Copa do Mundo

A melhor coisa que Felipão pode fazer a si é assumir o fracasso e pedir demissão

David Luiz foi uma tragédia no Brasil x Alemanha. A braçadeira de capitão parece ter pesado demais, e o zagueiro se colocou como responsável por desfazer tudo o que estava dando errado no jogo. Acabou piorando a situação. Mas foi poupado de críticas pesadas. Foi carisma, foi crédito acumulado nos jogos anteriores e foi… a entrevista.

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Na saída do campo, o zagueiro chorava. Chorava e pedia desculpas, disse que queria apenas dar uma alegria ao povo brasileiro. Assumiu a culpa, mostrou que entendia a dor que o torcedor sentia naquele momento. Deu a cara a tapa. E isso é fundamental. Assumir a vergonha da derrota é mais importante para ter honra e dignidade do que vencer. Uma lição que os comandantes da Seleção não aprenderam.

Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira são dos dois técnicos mais vitoriosos da história do futebol brasileiro. Ambos conquistaram Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e, raios, ganharam a Copa do Mundo com a Seleção! Grandes conquistas, que colocaram eles em qualquer livro de história do futebol nacional. E é em nome dessa biografia que ambos deveriam assumir sua parte na vergonha e, tal qual um primeiro ministro sem sustentação do parlamento, fazer um harakiri profissional e pedir as contas.

Pedir demissão colocaria os técnicos ao lado dos torcedores entre as pessoas que sofrem com o peso daqueles 7 a 1. Um peso tão grande que o autossacrifício é uma saída viável se for pelo bem comum.

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Foi a atitude de Cesare Prandelli na Itália, mesmo com o técnico tendo um vice-campeonato da Eurocopa de 2012 para justificar uma eventual insistência. Foi a atitude de Alberto Zaccheroni no Japão. Foi a atitude de Hong Myung-Bo da Coreia do Sul. Os três assumiram seus papéis no fracasso de suas seleções e deram o cargo como forma de mostrar ao público que se sentiam envergonhados do que ajudaram a fazer.

No Brasil, isso é quase utopia. Ter um cargo dá poder, dá relevância, afaga o ego. E é difícil largar isso. Zagallo brigou com jornalista que o tratou como demitido do cargo de supervisor da Seleção após a derrota para a Holanda na Copa de 2010. Felipão e Parreira dizem que são culpados com a mesma naturalidade que um jogador diz “respeitamos o adversário, é um time muito bom” antes de pegar em casa um time do interior que é lanterna do estadual. Declarações para cumprir tabela, mas sem um significado íntimo, tanto que os dois comandantes do Brasil tentaram provar que o trabalho foi feito corretamente.

Felipão e Parreira agem como se não entendessem nada de futebol, pois negam o inegável. Não foi com essa atitude alheia à realidade que ambos se tornaram figuras relevantes. E, em consideração à torcida e ao que eles próprios foram, ambos deveriam pedir demissão. É a atitude mais digna e honrada neste momento.

PS.: após o jogo contra a Holanda, Felipão disse que toda a comissão técnica entregava o cargo para a direção da CBF decidir se continuava ou não o trabalho. Isso não é pedir demissão, é a condição natural quando um contrato se encerra. Pedir demissão é não dar margem para permanecer, e isso ainda não ocorreu.

Foto de Ubiratan Leal

Ubiratan Leal

Ubiratan Leal formou-se em jornalismo na PUC-SP. Está na Trivela desde 2005, passando por reportagem e edição em site e revista, pelas colunas de América Latina, Espanha, Brasil e Inglaterra. Atualmente, comenta futebol e beisebol na ESPN e é comandante-em-chefe do site Balipodo.com.br. Cria teorias complexas para tudo (até como ajeitar a feijoada no prato) é mais que lazer, é quase obsessão. Azar dos outros, que precisam aguentar e, agora, dos leitores da Trivela, que terão de lê-las.
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