Eliminatórias da Copa

Alexis Sánchez expõe estrutura de ‘terceira categoria’ do Chile e crise vai além do campo

'Sai excremento do ralo do chuveiro': Alexis Sánchez falou dos problemas dos estádios chilenos e a organização do campeonato local

A Seleção Chilena e o futebol local em si não vivem um grande momento. Não classificados à Copa do Mundo de 2022, a equipe agora também sofre dificuldades nas Eliminatórias para o Mundial de 2026, ocupando apenas a oitava colocação, fora até da zona de repescagem, e o técnico Eduardo Berizzo acabou de pedir demissão. O principal jogador do Chile, Alexis Sánchez, expôs que a crise no esporte do país não está apenas no nível dentro de campo, vista também nas estruturas dos principais clubes, e na forma como o campeonato local é gerido.

Durante a entrevista coletiva antes do duelo contra o Equador, o atacante da Inter de Milão detonou como é feito o Campeonato Chileno, com diversas lacunas e hiatos de semanas sem jogos, o que atrapalha o ritmo dos jogadores locais convocados. A crítica vai direto à organização da Federação Chilena de Futebol.

Precisamos entender, estudar e viver o futebol. Não aprendemos o que é futebol. Chego e há jogadores que não jogam há semanas, porque o Campeonato Nacional para. Eu não vou mudar isso. Como país, a organização não tem sido muito boa. Temos que entender e ter conhecimento de como fazer. O campeonato chileno não pode ficar parado por tanto tempo. Os jogadores dizem que é um desastre.

A fala mais pesada, que escancara como a crise no futebol chileno é profunda, é sobre as estruturas da Seleção Chilena e dos maiores clubes. Sánchez até elogiou o estádio Nacional, mas falou como o centro de treinamento do selecionado tem problemas com chuveiros. Sobre o Monumental, casa do gigante chileno Colo-Colo, o atacante revelou que saem fezes e urina dos ralos do chuveiro

Também temos problemas com os estádios, gostamos de jogar no Nacional. Com ele fomos a duas Copas do Mundo. No [Complexo Esportivo] Juan Pinto Durán [casa da Seleção Chilena] gostaria de ter um campo de verdade, ou um chuveiro. São três chuveiros que não funcionam e é preciso esperar a outra pessoa tomar banho. Uma equipe não pode trabalhar assim. No estádio Monumental [do Colo-Colo] eu estava sentado, me alongando, e nossos próprios excrementos saíram pelo ralo do chuveiro. É um estádio de terceira categoria?

O presidente da Federação Chilena, Pablo Milad, afirmou dias antes da coletiva de Alexis Sánchez que o futegbol local não atravessa um momento crítico. Questionado sobre o assunto, o jogador de 34 anos não quis entrar em polêmicas, mas cutucou ao dizer que há uma “crise de entendimento”.

– Crise é não ter dinheiro, não ter nada. Eu acho que existe. O que sim, há uma crise de entendimento, há um desconhecimento da estrutura da Seleção Nacional – completou Sánchez.

Com a demissão de Berizzo, La Roja será treinada por Nicolás Córdova, técnico das categorias de base do país, na próxima terça-feira (21), quando visitam o Equador. Mas o jovem treinador de 44 anos não deve ficar muito tempo, pois a mídia local especula que Ariel Holan, ex-Santos, será o comandante da Seleção Chilena.

Se realmente assumir, Holan terá grande desafio no selecionado que foi bicampeão da América na década passada e fez duas boas Copas do Mundo em sequência (2010 e 2014). A campanha do Chile só não é pior do que a do Peru, sem nenhuma vitória e com apenas um ponto, e da Bolívia, penúltima com quatro de pontuação. Os chilenos venceram apenas os peruanos, empataram com Colômbia e Paraguai (esta, a última partida de Berizzo) e somaram derrotas para Uruguai e Venezuela.

Com cinco pontos, La Roja está em oitavo, mas tem a mesma pontuação dos dois acima, Paraguai e Equador – o último, inclusive, iniciou as Eliminatórias com três pontos negativos.

Alexis Sánchez detonou as estruturas da Seleção Chilena (Foto: Icon Sport)

Alexis Sánchez e Medel, capitão do Chile, defenderem o demitido Berizzo

Berizzo assumiu o Chile em maio 2022 e, mesmo em pouco mais de um ano, parece ter conseguido criar boas relações e feito um bom trabalho de dia a dia – apesar de, dentro de campo, não transparecer isso pelas más atuações e resultados abaixo. Na mesma coletiva, Alexis Sánchez exaltou o período do ex-técnico, o comparou a Reinaldo Rueda (o treinador anterior) e falou como os jovens jogadores, treinados por Eduardo no vice do Panamericano, sentiram a demissão.

– Há muito tempo que não via um trabalho como este [de Eduardo Berizzo] na Seleção Nacional. Com Rueda, por exemplo, não me senti assim. É uma análise aberta. Pessoalmente, vejo um time que joga de igual para igual. Com a Colômbia fomos superiores e depois a Colômbia venceu o Brasil. Estamos quatro pontos atrás dos primeiros.

– Os jovens jogadores ficaram tristes [com a demissão do técnico], muitos estrearam com Berizzo. Disputaram os Jogos Pan-Americanos com uma ideia de jogo bem definida. Faz um tempo que não acontece. Mas isto é futebol. A comissão técnica foi séria até o último dia – exaltou Sánchez.

O “pitbull” e capitão Gary Medel foi mais firme nas declarações e mandou recado aqueles que não tiveram paciência com Berizzo. O jogador do Vasco detalhou como o técnico ajudou no processo de renovação e até tirou dinheiro do próprio bolso para reformar o complexo esportivo da seleção.

– É um momento difícil. É uma grande perda, porque o Toto trabalha bem. O professor foi maltratado. Estamos vivenciando um processo de renovação e teremos que aguardar um pouco. Eles não o deixaram trabalhar em paz. As pessoas não respeitam os processos. Eduardo sai triste, pois criou um bom clima no vestiário. Renovou o complexo Pinto Durán com dinheiro do bolso, espero que dê frutos – elogiou Medel.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius é nascido e criado em São Paulo e jornalista formado pela Universidade Paulista (UNIP). Escreveu sobre futebol nacional e internacional no Yahoo e na Premier League Brasil, além de esports no The Clutch. Como assessor de imprensa, atuou no setor público e privado.
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