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Como foram as outras quatro vezes em que Messi tentou conquistar a Copa do Mundo

Garoto em 2006, treinado por Maradona em 2010, vice-campeão em 2014 e eliminado nas oitavas de final após se aposentar brevemente da seleção em 2016: a história de Messi na Copa do Mundo é cheia de altos e baixos

A última dança. Tudo indica que esta será a última oportunidade de Lionel Messi conquistar o título que lhe falta. Aos 35 anos, faz a sua melhor Copa do Mundo e ajudou a seleção argentina a chegar à decisão contra a França no próximo domingo, em sua quinta participação no Mundial. Foi uma caminhada cheia de altos e baixos, não apenas no Catar. De jovem revelação na Alemanha, foi muitas vezes engolido pela bagunça da Federação Argentina, que deu as chaves do cofre para Diego Maradona em 2010 e conduziu um ciclo muito conturbado para a Rússia, onde Messi teve sua pior exibição mundialista. Quando teve um time minimamente organizado, foi vice-campeão no Brasil – perdendo uma chance clara na decisão contra a Alemanha no Maracanã. Entramos em detalhes sobre as quatro participações do craque que buscará a imortalidade na Copa do Mundo daqui a dois dias.

Alemanha-2006: 3 jogos, um gol, uma assistência, quartas de final

Messi contra a Sérvia em 2006 (Foto: DANIEL GARCIA/AFP via Getty Images/One Football)

Era natural que a estreia de Lionel Messi na seleção viesse com José Pékerman. Pékerman, atualmente comandante da Venezuela, tinha um histórico importante nas categorias de base da Argentina, com três títulos do Mundial sub-20 antes de assumir o cargo de Marcelo Bielsa, em 2004. Outro foi conquistado no ano seguinte, com Messi artilheiro e Bola de Ouro. Também para impedir que a Espanha se engraçasse e tentasse aliciá-lo, Pékerman promoveu a primeira partida do garoto de 18 anos em agosto de 2005, em amistoso contra a Hungria, treinada por Lotthar Matthäus, cujo recorde de jogos de Copa do Mundo ele baterá no próximo domingo. A história é conhecida: Messi ficou dois minutos em campo antes de ser expulso por uma suposta cotovelada em um adversário que tentava puxar sua camisa.

Messi fez mais seis jogos pela Argentina antes de ser convocado para a Copa do Mundo da Alemanha, realizada ao fim da temporada em que ele foi integrado ao time principal do Barcelona. Não chegou nas melhores condições físicas. Uma lesão muscular no segundo jogo contra o Chelsea nas oitavas de final da Champions League o fez perder os últimos dois meses. Existia uma possibilidade mínima que jogasse a decisão europeia contra o Arsenal, mas os médicos também alertavam que isso poderia colocar seu Mundial em risco. Acabou ficando fora da vitória por 2 a 1 no Stade de France, com aquele gol de Belletti.

Ele havia feito apenas um jogo como titular da Argentina antes do Mundial. Era um garoto e estava voltando de lesão. Não pode ter sido uma surpresa que começou a campanha no banco de reservas contra a Costa do Marfim. Pékerman armava seu time com Javier Mascherano de primeiro volante, Esteban Cambiasso e Maxi Rodríguez saindo pelos lados e liberdade para Riquelme atrás de dois atacantes, Javier Saviola e Hernán Crespo, autores dos gols da vitória por 2 a 1 sobre o time de Kolo Touré, Yaya Touré e Didier Drogba. Messi estrearia em Copas do Mundo na partida seguinte, na segunda rodada, contra Sérvia e Montenegro.

