfile de moda, é quando eles nos questionam, é quando o que nós fazer lá fora afeta o nosso futebol”.
Bellerín vai na contramão do senso comum do futebol, e isso custa caro
Na era da intolerância, Bellerín vai contra a opinião de grande parte da sociedade do futebol. O lateral-direito de 28 anos ao menos tem em seu clube um lugar seguro e liberdade de pensar. Para Manuel Pellegrini, técnico do Bétis, o que importa é se o jogador desempenha bem sua função em campo.
As falas do atleta sobre a toxicidade do futebol, esse um ambiente tradicionalmente machista e pouco compreensivo, abrem margem para que mais pessoas possam se manifestar, tentando abafar os discursos preconceituosos.
O posicionamento dos jogadores como Bellerín, e do brasileiro Vinícius Jr, por exemplo, são extrema importância. O espanhol afirma que gostaria de encontrar mais companheiros de profissão engajados nas causas, mas o medo do cancelamento é uma barreira.
– As pessoas que não querem mudar são aquelas que apontam o dedo, te chamam de hipócrita, porque pensam que porque você era de um jeito há alguns anos, você não pode ser uma pessoa diferente hoje. Já tive muito disso. Eu no passado, falando em sustentabilidade, comprava muita roupa – isso não significa que quero fazer isso hoje. Quando você vive em uma sociedade que não aceita nem mesmo um pequeno erro, fica mais difícil para as pessoas se exporem. – concluiu.