Eliminatórias da Copa

O Chile teve controle total do clássico e mereceu o essencial triunfo sobre o Peru

As duas seleções vinham pressionadas em busca da vitória nas Eliminatórias, mas apenas o Chile jogou com autoridade no Clássico do Pacífico

Chile e Peru são rivais ferrenhos muito além das quatro linhas, mas que vivem dilemas parecidos com suas seleções: o envelhecimento de gerações históricas. Os chilenos sofrem há mais tempo com o ocaso do time bicampeão da Copa América, enquanto os peruanos também têm dificuldades na transição do grupo que os levou de volta à Copa do Mundo. As duas equipes devem ter dificuldades para se classificar à Copa do Mundo de 2026, mesmo com o aumento no número de vagas nas Eliminatórias Sul-Americanas. Até por isso, a vitória no Clássico do Pacífico desta quinta-feira era tão valiosa. E deu Chile: dominante na maior parte do tempo, a Roja tinha dificuldades na conclusão, mas dois gols na reta final garantiram o placar de 2 a 0 em Santiago.

Não foi a partida mais vistosa no Estádio Monumental David Arellano, como era de se imaginar pela fase das seleções e também pelas tensões da rivalidade envolvida. O que se notou foi um jogo pegado e com uma atmosfera vibrante nas arquibancadas. Já dentro de campo, o Chile fez por merecer o resultado. O Peru foi nulo durante grande parte do tempo, sem se defender bem e sem encaixar os contra-ataques. Só no final tentou uma pressão e mesmo assim se expôs demais. Do outro lado, a Roja estava mais encaixada e também fluiu melhor no ataque. Nem sempre tratou bem a bola na hora de concluir, mas criou mais oportunidades e conseguiu os gols. De longe o melhor do time, Diego Valdés abriu o placar após escanteio, enquanto os reservas definiram a parada nos acréscimos.

Eduardo Berizzo alinhou o Chile num 4-2-3-1. O goleiro Brayan Cortés vinha protegido por uma defesa composta por Matías Catalán, Gary Medel, Guillermo Maripán e Gabriel Suazo. Victor Méndez e Erick Pulgar eram os volantes. A ligação ficava com Rodrigo Echeverría, Diego Valdés e Ben Brereton Díaz. Alexis Sánchez era o homem de referência. Já o Peru de Juan Reynoso também vinha escalado no 4-2-3-1. Pedro Gallese era o goleiro, com Aldo Corzo, Carlos Zambrano, Luis Abram e Miguel Trauco na zaga. Pedro Aquino e Yoshimar Yotún se uniam como volantes. Luis Advíncula, Christofer Gonzáles e Andy Polo atuavam como meias. Paolo Guerrero, dono da braçadeira de capitão, era o centroavante isolado.

Chile domina, mas não faz

Os primeiros minutos indicaram como o clássico teria propostas bastante distintas. O Chile tomava a iniciativa e o Peru estava mais interessado em se defender. No entanto, os chilenos levaram um tempo para conseguir superar a barreira incaica. Foram primeiros minutos mais travados na intermediária. E o técnico Eduardo Berizzo teve um problema logo de cara, com a lesão de Matías Catalán na lateral direita. Saiu aos 12 minutos, dando lugar a Paulo Díaz. A partir dos 20 minutos, a Roja passou a pressionar mais. Ganhava a batalha nas trincheiras do meio-campo e avançava. Um sinal de como a chave virava veio num gol anulado de Ben Brereton Díaz, aos 25. O atacante celebrou o tento numa rebatida, mas a bola havia passado a linha de fundo e os anfitriões ganharam apenas escanteio.