Aquela vitória por 6 a 0 ficou famosa pelo golaço marcado por Cambiasso, após a Argentina trocar 26 passes. Uma atuação imponente que reforçou o status de favorita do time de Pékerman e também entra para a história como o baile de debutante de Messi. Entrou aos 29 minutos do segundo tempo no lugar de Maxi Rodríguez. A torcida balançou uma bandeira com seu rosto e a transmissão encontrou Diego Maradona comemorando nas tribunas. Em quatro minutos, recebeu o passe de Riquelme pela esquerda, em cobrança de falta rápida, invadiu a área e cruzou rasteiro para Crespo fazer o quarto gol na segunda trave. Depois de uma pintura de Tevez, fechou a goleada com um chute rasteiro de perna direita.

Após duas vitórias importantes, e com a classificação assegurada, Pékerman rodou um pouco o seu elenco para o confronto final contra a Holanda. Messi e Tevez foram titulares no ataque. O zero não saiu do placar, e a Argentina avançou em primeiro lugar no saldo de gols. Messi deu um passe perfeito entre a defesa para Cambiasso, que foi desarmado no último segundo por um carrinho de Boulahrouz, e outro, de três dedos, na direita para a projeção de Maxi Rodríguez, que bateu para fora. O camisa 19 arriscou de média distância, sem problema para Edwin van der Sar e foi substituído aos 25 minutos do segundo tempo por Julio Cruz.

Retornou à reserva para as oitavas de final contra o México, o único jogo do lateral direito Lionel Scaloni na Alemanha. Nicolás Burdisso havia sido titular até se machucar contra a Holanda e ser substituído por Fabricio Coloccini, que voltaria à escalação na fase seguinte. Messi foi introduzido por Pékerman a seis minutos do fim do tempo regulamentar e quase se tornou o grande herói da classificação. Aos 47, Riquelme deu um passe maravilhoso para Pablo Aimar, que parecia na mesma linha do último homem mexicano e rolou para Messi completar ao gol vazio. O bandeirinha, porém, anotou impedimento de Aimar, anulou o gol e veio a prorrogação, decidida por um golaço absurdo de Maxi Rodríguez, que matou no peito e soltou o chute de perna esquerda do bico da grande área sem deixar a bola cair.

Ali terminou a Copa de Messi, e os argentinos se perguntaram por que ele não entrou contra a Alemanha nas quartas de final. Não fui a única decisão curiosa de Pékerman. Riquelme, que até então havia jogado praticamente todos os minutos do Mundial, foi substituído aos 27 minutos do segundo tempo por Cambiasso. A Alemanha empatou minutos depois. A última troca foi a entrada de Julio Cruz no lugar de Crespo. Não houve gol na prorrogação, e erros de Roberto Ayala e Cambiasso na disputa de pênaltis acabaram eliminando os sul-americanos.

Na época e anos depois, Pékerman explicou que preferiu Cruz porque ele dava “algo chave” naqueles minutos, um pouco mais de faro de artilheiro. Contou também, em entrevista à TNT Sports, que avisou Messi que ele teria um papel reduzido na Alemanha. “Eu disse para ele: ‘eu sei do que você é capaz nesta Copa do Mundo, você será o melhor jogador do mundo, eu vejo isso, mas esta Copa não será sua ainda. Você jogará cada minuto que puder dependendo da situação dos jogos. Mas servirá para você ouvir, aprender. O vestiário argentino é fundamental”, afirmou.

Quem também defendeu a decisão de Pékerman foi Scaloni. Ele lembrou que a Argentina havia queimado uma substituição com a lesão de Abbondanzieri, pouco antes da saída de Riquelme, e que o técnico não queria perder altura contra o time alemão. “Crespo era nosso cara da primeira trave em escanteios. Tirá-lo e colocar alguém baixo como Messi… como treinador, você toma essa decisão, mas espera que a partida siga 1 a 0 para você (a troca aconteceu dois minutos antes do gol de empate, marcar por Klose). A partida teria que terminar no tempo regulamentar. Tirar o Crespo e colocar o Cruz era a decisão elas por elas, um cara alto por outro para ajudar a defender”, disse o atual comandante argentino em 2020.

