Eliminatórias da Copa

Maurício Noriega: Não temos uma seleção. Isso é bom e ruim

Embora assuste, a tenebrosa atuação da Seleção contra o Uruguai abre caminho para experiências saudáveis.

Há duas conclusões sobre a merecida derrota do Brasil para o Uruguai, em tenebrosa atuação: uma boa e uma ruim. A ruim: não temos uma seleção. A boa: não temos uma seleção.

A conclusão ruim talvez reflita o novo normal do futebol brasileiro: não ser mais protagonista e disputar o Oscar de coadjuvante. A boa sinaliza para uma medida urgente por parte do treinador Fernando Diniz: assumir efetivamente o comando da seleção. Porque por enquanto, ainda que seja cedo, Diniz parece estar apenas dando sequência ao trabalho de Tite.

O treinador brasileiro tem um perfil autoral. O problema é que suas convocações e o desempenho da seleção têm sugerido que ele esteja interpretando um tema composto pelo técnico anterior.

A conclusão boa pode levar a uma providencial chutada de balde. Embora alguns teimem em chamar de legado o que ficou dos seis anos de Tite, há caminho para um pé na porta da mesmice e dos lugares cativos que levaram a seleção apenas às quartas-de-final em duas Copas.

A melhor definição do jogo para o Brasil foi dada pelo Maestro Júnior, uma rara voz comentarista boleira a fugir das obviedades e do tatiquês erudito: uma partida para esquecer.

O que vem pela frente é desafiador: Colômbia, fora, e Argentina em casa.

Há muitas dúvidas para quase nenhuma certeza.

A lesão de Neymar, provavelmente grave, abre a possibilidade de um teste que qualquer treinador brasileiro tem medo de fazer: montar uma seleção sem seu principal jogador.

O momento ruim de jogadores que foram pilares dos ciclos anteriores, como Marquinhos, Casemiro, Richarlison e Gabriel Jesus oferece a oportunidade para responder a uma pergunta que o Brasil faz há muito tempo: é possível montar um time competitivo com jovens e atletas mais experientes que atuam no Brasil?

Além da lesão de Neymar, há outra preocupação: Vini Júnior. O jogador que se apresenta como a próxima referência tem sido uma sombra do atacante que assombrava defesas rivais. Que seja uma das fases ruins que acontecem.

Pena que a lesão de Vitor Roque impeça sua presença no time principal. Porque cada intervenção de Matheus Cunha como opção mostra que é onde o jovem talento contratado pelo Barcelona precisa estar.

É na crise que aparecem grandes oportunidades, bradam os gurus do aconselhamento de negócios. Que o solitário ponto obtido nos seis últimos disputados faça Diniz lembrar que ele chegou até aqui procurando ser diferente. Essa autenticidade até agora contida é que esperamos para tirar o pó da mesmice.

A seu favor o treinador tem as bondades da Fifa. Ele pode testar sem medo, porque se o Brasil não conseguir uma vaga para a Copa numa classificatória com índice de até 70% de aprovação, será bom todos nós começarmos a estudar críquete ou curling.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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