Multidão, espiadinha e camarote mirim: Seleção Brasileira agita Curitiba após 21 anos
Brasil enfrenta o Equador nesta sexta-feira, no estádio Couto Pereira, pelas Eliminatórias
Na porta do hotel Bourbon, tradicional do centro de Curitiba, onde a Seleção Brasileira está hospedada para a partida contra o Equador, nesta sexta-feira (6), centenas de pessoas se aglomeraram durante a semana na expectativa de poder ver algum atleta.
O movimento até começou tímido na segunda-feira (2), quando a delegação ainda não estava completa, mas na quinta-feira (5), um dia antes do jogo, toda a rua do hotel ficou tomada por torcedores, que esperavam os 23 atletas embarcarem no ônibus para o CT do Caju, do Athletico.
A movimentação foi tanta que a CBF chegou a organizar uma “área vip”, exclusiva para crianças, em frente à porta do hotel. Antes da iniciativa, Miguel da Silva, de 9 anos, e Rafael Soares, 8, brigaram por um espaço na grade que separa a torcida do caminho que os jogadores fazem até o ônibus da CBF.
O sufoco, no fim, foi recompensado com o carinho de alguns atletas. “Do Vini Jr e do Pedro eram os que eu mais queria e eu consegui. Também peguei do William e do motorista”, contou Miguel, animado, mostrando a camisa assinada com os autógrafos. Flamenguista, seu ídolo na Seleção é Vini Jr, mas até o condutor do ônibus da CBF foi tietado.
Rafael, que é fã de Endrick, não teve a mesma sorte, já que o jogador não parou para autógrafos. Ainda assim, teve sua camisa assinada pelo indicado à Bola de Ouro.
“Eu só consegui do Vini, tive que ficar no meio da grade e ninguém me via”, relatou, irritado.
21 anos antes, era Marlus Stella Miguel, 31, quem via o próprio ídolo de perto. Em 2003, Ronaldo desembarcou na capital para jogar pela Seleção recém pentacampeã. No Estádio Pinheirão, hoje abandonado, ele pôde, aos 10 anos, comemorar o gol do Fenômeno duas vezes, no empate em 3 a 3 com o Uruguai, pelas Eliminatórias da Copa de 2006.
“No final do jogo, foi muito épico quando Ronaldo fez o gol e empatou. Eu lembro muito bem porque quando ele marcou, fez o mesmo gesto da Copa de 2002, balançando o dedo indicador. Isso aí ficou na memória, muito marcante pra gente que é brasileiro, né?”, conta o torcedor, à Trivela.
Último jogo da Seleção Brasileira em Curitiba teve gols de Kaká e Ronaldo
Além de Miguel, outras 23.463 pessoas foram ao estádio para a partida naquele ano. Da arquibancada, os torcedores viram Kaká abrir o placar e Ronaldo ampliar ainda no primeiro tempo.
Depois do intervalo, o jogo ficou eletrizante quando o Uruguai virou, com três gols em 31 minutos. Dois foram de Diego Forlán, e o outro foi contra, de Gilberto Silva .
Perto dos acréscimos, Ronaldo conseguiu segurar o empate e fazer a comemoração que ficou na mente do torcedor.
Se ver um gol de Ronaldo da arquibancada já foi um acontecimento, alguns ainda tiveram o privilégio de assistir ao Fenômeno em ação da beira do gramado. O jornalista Robson De Lazzari, da Rádio Transamérica, de Curitiba, foi um dos repórteres que esteve na partida.
“Em 2003, eu trabalhava na rádio CBN, e fui escalado. Fiquei muito feliz. Cobri a semana inteira, dos treinos, entrevistas“, lembra o jornalista.
“Pra mim foi muito marcante por tudo que a Seleção Brasileira representava. E na época, ainda mais, já que um ano antes tinha sido pentacampeã do mundo. O que me marcou mesmo foram os dois gols do Ronaldo. Estavam ele, Rivaldo, Kaká. Era absurdo estar ali fazendo a cobertura. Foi uma memória muito legal“, conta.
No Pinheirão, naquela época, os ingressos já eram caros. O mais barato custava R$ 60, valor que, ajustado pela inflação, chega a R$ 236 nos dias de hoje. Já o mais caro custava R$ 200, o que daria algo em torno de R$ 700 nos valores de hoje.
De volta após duas décadas, Seleção Brasileira é acolhida em Curitiba, mesmo com retrospecto de embate
A seleção brasileira tem passado por momentos de embate com a torcida que ficaram mais evidentes durante a Copa América, com a discussão de Danilo com um torcedor e as declarações de Endrick de que os jogadores “poderiam estar de férias”. Os episódios contribuíram para um maior afastamento entre a Seleção e os fãs de futebol.
Na capital paranaense, o clima, ao menos antes do jogo, tem sido amigável. Além da reunião de torcedores no hotel, dezenas de pessoas foram ao CT do Caju, do Athletico, onde a Seleção está treinando, para tentar espiar os trabalhos de Dorival Júnior.
Nas ruas no entorno do centro de treinamentos, os torcedores chegaram a subir nos carros e um caminhão abriu as laterais da caçamba para virar uma “área vip” de quem quisesse ver os treinamentos.
“O que a gente está vendo agora aqui, dos ingressos praticamente esgotados, da galera toda em torno do hotel querendo autógrafos, é muito especial, é muito marcante, é diferente. Porque o Brasil ainda tem estrelas absurdas do futebol mundial e nós na cidade temos jogadores identificados, que brilharam aqui“, afirma De Lazzari..
Miguel, por outro lado, entende que a Seleção Brasileira não passa mais a confiança de 21 anos atrás. Ele, inclusive, teme que o grupo seja vaiado caso o placar se repita na cidade.
“O clima naquele jogo era de todo mundo feliz, todo mundo gritando, porque o Brasil vinha de um pentacampeonato, totalmente diferente de hoje. Talvez se hoje o Brasil empatar ou perder, venham vaias”, projeta.
“O imediatismo do brasileiro, que quer tudo para ontem, pode causar muito malefício nessa situação. A gente já vem de uma sequência negativa nas eliminatórias, na Copa América, então fica com essa pulga atrás da orelha”, diz.
Os ingressos para a partida contra o Equador estão quase esgotados. Depois de Ronaldo, Kaká e Rivaldo, que jogaram em 2003, os craques da vez são Vini Júnior, Endrick, Rodrygo, Estêvão, entre outros, em um novo ciclo.
Os resultados precisam aparecer e a equipe precisa subir na tabela de classificação para ir à Copa com tranquilidade. Ainda assim, se o clima da semana persistir, torcedores curitibanos poderão guardar mais uma boa memória com a seleção brasileira, 21 anos depois.