“Terminamos o jogo com a sensação de que, se tivéssemos Messi descansado na prorrogação, a história seria outra. Mas é só uma sensação. A decisão tem que ser tomada na hora e era a mais acertada naquele momento. Sinceramente, se me pergunto o que eu faria se estivesse no lugar de Pékerman? A mesma coisa”, encerrou.

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África do Sul-2010: 5 jogos, zero gols, uma assistência, quartas de final

Messi e Maradona (Foto: GABRIEL BOUYS/AFP via Getty Images/One Football)

A Argentina teve uma longa lista de candidatos a novo Maradona, e em 2010 estava começando a ficar claro que Messi era o que tinha a melhor chance de chegar lá. Do ponto de vista histórico, a união entre ambos para a Copa do Mundo da África do Sul foi um momento relevante. Imagina se ele conquista o título com o ídolo como técnico? O problema é que a inépcia de Maradona no banco de reservas diminuiu drasticamente a probabilidade de isso acontecer, e a campanha terminou com uma retumbante derrota para a Alemanha nas quartas de final.

Maradona usou praticamente a mesma formação de Pékerman, com três meias dando sustentação para o enganche. Havia algumas mudanças sensíveis, porém. Primeiro que Messi não jogaria com liberdade no ataque, mas como esse camisa 10, no lugar de Riquelme. Em quatro partidas, o meia pela esquerda foi Di María, na época um jovem ponta bastante ofensivo. Maxi Rodríguez ou Verón fechavam pela direita, com Javier Mascherano praticamente carregando dois pianos nas costas.

A linha defensiva estava pior também, sem Sorín e Ayala. Heinze virou lateral esquerdo. Em vez de manter Nicolás Burdisso na outra lateral, onde ele começou o Mundial de 2006 como titular, Maradona preferiu Otamendi, ainda um moleque do Vélez Sarsfield, que nunca mais teria uma sequência longe da zaga. Demichelis fechou o miolo com Burdisso, formando um time bastante exposto defensivamente, que teria que depender da qualidade individual dos seus jogadores e da capacidade de motivação de Maradona na linha lateral.

Maradona não era técnico de futebol. Havia tido duas rápidas experiências nos anos noventa. Nem tinha o perfil, conhecido e amado pelo seu comportamento errático, por ser um especialista em destruir sistemas táticos, não em montá-los. Ele nem escondia essa parte: “Aos que dizem que não tenho experiência, eu digo que táticas são relativas porque o importante é ter bons jogadores”. Alfio Basile foi demitido em 2008. Maradona havia superado problemas graves de saúde. Parecia saudável e disposto a assumir o cargo, o que foi o bastante para Julio Grondona.

Maradona estreou em novembro de 2008, vencendo a Escócia em amistoso. Emendou um 2 a 0 sobre a França, mas depois de golear a Venezuela pelas Eliminatórias Sul-Americanas, levou um ressonante 6 a 1 da Bolívia em La Paz. Foi o início de uma sequência de quatro derrotas em cinco rodadas do torneio que colocou a classificação da Argentina sob risco. No entanto, vitórias sobre Peru e Uruguai garantiram a vaga, a última direta da América do Sul. Derrota para os uruguaios no confronto direto no último jogo teria jogado os argentinos à repescagem. Ao selar a classificação, Maradona respondeu aos críticos no gramado do Centenário de Montevidéu com um “que chupem e sigam chupando” que lhe rendeu dois meses de suspensão.

Lionel Messi era uma promessa explosiva em 2006, e a bomba havia sido detonada quando chegou o torneio sul-africano. Ele deu um salto absurdo de rendimento na temporada 2008/09, sob o comando de Pep Guardiola, quando ajudou o Barcelona a conquistar a Tríplice Coroa. Antes de estrear contra a Nigéria, havia acabado de terminar o segundo de muitos anos com números ridículos que viriam pela frente, marcando 47 gols em 53 jogos pelos catalães em todas as competições. Havia acabado de ser eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa pela primeira vez e também recebera sua primeira Bola de Ouro.

