Copa do Mundo

Não é a eliminação que impede o reconhecimento ao Equador, com capacidade de voltar mais forte na próxima Copa

A maior parte dos destaques do Equador não passa dos 25 anos e tem tempo para amadurecer rumo ao Mundial de 2026

O Equador se despede da Copa do Mundo cedo demais pelas impressões que deixou no Catar. La Tri fez uma campanha digna na competição, mas não suficiente para a classificação. O time de Gustavo Alfaro apresentou bons recursos, contou com jogadores talentosos e brigou pela classificação em todos os momentos. Faltou competir um pouco mais quando a pressão era maior. A vitória sobre a Holanda seria merecida se viesse e, no jogo em que dependiam do empate contra Senegal, os equatorianos demoraram a se acertar. Até esboçaram a reação, mas também sentiram o baque pelo segundo gol senegalês. Como consolo, resta a percepção de que as lições podem ser assimiladas por um elenco jovem o suficiente para fazer mais nas próximas Copas.

Pelo que aprontou nas Eliminatórias, o Equador dava impressão de que poderia mesmo almejar uma classificação rumo aos mata-matas da Copa de 2022. Era uma equipe mais confiável que a do Mundial de 2014, por exemplo. Gustavo Alfaro foi bem ao potencializar as características dos jogadores através da identidade da equipe e também por dar espaço a vários jovens. La Tri montou um time agressivo e direto, mesmo que por vezes tenha carecido de poder de fogo. Fez um grande qualificatório, em que ficava claro como não existia dependência da temida “altitude de Quito”.

A estreia contra o Catar seria um belo cartão de visitas do Equador. Diante dos anfitriões nervosos e frágeis, La Tri ganhou por 2 a 0 e poderia ter feito mais. Enner Valencia seria o herói da primeira partida, sublinhando sua importância como um dos veteranos do atual elenco. De qualquer maneira, também se percebia como os desafios dos equatorianos em busca da classificação viriam mesmo nas outras duas partidas. E, diante do adversário mais badalado, a Holanda, os sul-americanos foram melhores.

O Equador mudou o seu esquema tático para explorar as fragilidades da Holanda. O gol sofrido logo de início atrapalhou os planos, mas o time teve tempo suficiente para tomar conta da partida e botar os adversários contra a parede. O segundo tempo rendeu o empate, de novo com Enner Valencia, e a virada teria sido também merecida. Os laterais, em especial Pervis Estupiñán, funcionaram muito bem. Todavia, a missão só estaria completa na última rodada. Os equatorianos teriam um adversário qualificado como Senegal, ao menos com a vantagem do empate para os sul-americanos graças ao tropeço dos africanos no fim contra a Oranje.

Sem a presença do suspenso Jhegson Méndez, um dos melhores do time nas primeiras partidas, o Equador mudou a sua formação e o seu meio-campo. Em teoria, a volta de Carlos Gruezo não seria um problema, já que o camisa 8 só não começou a Copa como titular por causa de uma lesão. Entretanto, o impacto que se viu no primeiro tempo foi enorme. La Tri perdeu a intensidade na faixa central, também pela entrada de Alan Franco. Com o sistema de quatro defensores, os laterais não subiram tanto e tomaram calor dos pontas adversários. A linha de zaga ficou mais exposta e a vantagem mínima no Senegal na saída para o intervalo ficou barata.

O Equador mudou e melhorou para o segundo tempo. Progrediu em campo e fez Senegal recuar. Desta vez, porém, o ataque ficou devendo. O volume de jogo não resultava necessariamente em chances criadas e somente uma bola parada permitiu o empate com Moisés Caicedo. Uma vantagem que os equatorianos não conseguiram segurar, com o segundo gol senegalês logo na sequência. Depois disso, não tiveram muita contundência para reagir. As condições físicas de Enner Valencia atrapalharam bastante. Após sentir lesão nas duas partidas anteriores, o centroavante estava no sacrifício e não preponderou dessa vez.

A campanha até as oitavas de final da Copa de 2006 continua como a melhor do Equador no torneio, mas naquela oportunidade o grupo era mais acessível. Senegal cresce na competição e passa também com méritos. A decepção fica mesmo para a Holanda, que avança se arrastando na competição. La Tri merecia mais que os holandeses. Ao menos, vislumbra uma base para um bom tempo. O elenco está entre os mais jovens da competição e, exceção feita a Enner Valencia, a maior parte dos destaques equatorianos no Catar não passam dos 25 anos. Terão no mínimo mais um ciclo.

Félix Torres e Piero Hincapié formaram uma boa dupla de zaga, Pervis Estupiñán esteve entre os melhores laterais da fase de grupos, Moisés Caicedo e Jhegson Méndez dão boa pegada no meio, Gonzalo Plata esbanjou habilidade, Jeremy Sarmiento saiu bem do banco de reservas. Todos eles têm menos de 25 anos. Outros ainda podem crescer, como José Cifuentes, Kevin Rodríguez, Moisés Ramírez e William Pacho. O futuro do Equador se vê encaminhado. E seria justo reconhecer Gustavo Alfaro com a continuidade. O treinador pode não ter ido tão bem neste último compromisso, mas La Tri chegou tão arrumada muito graças ao treinador.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo