Infantino diz que imigrantes no Catar ganham “dignidade e orgulho com trabalho duro”
Presidente da Fifa estava em Los Angeles e foi questionado sobre a questão dos trabalhadores, mas Infantino deu mais uma declaração absurda sobre a questão no Catar

A Copa do Mundo 2022 no Catar será cercada de questionamentos, como a Fifa sabe muito bem. Assim, é normal que haja questionamentos aos seus dirigentes quando é possível. Foi assim que aconteceu nesta semana, quando Gianni Infantino, presidente da Fifa, participava de uma conferência global no Milken Institute, em Los Angeles, e foi perguntado sobre o assunto. A sua resposta tenta escapar da questão, mas o que consegue é dar mais uma declaração, no mínimo, insensível.
A âncora da MSNBC, Stephanie Ruhle, perguntou ao presidente da Fifa se a entidade usaria os lucros para fazer “algum tipo de comprometimento” para ajudar as famílias dos trabalhadores que morreram no Catar, trabalhando direta ou indiretamente nas obras da Copa do Mundo que acontece no fim do ano.
“Não vamos esquecer uma coisa. Quando falamos sobre esse tópico, que é trabalho, mesmo trabalho duro, trabalho pesado. Os Estados Unidos são um país de imigração. Meus pais imigraram também da Itália para a Suíça. Não tão longe, mas ainda assim”.
“Quando você dá trabalho para alguém, mesmo em condições duras, você dá dignidade e orgulho. Não é caridade. Você não faz caridade. Você dá algo a alguém e diz: “Fique onde está. Eu dou a você algo e me sinto bem’”, continuou o dirigente, tentando alguma explicação que fizesse sentido.
A apresentadora, então, interrompeu: “Mas para construir o estádio onde será jogada a Copa do Mundo”. Infantino seguiu dali. “Exatamente. Também é uma questão de orgulho e ser capaz de mudar as condições desse 1,5 milhão de pessoas, isso é algo que nos deixa orgulhosos”, afirmou, cinicamente, o dirigente.
Ruhle ainda comentou sobre uma matéria do Guardian sobre a morte de 6.500 trabalhadores nas obras de infraestrutura para a Copa do Mundo, que será a primeira no Oriente Médio na história. O Catar já tinha negado esses números da reportagem do Guardian. Infantino foi por essa linha oficial ao dizer que apenas três pessoas morreram na construção dos estádios da Copa.
“Agora 6.000 podem ter morrido em outras obras e assim por diante”, disse Infantino, “E é claro que a Fifa não é a polícia do mundo ou responsável por tudo o que acontece no mundo. Mas graças à Fifa, graças ao futebol, conseguimos abordar a situação de todos os 1,5 milhão de trabalhadores que trabalham no Catar”, continuou Infantino.
Infantino alega ainda que a Copa do Mundo contribuiu para uma “mudança social positiva” no Catar, inclusive com o fim da “kafala”, sistema que é considerado análogo à escravidão e existia no país até 2018 e só foi de fato encerrado em 2020 – o Catar ganhou a disputa para sediar a Copa do Mundo em 2010.
As falas de Infantino tergiversam sobre a questão, porque o trabalho no Catar ainda é uma questão bastante discutível e precisa ser melhorada em vários aspectos. Sem falar em direitos humanos, algo que a Fifa ignorou – ou ao menos foi conivente – desde que o Catar se tornou sede da Copa 2022.
É sabido que muitos na gestão atual da Fifa não queriam que o Catar recebesse a Copa, mas havia muitos problemas para mudar isso. Sendo assim, a Fifa precisava trabalhar para garantir que fosse a melhor Copa possível e não que seu presidente falasse que o trabalho dignifica. Até porque, nas condições que o Catar oferecia aos trabalhadores, não havia qualquer dignidade.