Maradona conseguiu um feito: Messi como camisa 10, no centro do seu sistema ofensivo, não fez um gol e deu apenas uma assistência em cinco jogos completos na Copa do Mundo. É verdade que Higuaín perdeu um gol na cara Vincent Enyeama no começo da primeira rodada contra a Nigéria, após Messi driblar metade do time africano pela meia esquerda. O então goleiro do Hapoel Tel Aviv também fez três grandes defesas para frustrar o craque, duas delas incríveis de mãos trocadas em chutes da entrada da área e outra saindo do gol na hora certa para abafar a finalização de Messi.

Se a Argentina não convencia coletivamente, os resultados não chegaram a ser um problema. Abriu a campanha vencendo a Nigéria e emendou uma goleada por 4 a 1 sobre a Coreia do Sul. O primeiro gol foi quase uma assistência de Messi porque ele cobrou a falta da esquerda que bateu em Park Chu-young antes de abrir o placar, aos 16 minutos. Higuaín ampliou de cabeça, mas um erro de Demichelís na entrada da área permitiu que Lee Chung-yong descontasse. Os sul-coreanos ficaram próximos do empate, e apenas aos 30 minutos a Argentina resolveu a parada. Messi arrancou pela esquerda e bateu rasteiro. Jung Sung-ryong defendeu com os pés. Messi emendou o rebote na trave, e Higuaín completou ao gol vazio. O centroavante faria o quarto, completando um cruzamento de Agüero que foi gerado por uma bonita cavadinha de Messi.

Confortável, com seis pontos, Maradona descansou Javier Mascherano, Higuaín, Carlos Tevez e outros para a terceira rodada contra a Grécia, mas não Messi, que novamente jogou os 90 minutos e pela primeira vez na carreira usou a braçadeira de capitão da seleção argentina. E se é verdade que as táticas de Maradona não ajudaram, os goleiros também estavam de sacanagem com Messi. Alexandros Tzorvas fez uma linda defesa no primeiro tempo. Messi também carimbou a trave, após lindo drible sobre Vangelis Moras. A Argentina fechou a vitória por 2 a 0 e a campanha na fase de grupos com gol de Martín Palermo, no rebote de uma bomba de Messi.

Nas oitavas de final, começou os trabalhos lançando Tevez entre os zagueiros. O goleiro Oscar Pérez saiu para abafar, o rebote voltou a Messi, que deu um toquinho por cima que Tevez completou de cabeça. Higuaín aproveitou um erro de Ricardo Osório na entrada da área para ampliar, pouco depois, e Tevez abriu 3 a 0 em um jogo de mata-mata curiosamente tranquilo com uma bomba de fora da área. A Argentina estava entre os oito melhores. Ainda não havia encarado um grande adversário, porém, e seria testada contra a Alemanha, que havia goleado a Inglaterra de Fabio Capello para chegar às quartas de final.

Maradona usou sua escalação habitual, com Javier Mascherano, Maxi Rodríguez e Di María dando sustentação a Messi no meio-campo. Logo aos dois minutos, Schweinsteiger cobrou falta da esquerda para Thomas Müller desviar de cabeça. A Argentina criou pouco em sua tentativa de voltar ao jogo. Manuel Neuer fez defesas relativamente fáceis, Messi tentou algumas jogadas pelo meio e pela direita, e Higuaín teve um gol anulado. A chance mais clara acabou sendo desperdiçada por Miroslav Klose, mandando por cima do travessão, e o primeiro tempo terminou com Messi errando um chute de fora da área.

