A Alemanha sofre outro golpe com a primeira derrota nas Eliminatórias em 20 anos, mas a Macedônia do Norte tem muitos méritos

A Macedônia do Norte conquistou a vitória mais importante de sua história nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Os macedônios, afinal, foram capazes de derrotar a Alemanha em Duisburg – encerrando uma invencibilidade de 20 anos da Mannschaft na competição. E não foi um resultado ao acaso, com uma excelente atuação dos visitantes. Os alemães, de fato, controlaram o ritmo do jogo e pecaram na definição dos lances. No entanto, a Macedônia do Norte mereceu a vitória com ataques muito bem construídos e qualidade no trato com a bola. O triunfo por 2 a 1 deixa os macedônios na zona da repescagem do Grupo J, enquanto nem isso os germânicos pegariam neste momento.
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Joachim Löw segue tateando sua escalação e voltou a repetir o esquema com três defensores mais fixos, além de Robin Gosens escapando na lateral esquerda. Leroy Sané tinha liberdade pela ala direita, tentando criar jogadas para Serge Gnabry e Kai Havertz, mais soltos à frente. Já no meio, uma trinca de respeito com Joshua Kimmich, Leon Goretzka e Ilkay Gündogan. A tentativa de mobilidade resultou em bagunça. No gol, Marc-André ter Stegen ganhou uma chance no lugar de Manuel Neuer.
A Alemanha dominava a posse de bola desde os primeiros minutos, mas encontrava dificuldades na definição. Goretzka até carimbou o travessão aos nove minutos, mas faltava ao Nationalelf ser mais contundente, rodando muito a bola e pouco resolvendo – com direito a uma bola isolada por Gnabry, de frente para o gol. A Macedônia do Norte se defendia, mas trabalhava bem em suas recuperações e passou a acreditar na vitória pouco antes do intervalo. Numa cobrança de falta fechada, Stegen já realizou uma grande defesa. O primeiro gol macedônio saiu nos acréscimos, numa bola ganha no meio, gerando uma construção que desmontou a defesa alemã. Os passes foram muito bem encadeados, até Enis Bardhi cruzar para o interminável Goran Pandev marcar.
A Alemanha voltou ao segundo tempo precisando pressionar, mas ainda era muito especulativa. Joachim Löw promoveu duas mudanças aos 11 minutos, com Timo Werner e Amin Younes nos lugares de Robin Gosens e Kai Havertz. A Mannschaft assumia uma postura mais agressiva e conseguiu o empate aos 18. Sané cavou um pênalti, que Gündogan converteu. O jogo se tornou bem mais aberto, com o Nationalelf rondando a área e buscando a virada, mas também bons avanços da Macedônia do Norte nos contragolpes, sem se abater com o placar.
A Macedônia do Norte ganhava escanteios e buscava a chance do segundo. Teve até mesmo um pênalti que a arbitragem não deu, num toque no braço de Emre Can que merecia pelo menos a revisão no monitor se houvesse o VAR. Enquanto isso, a Alemanha oscilava em sua pressão e desperdiçou uma chance absurda aos 35 com Timo Werner, que furou a bola quando o gol estava escancarado à sua frente. O erro custou caro, com o gol da vitória da Macedônia do Norte aos 40. Em mais uma boa trama, Arijan Ademi serviu e Eljif Elmas mandou para as redes. Depois disso, os alemães não conseguiriam reagir e a entrada tardia de Jamal Musiala pouco adiantou.
A vitória da Macedônia do Norte não é um ponto fora da curva. O crescimento da seleção estava expresso nos últimos anos, sobretudo com a classificação inédita à Eurocopa, com ajuda do atalho proporcionado pela Liga das Nações. A equipe pode não ter vencido um adversário “peso pesado” na caminhada, mas vinha de resultados consistentes e derrotas isoladas. O triunfo contra os alemães é essa façanha para referendar a história escrita recentemente e aumentar as expectativas para a Euro 2020. Em toda a história das Eliminatórias, a Macedônia já tinha empatado com Itália e Holanda / Países Baixos, mas essa foi a primeira vitória diante de um campeão mundial.
Goran Pandev foi o grande protagonista da classificação à Euro e, aos 37 anos, exerce uma liderança fundamental à Macedônia do Norte. Ainda assim, o time conta com outros tantos valores, muitos deles disputando as principais ligas da Europa e até mesmo a Champions. Em Duisburg, o técnico Igor Angelovski escalou jogadores como Ezgjan Alioski (Leeds United), Enis Bardhi (Levante), Eljif Elmas (Napoli) e Arijan Ademi (Dinamo Zagreb). Todos com projeção e com talento para elevar o resultado dos macedônios. A melhora da equipe não é isolada.
Enquanto isso, a Alemanha deixa a Data Fifa sem motivos para comemorar. O time venceu bem a Islândia e depois conseguiu o triunfo magro contra a Romênia. Porém, Joachim Löw pareceu ter certas dificuldades para montar a equipe e fez apostas que não funcionaram. As dúvidas sobre o potencial voltam a aparecer rumo à Eurocopa, especialmente pela fragilidade da defesa e pela falta de firmeza no ataque. Se o clima parecia mais leve desde o anúncio da saída do treinador após a Euro 2020, uma névoa volta a pairar. Perder nas Eliminatórias, afinal, não é algo que acontece sempre à Mannschaft – eram 20 anos sem sentir o gosto amargo. O último revés tinha sido o histórico 5 a 1 da Inglaterra em 2001, no Estádio Olímpico de Munique.
Pior, a Alemanha sequer aparece na zona de classificação à Copa no Grupo J. A Armênia é a surpreendente líder, com nove pontos, mas ainda sem enfrentar os cabeças de chave. Macedônia do Norte e Alemanha têm seis pontos, com vantagem aos balcânicos no saldo de gols. Enquanto isso, Romênia e Islândia somam três pontos, com Liechtenstein zerado na lanterna. Löw ainda terá mais uma chance na Eurocopa. Mas, pelo menos nas Eliminatórias, seu sucessor não chegará na situação mais cômoda.