A reta final do primeiro tempo teria um grande abafa do Chile. A Roja aproveitou especialmente o corredor pelo lado direito, com muitas jogadas criadas por aquele setor, para cima de Miguel Trauco. Porém, faltava um pouco mais para os chilenos acertarem as finalizações. Os arremates não vinham limpos. Rodrigo Echeverría teve um desvio para fora, antes de Gabriel Suazo cabecear ao lado da trave. O lance mais perigoso aconteceu aos 40, numa inversão de Brereton Díaz para Diego Valdés. O meia deu uma chicotada na bola, mas Pedro Gallese fez ótima defesa no alto. Os anfitriões também tiveram duas reclamações de pênalti, mas nada a marcar. Do outro lado, o Peru era um vazio de ideias. Não tinha qualquer conexão e nem fez o goleiro Brayan Cortés trabalhar. Guerrero, no máximo, ganhou um amarelo.

Valdés faz a diferença

O Peru voltou para o segundo tempo com Marcos López no lugar de Andy Polo. Já o Chile teve outra troca por lesão, com Matías Fernández na vaga de Maripán e Paulo Díaz deslocado para a zaga. O que não se alterou foi o cenário já visto no começo da primeira etapa, com uma partida truncada, embora com mais atitude dos chilenos. Quando Valdés teve um avanço pela direita, não dificultou a defesa de Gallese. Do outro lado, os peruanos mal conseguiam invadir a área dos rivais. Não apresentavam qualquer tipo de repertório.

O Chile passou a avançar um pouco mais em campo com o passar dos minutos. Fazia uma partida sólida na marcação, mas sem qualidade na frente. Aos 16 minutos, num escanteio, Brereton Díaz apareceu na área e cabeceou para fora. Foi um ponto fora da curva, numa partida fraca tecnicamente. O Peru acionou o banco aos 23. Fez três trocas: Anderson Santamaría, André Carrillo e Wilder Cartagena eram novidades, com as saídas de Zambrano, Gonzáles e Trauco. O gás novo seria importante aos Incas, até porque a postura ofensiva dos chilenos dava espaço às costas da defesa.

O melhor lance do Peru até então aconteceu aos 25, num contra-ataque. Carrillo escapou de Medel em velocidade e saiu no mano a mano com o goleiro Cortés, que conseguiu fazer o bloqueio decisivo. O Chile, por outro lado, tentava em bolas paradas. Foi assim que conseguiu o gol, aos 29. Numa cobrança de escanteio pela esquerda, Pulgar desviou no primeiro pau e Valdés conseguiu concluir meio no susto, na coxa. Não era o gol mais bonito, mas a bola estava nas redes.

Gritos de olé no final

A última cartada do Peru vinha com Bryan Reyna no lugar de Corzo, aos 34. O Chile acionou Charles Aránguiz e Alexander Aravena, nas vagas de Brereton Díaz e Victor Méndez. Os chilenos naturalmente recuavam para proteger o resultado, enquanto os peruanos finalmente tomavam a iniciativa. E mostraram que poderiam ter feito bem mais antes. Algumas ações ofensivas dos Incas deixaram a marcação dos anfitriões no limite, embora não viessem as finalizações. Até esboçou-se o empate.

Do outro lado, contudo, o Chile ficava à espreita. Seria mais concreto em suas chances nesta reta final, até mais do que na partida inteira. Valdés tentou um chute de longe, defendido por Gallese, antes de dar lugar a Marcelino Núñez e sair muito aplaudido. Seriam quatro minutos de acréscimos. Tempo suficiente para que os chilenos matassem o jogo. Num chutão para frente, Aravena arrancou pela ponta esquerda e brigou com a marcação. O cruzamento chegou no segundo pau, onde o substituto Marcelino Núñez entrou com tudo e desviou para dentro. Resultado mais que satisfatório à Roja, com direito a gritos de “olé” da torcida no final.

O Chile consegue sua primeira vitória nas Eliminatórias, com quatro pontos. A Roja ocupa a quinta colocação na tabela e está na zona de classificação direta à Copa do Mundo. Já o Peru se vê numa situação crítica, com apenas um ponto, na modesta nona colocação. Os dois times voltam a campo na próxima terça-feira. Os chilenos tentam consolidar a ascensão na visita à Venezuela. Já os peruanos terão uma parada bem mais complicada, contra a Argentina em Lima.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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