A Argentina continuou insistindo, sem sucesso, até a sua defesa entrar em colapso. Começou com um passe deitado de Müller para deixar Podolski completamente livre pela esquerda. Ele cruzou à boca do gol, onde Klose dominou e mandou para as redes vazias. Aos 28 minutos, Schweinsteiger fez um carnaval pelo lado esquerdo da defesa sul-americana e rolou para Arne Friedrich marcar o terceiro. Em contra-ataque, Mesut Özil cruzou da esquerda para Klose fechar o caixão e encerrar a experiência de Maradona como técnico da Argentina. E a primeira chance de Messi conquistar a Copa do Mundo como líder da seleção.

Brasil-2014: 7 jogos, quatro gols, uma assistência, vice-campeão

Messi subindo às tribunas do Maracanã em 2014 (Foto: Martin Rose/Getty Images/One Football)

Se era o melhor do mundo na África do Sul, Messi chegou ao Brasil com status de lenda. Ao longo do ciclo, fez temporadas de 53, 73, 60 e 41 gols, a pior delas imediatamente antes da Copa do Mundo, sob o comando do seu compatriota Gerardo Martino. Conquistou mais uma Champions League com Guardiola e também deixou escapar mais uma chance de título, na Copa América de 2011, sediada na Argentina. Foi um torneio em que se bateu bastante no contraste entre Tevez, que seria mais identificado com o povo argentino, e Messi, que deixou o país tão cedo. A equipe anfitriã perdeu nas quartas de final para o Uruguaio. O técnico Sergio Batista, com o qual Messi havia conquistado a medalha de ouro em Pequim, foi trocado por Alejandro Sabella, campeão da Libertadores com o Estudiantes.

Sabella fez um trabalho correto à frente da seleção argentina, líder das Eliminatórias Sul-Americanas, que não tiveram o país-sede Brasil, dando a impressão que Messi precisava apenas de um mínimo de organização para ter uma chance de conquistar a Copa do Mundo. Foi o que Sabella proporcionou. A defesa não tinha grandes nomes. A Argentina chegou à final com Pablo Zabaleta, Marcos Rojo, Martín Demichelis e Ezequiel Garay, às vezes Federico Fernández, à frente de Sergio Romero. Mas era um sistema bem montado, que tinha a proteção de Javier Mascherano no meio-campo como grande destaque. Ele era criticado na época pelas suas atuações como zagueiro pelo Barcelona, mas mostrou o que sabia fazer como volante durante o torneio.

Mascherano teve a companhia de Lucas Biglia ou Fernando Gago, com Ángel di María fazendo a ligação entre o meio e o ataque. Messi começou a Copa do Mundo novamente como camisa 10, atrás de uma dupla de atacantes formada por Agüero e Higuaín. Com o decorrer do torneio, a Argentina foi se transformando mais em um 4-2-3-1, com a entrada de Lavezzi pelas pontas, e depois da lesão de Di María, teve Enzo Pérez fechando um pouco mais o meio. Antes do Catar, foi facilmente a melhor Copa do Mundo de Messi, até controversamente eleito o Bola de Ouro, após a derrota para a Alemanha na final do Maracanã. Tevez, que perdeu o pênalti decisivo na Copa América de 2011, não foi convocado nenhuma vez por Sabella e ficou fora do Mundial, apesar da grande fase pela Juventus.

A Argentina abriu os trabalhos no Maracanã contra a Bósnia e não poderia ter pedido um começo melhor. Logo aos dois minutos, Messi jogou uma cobrança de falta na área. Rojo desviou de cabeça, a bola pegou em Kolasinac e passou por Asmir Begovic. Não foi um grande jogo dos sul-americanos. Sergio Romero fez boa defesa em uma cabeçada firme de Lulic para manter a vantagem. Apenas aos 20 minutos do segundo tempo a vitória foi confirmada com o primeiro gol de Messi em Copas do Mundo desde aquele jogo contra Sérvia e Montenegro, oito anos atrás. Messi começou a jogada no meio-campo, soltou para Higuaín e recebeu de volta. Saiu driblando da direita para o meio, fez dois bósnios trombarem na entrada da área e bateu rasteiro no canto. A bola ainda pegou caprichosamente na trave antes de cruzar a linha. A Bósnia descontou como Ibisevic, mas a Argentina saiu vencendo por 2 a 1.

