Massacre alemão sepulta passado brasileiro. Mas qual será o futuro?
Acabamos de chegar ao intervalo da semifinal entre Brasil e Alemanha. A seleção está perdendo o jogo para a Alemanha por 5 a 0 [atualização: a essa altura da vida você já sabe que o jogo terminou em 7 a 1]. Se nada mudar, esta será a maior derrota da história do país em uma Copa do Mundo – a maior, até então, fora contra a França, na final de 1998, por 3 a 0 [já mudou: é a maior derrota brasileira na história]. Exceto se uma virada fenomenal acontecer [e ela não aconteceu, como a gente sabe], será um trauma e um terremoto. Ser goleado, em casa, na Copa em seu próprio país, deixará marcas por várias e várias gerações. É um terremoto que a gente sabe como começa – mas não tem ideia de como termina.
É como se só soubéssemos reagir aos problemas com indiferença e violência. Isso não constrói uma seleção – nem um país. Agora é a hora, no final das contas, de começar a construir alguma coisa. O terremoto começou. Mas, diferente dos terremotos naturais, nesse a gente pode ter alguma influência. Ele pode ir para qualquer lugar, afinal.
Ainda é cedo para listar como chegamos a essa tragédia. Vamos precisar pensar sobre o que é óbvio e o que não é tão óbvio assim. Algumas coisas parecem claras. Infelizmente, Felipão não foi o bruxo do Grêmio de 1995, do Palmeiras de 1999 e da própria seleção, em 2002. Foi o ex-técnico em atividade, teimoso, barulhento e sem brilho, que comandou o Palmeiras na derrota humilhante por 6 a 0 contra o Coritiba, pela Copa do Brasil em 2011, e que mais tarde pavimentou o caminho para o rebaixamento do clube no final de 2012, no Brasileirão. Felipão teve um momento de brilho na Copa das Confederações, é verdade. Mas, quando seus melhores jogadores entraram em má fase, agora, em 2014, não soube o que fazer. Até o motivador, rei de tantos mata-mata, desapareceu. O time foi massacrado em campo e na cabeça.
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O passado também pesou fora de campo. O comando da seleção, com José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, tem a cara do Brasil dos anos 1970 e dos anos 1980. São personagens congeladas no tempo. Fomos para a Copa em 2014 com uma mentalidade de 1974 – de 1984, no máximo.
A lista de motivos para o massacre é grande – e vamos falar bastante disso de agora em diante. Só que o problema não está em como o passado nos trouxe até aqui. Já foi, já era. O nó é que caminho vamos seguir a partir de agora – para o futuro. Marin, Del Nero e Felipão estão conduzindo uma geração de jovens promissores por uma estrada velha. Mas o problema não é só esse. A seleção, assim como o país, não é apenas a direção da CBF e do time nacional. As cenas dos torcedores deixando o Mineirão antes do intervalo são preocupantes, assim como as notícias de confusão em Minas e Recife.
É como se só soubéssemos reagir aos problemas com indiferença e violência. Isso não constrói uma seleção – nem um país. Agora é a hora, no final das contas, de começar a construir alguma coisa. O terremoto começou. Mas, diferente dos terremotos naturais, nesse a gente pode ter alguma influência. Ele pode ir para qualquer lugar, no final das contas.
A seleção, assim como o país, é de todos nós. Não adianta, agora, reagir com fúria e com indiferença. É preciso canalizar energia para algum lugar, para alguma direção. É preciso tomar conta do que é nosso. A catástrofe serve, pelo menos, para começar a construir tudo de novo. É difícil? É. É complicado? Sempre foi. Mas as coisas só mudam quando temos espírito público para tomar conta das coisas que são de todos nós. E a seleção é uma delas.