O elenco de Marrocos realizou uma bonita homenagem a Abdelhak Nouri em meio aos seus festejos
Antigo companheiro de Mazraoui e Ziyech no Ajax, o ex-meia de origem marroquina segue em estado vegetativo desde 2017

A comemoração de Marrocos pela conquista da classificação às quartas de final da Copa do Mundo teve uma bonita homenagem realizada pelos jogadores. Nos vestiários, os marroquinos exibiram uma camisa com o número 34 e o nome de Abdelhak Nouri, enquanto gritaram o nome do ex-meia. Holandês de origem marroquina, o jovem de 25 anos formado pelo Ajax permanece em estado vegetativo desde que sofreu uma parada cardiorrespiratória em campo, em 2017. E o carinho dos jogadores dos Leões do Atlas, alguns deles antigos companheiros do homenageado, só reforça como a figura de Nouri transcende.
Nouri era visto como um dos maiores talentos do Ajax nas categorias de base. Disputou apenas nove partidas pela Eredivisie, quando sofreu o ataque cardíaco aos 20 anos. Defendeu as seleções de base da Holanda do sub-15 ao sub-19, mas sua ascendência marroquina permitia que ele ainda pudesse escolher os Leões do Atlas no nível adulto. E algo marcante em sua trajetória é o próprio envolvimento com a comunidade imigrante do Marrocos que vive em Amsterdã. O ex-meia era conhecido por se envolver em projetos sociais nos subúrbios da cidade, inclusive dando apoio a outros filhos de imigrantes. Até por isso é tão querido.
“Ele era o modelo para os nossos alunos desde antes do acidente, não apenas agora. Se você perguntasse a Abdelhak algo sobre futebol, ele podia te dizer, logicamente, mas ele queria falar sobre todos os assuntos. Por exemplo, havia uma professora que era sua mentora e, no intervalo, ele queria conversar com ela sobre religião. Eu vejo muitos jogadores do Ajax aqui e eles estão frequentemente perto de serem contratados. Algumas vezes é muito difícil se conectar com eles, porque tudo o que importa é o futebol e o ‘eu sou o bonzão'. Mas Abdelhak nunca foi assim. Não havia arrogância, não era algo dele. Ele estava interessado em você, na sua história”, definiria Jolanda Hogewind, diretora da escola onde Nouri estudou, ao jornal The Guardian, em 2017.
No elenco de Marrocos, dois jogadores atuaram ao lado de Nouri no Ajax: Noussair Mazraoui e Hakim Ziyech. Ainda assim, outros tantos conheciam o prodígio dos gramados. Desde 2017, tornou-se comum que muitos futebolistas escolhessem o número 34 em seus clubes como uma referência a Nouri. É o caso de Sofyan Amrabat, que usa a 34 da Fiorentina. Quando foi apresentado na Viola, o volante explicou que conhecia o ex-meia e pretendia usar a referência pelo resto da carreira. Já a 34 do Genk é de Bilal El Khannouss. O garoto de 18 anos afirmou que Nouri era o seu modelo de jogador e por isso adotou o número. Um exemplo que transcende.
No início do ano, o Ajax chegou a um acordo com a família de Nouri para o pagamento de uma indenização. As partes mantiveram uma relação próxima desde o incidente, mas os pais do ex-jogador passaram a exigir uma reparação após uma investigação interna apontar erro no atendimento médico após a parada cardiorrespiratória. O litígio se arrastou por mais de quatro anos, até a confirmação do pagamento de €7,85 milhões. Paralelamente, os Godenzonen pagaram o salário de Nouri até março de 2020, quando seu contrato foi encerrado durante a pandemia, e bancavam também os cuidados médicos continuamente. Durante o imbróglio, a família do ex-meia ainda compareceu em homenagens feitas pelo clube e separou os assuntos. O Ajax reservou o número 34 à família e criou um memorial na Johan Cruyff Arena.
Eis que, na comemoração pela vaga nas quartas da Copa, os jogadores de Marrocos celebraram um nome nascido na Holanda (Países Baixos), que jogou por ela na base, mas que foi impedido pelo destino até de escolher qual seleção defenderia: “Appie” Nouri. https://t.co/txDHTtRmLa
— Espreme a Laranja (@espremealaranja) December 6, 2022
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— AFC Ajax (@AFCAjax) December 6, 2022