Magia de Brasil x Argentina pode, enfim, consagrar candidatos a protagonistas da Seleção
Clássico que já foi decidido por nomes como Ronaldo e Riquelme pode consolidar Vini Júnior e Raphinha

Não vou para Buenos Aires para o jogo de terça-feira (25), que me deixa com uma certa pena. Durante um tempo fiquei orgulhosamente com um retrospecto impressionante — o de estar no estádio em todos os jogos das eliminatórias da Copa entre Brasil e Argentina.
No Morumbi em 2000 e no Monumental em 2001 — lá estava eu. Mesma coisa no Mineirão em 2004 e em Buenos Aires no ano seguinte. No Mineirão de novo em 2008, e em Rosário em 2009 — dever cumprido. Aí chegamos a Buenos Aires em novembro de 2015.
Tentei fazer a minha parte. Fui. Estava realmente dentro do estádio do River Plate. Mas não durante o jogo. Como? Explico…
Saí cedo do hotel no centro da cidade. A chuva já estava começando. Cheguei no estádio. A chuva estava apertando. Fiquei ali dentro assistindo aos outros jogos da rodada — e enquanto isso estava caindo um dilúvio. As ruas ao redor do estádio estavam todas alagadas. Não houve como. Decidiram botar o jogo para o dia seguinte.
A decisão — acertada — não funcionava para mim. No próximo dia, tinha programa de rádio para fazer na BBC, e não ia dar para transmitir durante três horas dentro do estádio depois do jogo. Ia ser expulso. Voltei, então, para o Rio. E na chegada, a primeira coisa que vi foi a notícia sobre o atentado terrorista em Paris. Logicamente, o programa foi cancelado.

Perdi à toa a experiência de ver o jogo de dentro do estádio. Ainda bem que a partida — que terminou 1 a 1 — não foi grande coisa. Perdi a minha retrospectiva perfeita também, mas levo na boa — porque tenho uma gratidão enorme pelo privilégio de ser testemunha de tantos jogos entre Brasil e Argentina.
Para mim, trata-se da melhor rivalidade no mundo das seleções.
Diferente de outros clássicos, não tem história de guerra e sangue. Em vez disso, Brasil contra Argentina é futebol no seu estado mais puro, uma disputa por supremacia entre os dois países que se orgulham com todo direito de produzir os melhores jogadores na história de nosso esporte. Sinto isso no estádio — não somente Pelé e Maradona, mas também a presença dos espíritos de Zizinho, Pedernera e tantos outros. É magia!
O melhor, claro, fica quando os jogadores em campo também sentem essa força e a transformam em inspiração.
Ronaldo, por exemplo, em 2004. Ele sabia que ia ser o jogo mais importante que ia disputar no Brasil, e estava acontecendo no seu palco, o estádio onde, uma década antes, ele tinha feito o seu nome. Aquela noite foi impossível pará-lo. O Brasil ganhou por 3 a 1. Os três gols — todos pênaltis, todos sofridos e convertidos por ele. Foi uma das melhores atuações individuais que vi.

Um ano mais tarde, no seu jeito menos explosivo e mais cerebral, foi a vez de Juan Roman Riquelme chamar o jogo para si. Com uma nova formação ultraofensiva, o Brasil ficou leve no meio-campo, dando espaço demais para Riquelme. Suicídio. O placar foi 3 a 0 antes do intervalo.
Agora os times vão se enfrentar de novo neste mesmo palco, o estádio do River Plate. Mais um capítulo de uma história maravilhosa. Estou escrevendo antes das partidas da 13ª rodada, na qual o Brasil enfrenta Colômbia e Argentina visita o Uruguai.
Então, com o pouco que vale, o meu palpite vem à distância. Mas acho que a defesa argentina vai ter problemas segurando a velocidade do ataque brasileiro. Pode ser o jogo que finalmente consagrará Vini, ou Raphinha, ou Rodrygo como um grande jogador da seleção.
Expectativa, sempre, de um grande espetáculo. Mas se for decepcionante, pelo menos não vou sentir mal porque não viajei para ver o jogo dentro do estádio.