Treinado pelo técnico português Carlos Queiroz, especialista em armar ferrolhos defensivos, o Irã fez jogo muito duro contra a Argentina em Belo Horizonte. Uma partida fraca da Argentina e do seu craque, por mais que o goleiro Alireza Haghighi tenha feito algumas boas defesas e Rojo e Garay tenham assustado na bola aérea. O Irã assustou pouco, mas, quando o fez, quase causou aquela zebra, com Romero defendendo a cabeçada de Ghoochannejhad e depois, na reta final, um chute de perna esquerda do atacante em contra-ataque. Tudo caminhava para um decepcionante empate por 0 a 0. Até Messi encontrar o caminho. Aos 46 minutos do segundo tempo, acertou aquele seu chute colocado de perna esquerda e garantiu a classificação argentina com um golaço.

Na terceira rodada, haveria um reencontro com Enyeama, o goleiro que o havia frustrado na África do Sul. A defesa da Argentina ainda não havia se encaixado. A Argentina teve o poder decisivo de Messi, que encheu o pé no rebote de um chute de Di María na trave para abrir o placar em Porto Alegre, logo aos três minutos. A Nigéria, porém, empatou imediatamente, com uma bela finalização de Ahmed Musa, pegando a defesa sul-americana espaçada na transição. Enyeama começou a ser chato novamente ao defender uma cobrança de falta de Messi, mas, na segunda, foi vazado na bola parada do craque, pouco antes do intervalo. A Nigéria voltou a empatar, com Musa infiltrando no meio da linha defensiva, e Rojo fez o gol da vitória por 3 a 2 completando um cruzamento de escanteio.

Messi chegou às oitavas de final fazendo sua melhor Copa do Mundo. A mais decisiva. As três vitórias haviam passado pelos seus pés, em parte salvando as partidas fracas da Argentina. Ele teria que aparecer mais uma vez nas oitavas de final. A Suíça de Shaqiri, Xhaka, Seferovic e Ricardo Rodríguez, que faria barulho no futebol internacional anos depois, conseguiu segurar a partida por muito tempo, mesmo sem aquela excelência defensiva de 2010, quando travou a Espanha na estreia. A Argentina foi melhor, dominou a bola e criou chances, sem conseguir superar a boa partida de Diego Benaglio. O drama dos pênaltis parecia inevitável, até que Messi arrancou pelo meio, escapou do carrinho de Schär e rolou para Di María completar com um chute colocado. A Suíça ainda ficou próxima de empatar, com uma bola na trave de Dzemaili e uma falta perigosa para Shaqiri na entrada da área, no último minuto. Ele mandou na barreira.

Nas quartas de final, a transformação da Argentina estava mais clara. Estava muito melhor na defesa e começava a produzir destaques, como Marcos Rojo, Ezequiel Garay e Javier Mascherano, mas o ataque não estava fluindo. Foi mais ou menos a história contra a Bélgica, que contava com sua famosa geração ainda muito jovem. Romelu Lukaku e Kevin de Bruyne ainda não haviam explodido, embora Eden Hazard já fosse um craque da Premier League. Foi um jogo de paciência e controle, no qual os argentinos usaram a sua experiência para vencer, com um gol de Higuaín, aos oito minutos. Jan Vertonghen desviou um passe de Di María, a bola sobrou para o centroavante emendar da entrada da área. Higuaín quase fez um golaço, mas parou na trave, e Messi teve a chance de matar o jogo em contra-ataque, frustrado por Courtois. A Bélgica teve chances de empatar, quando foi com tudo para cima no final. A Argentina se segurou e retornou a São Paulo para enfrentar a Holanda na semifinal.

