Copa do Mundo

Seleção Brasileira mantém dúvidas sobre Dorival e renovação, mas encerra debate sobre Neymar

Brasil ganha, mas mostra muito pouco contra um Chile frágil. Vai dar time?

Segue sendo um tanto impactante que gente graúda em seus times por aí e com tanta moral e sequência na Seleção Brasileira continue tendo tanta dificuldade em se juntar para praticar um futebol que pareça a de uma equipe minimamente confiável, afinando os melhores caminhos para construir um jogo pelo menos suficiente para criar bastante contra um Chile frágil e sem graça.

É claro que o tempo de treinamento é curto e que as camisas nacionais não têm a mesma fluidez de jogo dos times que convivem diariamente, mas, ainda assim, sob todo esse contexto que estamos cansados de saber e sem expectativas inalcançáveis, o Brasil sofre demais para ter uma sequência de minutos dominante e consistente, firme, contra um time de nível bem duvidoso que, apesar do gol no início, fez muito pouco em Santiago.

Ninguém está parando na frente da TV imaginando que o time amarelo será um carrossel feito a Holanda de Cruyff ou um rolo compressor desses tipo o Liverpool de Klopp.

Mas que pelo menos uma turma que tem André, Paquetá, Gerson e Bruno Guimarães consiga ter um ritmo de lances de domínio, umas três, quatro jogadas seguidas que você possa comentar com alguém na mesa, olha aí, o meio-campo do Brasil está jogando bem, tentando, achando, variando…

Igor Jesus salva Dorival com gol de empate no Chile
Igor Jesus salva Dorival com gol de empate no Chile (Foto: Imago)

Seleção brasileira depende de espasmos

Mas restam apenas os espasmos, uma esperteza individual de Savinho para encontrar a estrela de Igor Jesus ou uma pressão chilena frustrada por um toque bonito do goleiro Ederson, a abrir o clarão que encontrou finalmente Luiz Henrique no um contra um.

O Brasil ganhou de virada, no fim só precisava disso mesmo, mas é difícil explicar como pode ser tão desafiador ir para cima num jogo desses, ir para cima de verdade, com o que se apresentou no Estádio Nacional. Quase empatou!

Existe um desencaixe ainda na responsabilidade de levar esse elenco a frente, um vácuo que esses dois anos desde a Copa do Mundo não foram capazes de ocupar.

Danilo, líder de um vestiário por usucapião e capitão por inércia, não vai assinar um jogada de boa saída, e Rodrygo, mesmo que encontre um ou outro tapa de muita qualidade, ainda oscila um pouco ao tentar ser essa referência máxima ali com a 10.

Luiz Henrique salvou Brasil do "caos" com gol sobre o Chile
Luiz Henrique salvou Brasil do “caos” com gol sobre o Chile (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Debate encerrado sobre Neymar

É inevitável falar de Neymar e lembrar como, até quando joga mal, faz bem para o time. Só a paciência de receber todas as bolas possíveis e qualquer fiapo de possibilidade de inventar um lance já dão um balanço e abrem espaço para os colegas ao lado.

Essa temporada sem ele tira qualquer dúvida e, para mim, encerra o debate de que poderia haver uma seleção melhor sem a grande estrela (que talvez nunca volte direito, é verdade). Ficou pior sem ele por questões objetivas – era o melhor meia-atacante do Brasil por mais de uma década – e também por tabela, porque melhora a vida dos volantes, de Rodrygo, de Paquetá, dos laterais, dos pontas, de todo mundo, só pela linha de passe que encontra e pela atenção que chama da marcação.

Hoje o time parece inteiro controlável, e qualquer equipe sul-americana inspirada na defesa e bem fisicamente para os duelos pode parar a amarelinha sem grandes traumas.

A nota positiva é que, depois de um tempo em que muito questionamos a formação dos pontinhas brasileiros, Savinho e Luiz Henrique de fato vão se tornando atacantes mais inteiros para uma totalidade do jogo, decisivos e inteligentes para disputa no mano a mano em dias difíceis.

Devem ser mais jogadores que Antony e Willian, por exemplo, para citar dois caras de lado de campo que estiveram nas últimas Copas do Mundo. Estevão vem nessa linhagem, uma habilidade que rende chance de gol a todo momento porque tem gás para concluir.

Raphinha poder jogar por dentro também é uma coisa boa. Ainda falta o melhor uso de Endrick, que por algum motivo parece incompreendido – é um segundo atacante, precisa e gosta de campo para correr, mas é muito visto como nove.

Abner apareceu disposto do lado esquerdo, aproveitou as combinações por ali mesmo sendo um novato no time, e vale o voto de confiança. Igor Jesus reforçou que, hoje, não perde em nada para os outros centroavantes disponíveis que atuam na Europa.

"É simbólico que o melhor Botafogo em décadas, com a factível perspectiva de ganhar um ou os dois títulos mais importantes do nosso futebol, e time de melhor bola apresentada no país, seja maioria no vestiário desta rodada de eliminatórias".

Leia na coluna de @paulo–junior.bsky.social na Trivela⬇

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— Trivela (@trivela.com.br) October 8, 2024 at 12:10 PM

E a renovação?

Dorival Júnior disse que está fazendo a renovação da seleção, o que é difícil de concordar totalmente. Marquinhos e Danilo na saída da bola não tem nada de novo, pelo contrário, é o exagero da segurança (que de seguro não anda tendo nada numa proteção de área inexistente logo a um minuto de jogo).

Também essa falta de meias, apostando num jogo em que a posse precisa chegar logo na ponta, é o mais do mesmo. A atuação aquém de Rodrygo não me tira da cabeça que deveria haver espaço para um carimbador de bolas ali atrás dos atacantes, e vou insistir em Matheus Pereira, convocado só depois da suspensão de Paquetá. Prometo não pensar em Ganso, mas é que está difícil para alguém de amarelo pisar nela e levantar a cabeça, respirar um instante que seja.

Enfim, é realmente de se duvidar se esse treinador conseguirá montar um time nessa passagem pela seleção, alguma marca, algo que nos faça lembrar que, ah, sim, jogava assim com Dorival, pode crer.

Por enquanto é um meio do caminho tímido entre tirar o melhor de referências passadas e entender como mediar os novos, porém sem o choque da mudança nem aquele brilho no olhar de melhores ventos.

Será surpreendente se o treinador chegar nessa batida como comandante do Mundial, um time mínimo assim. Já são onze jogos e, infelizmente, muito pouco.

Foto de Paulo Junior

Paulo JuniorColaborador

Paulo Junior é jornalista e documentarista, nascido em São Bernardo do Campo (SP) em 1988. Tem trabalhos publicados em diversas redações brasileiras – ESPN, BBC, Central3, CNN, Goal, UOL –, e colabora com a Trivela, em texto ou no podcast, desde 2015. Nas redes sociais: @paulo__junior__.
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