Na eterna dicotomia do torcedor, o Rio de Janeiro vive seu sonho de Copa… e o dos visitantes também

Fábio Balassiano é jornalista, tijucano e vai aos jogos do Fluminense até contra Olaria, Madureira e América no Carioca. É o responsável pelo blog de basquete Bala na Cesta
Se a Copa do Mundo fosse uma pós-graduação em Gerenciamento de Projetos, o Brasil seria reprovado por tudo o que ocorreu antes do torneio. Ninguém ficou surpreso com todos os problemas orçamentários e de planejamento em uma nação com outras prioridades. Principalmente pelo Padrão Fifa de se organizar a competição.
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Mas a Copa não é um curso. É um evento que coloca quem gosta de esporte nessa dicotomia entre amar a modalidade e conviver com as coisas não tão certas assim. Acontece isso com os milhões russos do Chelsea e do Brooklyn Nets, com o patrocínio azerbaijano do Atlético de Madrid. Por isso minha decisão foi: vou a todos os jogos que conseguir ingresso. Por isso, não seria inteligente ignorar a Copa do Mundo por motivos filosóficos.
E assim tem sido a Copa do Mundo no Rio de Janeiro. Há problemas, há as matérias em que se tira a nota vermelha na pós-graduação. Há MUITA briga dentro do Maraca. As câmeras da transmissão não mostram, mas no mundo maravilhoso dos celulares com câmeras, elas acabam aparecendo em algum lugar. Nem que seja o YouTube. Muita gente acima do tom já foi “convidada a se retirar” pela segurança. Aqui um exemplo do que houve na saída do jogo entre colombianos e uruguaios neste sábado.
Esse é o problema dentro do estádio. Fora dele, a cidade teve problema para absorver a demanda. O prefeito Eduardo Paes havia decretado feriado parcial em dias de jogos. Como o primeiro, Argentina x Bósnia, foi em um domingo, tudo normal. O segundo, entre Espanha x Chile, caiu em um dia de semana e o trânsito da cidade deu um nó. Realmente um caos. Aí a prefeitura apelou. Em dia de partida da Copa do Mundo no Rio de Janeiro, feriado o dia inteiro. Se a festa já estava grande (nas Fan Fests, nos bares, nas praias, em todo lugar) com meio período de trabalho, imagina com feriado o dia inteiro por causa de um jogo de futebol…
Aí mostra o lado bom da Copa, a dicotomia do torcedor que engole os problemas em nome de sua paixão. O Rio de Janeiro tem recebido bem seus turistas – e não são poucos por aqui. É impossível sair na rua e não ver um turista com mapa na mão.
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Um grupo de colombianos que ia buscar ingressos na sede do Botafogo destacava isso. Uma menina disse entusiasticamente: “Estamos vivendo um sonho aqui no Brasil. Nossa seleção está jogando muito bem, a Copa está sendo perto da nossa casa e aqui as pessoas são muito simpáticas. Viajamos para a Copa de 1998 e a diferença é absurda”. Tudo bem que querer comparar a simpatia do carioca, ou do brasileiro, com a do francês é dose, mas me chamou a atenção a declaração da menina da terra do James Rodríguez.
O clima na cidade é esse mesmo. Muito turista, muita festa e todo mundo animado com a Copa do Mundo. Demorou a “pegar” o clima de Copa por tudo o que vimos antes do Mundial (com os problemas de superfaturamento, declarações estapafúrdias de políticos e muito mais), mas desde o dia 12 de junho o Rio de Janeiro entendeu bem o que está se passando por aqui.
Não sei bem se pelo evento em si, se pela quantidade de estrangeiros na cidade, o que dá um molho todo especial ao dia-a-dia do Rio de Janeiro, se pelos feriados decretados pelo prefeito ou se pelas grandes partidas que temos visto, mas neste sábado no Maracanã alguns torcedores já levaram uma faixa: “Brasil, sede da Copa do Mundo de 2026”.