Louis van Gaal não quis nem saber: travou tudo. Conseguiu armar um esquema defensivo que parou Lionel Messi. Depois de uma semifinal com oito gols (quase todos de um time só) entre Alemanha e Brasil, o jogo no Itaquerão não foi o mais agradável de se assistir, embora primasse pela tensão e pelo nervosismo. Messi teve uma oportunidade em cobrança de falta, depois na prorrogação fez boa jogada para a finalização ruim de Maxi Rodríguez. Após o 0 a 0, Sergio Romero brilhou nos pênaltis, como havia feito Sergio Goycochea 24 anos antes, para colocar a Argentina na final da Copa do Mundo. Em seu terceiro Mundial, o segundo como líder da seleção, Messi teria a oportunidade de igualar Maradona e levantar o troféu.

Não foi o que aconteceu, e em parte por suas deficiências. A Argentina teve as melhores chances, e Higuaín ficou marcado por desperdiçar uma delas, cara a cara com Manuel Neuer. Messi também teve a sua. Logo no começo do segundo tempo, entrou pela esquerda e bateu cruzado, com a sua mágica canhota. A bola saiu demais, passou no lado errado da trave. A Alemanha foi ficando mais perigosa até o gol marcante de Mario Götze na prorrogação. Messi teve uma última tentativa desesperada em cobrança de falta de muito longe, com o relógio chegando ao fim. Apenas isolou, e a Argentina ficou com o vice-campeonato no Maracanã.

Rússia-2018: 4 jogos, um gol, duas assistências, oitavas de final

Messi, em 2018 (Foto: LUIS ACOSTA/AFP via Getty Images/One Football)

“Me dói não ser campeão com a Argentina. Eu tentei muito, é incrível, mas não deu. Acabou para mim a seleção”. As palavras de Lionel Messi caíram como uma bomba depois da segunda derrota para o Chile na final da Copa América. Foram três vice-campeonatos consecutivos, contando a decisão da Copa do Mundo, em meio a uma bagunça generalizada da Federação Argentina, que perdeu a mão de aço de Julio Grondona e entrou em caos. Messi anunciou sua aposentadoria precoce da seleção depois de fazer muitas críticas aos dirigentes, cobrando que o time nacional tivesse um “mínimo”, como viajar bem, descansar e se preparar adequadamente.

Sabella deixou a seleção argentina depois do Mundial de 2014 e foi substituído por Tata Martino, que havia treinado Messi no Barcelona e conseguiu duas finais de Copa América. Ele foi trocado por Edgardo Bauza depois da segunda. A escolha por um técnico de recursos limitados não foi a decisão mais inspirada da AFA, mas pelo menos ele conseguiu convencer Messi a desistir da aposentadoria. O craque não perdeu nenhum jogo no fim e estava em campo menos de três meses depois para decidir uma vitória sobre o Uruguai pelas Eliminatórias Sul-Americanas.

Toda essa trajetória serviu a um propósito: a dor explícita no rosto de Messi nas três finais consecutivas que foram perdidas e a angústia tão profunda que o levou a uma decisão intempestiva finalmente convenceram o grosso da opinião pública da Argentina que ele era, sim, tão comprometido com a seleção quanto qualquer outro jogador argentino. Quem acredita na trajetória do herói também poderia imaginar que, depois de bater no fundo do poço, a redenção na Copa do Mundo da Rússia seria óbvia, até porque, finalmente a seleção seria treinada por um técnico de alta qualidade.

Bauza não durou muito tempo. A Argentina foi buscar Jorge Sampaoli, que parecia o nome ideal. Fazia bom trabalho no Sevilla, era reconhecido como um dos grandes técnicos argentinos e tinha experiência no futebol de seleções pela ótima passagem à frente do Chile. Estreou ganhando um amistoso contra o Brasil, mas uma sequência de empates obrigou Messi a garantir a classificação à Rússia com uma atuação histórica contra o Equador em Quito. Fez todos os gols da vitória por 3 a 1. Aos trancos e barrancos, a Argentina estava na Copa do Mundo. Tinha um craque que seguia fazendo meia centena de gols por ano pelo Barcelona e esperava que o trabalho de Sampaoli se desenvolvesse o bastante para lhe dar uma plataforma.

Todos sabemos o quão longe isso ficou de acontecer. Uma derrota por 6 a 1 para a Espanha, sem Messi, em março de 2018, talvez tenha sido um sinal. A Copa do Mundo da Argentina foi um desastre, com rumores de um motim de jogadores que foi alimentado por imagens de Javier Mascherano aparentemente ajudando Sampaoli a escalar o time. A decisão de substituir o machucado Sergio Romero pelo veterano Willy Caballero não deu muito certo. Maximiliano Meza teve um espaço incomum nas primeiras duas rodadas, e a Argentina correu o sério risco de ser eliminada na fase de grupos.

A primazia defensiva da Islândia pareceu ter pegado a Argentina de surpresa na estreia, apesar de ter sido um dos destaques da Eurocopa dois anos antes. Agüero abriu o placar com um belo gol, mas a tranquilidade sul-americana foi cancelada por um gol de Alfred Finnbogason, quatro minutos depois. O jogo virou ataque contra defesa, com a Argentina insistindo muito pelo meio e esbarrando no paredão viking. A chance de vencer apareceu aos 19 minutos do segundo tempo, mas Messi teve seu pênalti notoriamente defendido pelo goleiro-cineasta Halldórson. O empate pressionou a Argentina para a segunda rodada contra a Croácia.

Sampaoli mudou o time. Armou três zagueiros, abriu os alas Salvio e Acuña e deixou Messi mais próximo de Agüero e Mesa. Não deu nada certo. A Croácia teve boas oportunidades no primeiro tempo, e a Argentina não pareceu um time mais coeso. Depois do intervalo, um erro crasso de Caballero na saída de bola abriu a porteira pela qual a futura vice-campeã mundial passou com elegância. A Argentina passou a abusar dos erros e pareceu sentir todo o peso de um ciclo bagunçado, que terminou com um amistoso caça-níquel contra Israel cancelado que deixou Sampaoli com apenas um jogo contra o fraco Haiti de preparação e alguns jogadores sofrendo com problemas físicos. A Croácia passou por cima, venceu por 3 a 0 e deixou a Argentina com as costas na parede.

Messi não estava fazendo uma boa Copa do Mundo. Havia perdido pênalti contra a Islândia e desapareceu contra a Croácia. Mal tocou na bola, mal participou da construção e da finalização das jogadas. Sumiu. A vitória contra a Nigéria era obrigatória. Sampaoli retornou ao básico, supostamente por pressão dos jogadores, e armou um simples 4-3-3, com Messi, Di María e Higuaín no ataque, Mascherano, Enzo Pérez e Banega no meio-campo. O jogo foi sofrido. Messi abriu o placar domando um belo passe de Banega, aos 14 minutos, enquanto Diego Maradona dava show nas arquibancadas. Os nigerianos empataram com Victor Moses cobrando pênalti e apenas aos 40 minutos da etapa final, depois de Odion Ighalo perder uma grande chance para a Nigéria, o gol de Gabriel Mercado classificou a Argentina.

O problema, porém, de ter ficado em segundo lugar no grupo era um cruzamento precoce com a França nas oitavas de final. E a Argentina até se esforçou, mas a sua frágil defesa não soube lidar com a velocidade de Kylian Mbappé, que deu uma brilhante arrancada no começo da partida e foi derrubado por Marcos Rojo. Griezmann converteu. A Argentina conseguiu a virada, com um golaço de Di María e um desvio de Mercado em um chute a gol de Messi. Aquela fatiada na bola de Benjamin Pavard, porém, empatou, e Mbappé emendou um golaço para fazer 3 a 2 para a França. Mbappé fez o quarto, novamente disparando pela direita. Agüero descontou tarde demais para salvar a quarta participação de Messi na Copa do Mundo.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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