Copa do Mundo

Arábia Saudita quer sediar a Copa 2030 em parceria inusitada com a Itália

Para convencer os italianos, sauditas financiariam as reformas nos estádios do país, um dos pontos fracos do Calcio

A Arábia Saudita quer sediar a Copa do Mundo de 2030 e, para isso, quer ter um país que divida o evento consigo. E o parceiro que o país pensa é dos mais inusitados: a Itália, atual campeã da Eurocopa, segundo informação do site The Athletic. Sim, parece uma loucura, geograficamente não faz nem tanto sentido assim, mas é algo que o país tem estudado ao ser aconselhado por uma consultoria americana.

A consultoria americana Boston Consultancy Group tem aconselhado a Arábia Saudita para a construção de um potencial candidatura para sediar a Copa do Mundo. Sugeriu ao país fazer uma parceria com outro país, o que facilitaria para receber o evento.

A sugestão inicial era que a Arábia Saudita se unisse a Egito e Marrocos para criar uma candidatura “MENA” (Middle East and North Africa, ou Oriente Médio e Norte da África, em português). Teoricamente, teria força política e uma visibilidade grande, além de fazer todo sentido em termos geográficos.

O problema dessa ideia é que tanto Egito quanto Marrocos precisariam melhorar significativamente as suas infraestruturas. Este foi justamente um ponto negativo na candidatura de Marrocos para a Copa 2026. Enquanto os norte-americanos contavam com uma infraestrutura pronta de transporte, rede hoteleira, estádios e centros de treinamento, os africanos precisariam de investimentos pesados em todas essas áreas, inclusive com a construção de estádios.

Por isso, os sauditas procuram uma alternativa europeia para ser parceria na empreitada e o site The Athletic conta que o candidato mais provável seria a Itália. Os italianos já manifestaram o desejo de se candidatarem para sediar a Copa do Mundo de 2030. O presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC) quer que o país sedie a Euro 2028 ou a Copa 2030, mas pareceu mais inclinado até ao torneio europeu, já que os grandes favoritos a conquistarem a sede da Copa 2030 são os ingleses.

A ideia é que os sauditas seduzam os italianos financiando a reforma dos estádios do país, que são considerados um dos pontos mais fracos do futebol italiano. A Juventus é um dos poucos clubes a jogar em um estádio moderno, tanto que Milan e Inter se movimentam por um novo estádio em Milão até 2026. Os sauditas entrariam com o dinheiro para financiar, ao mesmo tempo que sediariam também o evento em conjunto.

Vale lembrar que a parceria entre os sauditas e italianos não é nova: a Supercopa já foi disputada na Arábia Saudita em 2018 e 2019. E só não foi em 2020 porque tudo precisou ser adiado e foi jogado no Estádio Mapei, do Sassuolo, por causa das restrições da COVID-19. Em janeiro de 2022, a Arábia Saudita voltará a sediar o evento.

Há um outro elemento na história. Uma rede de TV saudita que está prestes a ser lançada para ser concorrentes da beIN Sports, do Catar, que, aliás, reclamou da falta de ação dos sauditas em relação à pirataria do canal no país. A emissora catari domina a região do Norte da África e Oriente Médio em termos de transmissões esportivas, mas o governo saudita quer um concorrente de peso. E adivinha que liga eles querem comprar para transmitir e começar a concorrência? Sim, isso mesmo: a Serie A italiana.

A Arábia Saudita tem crescido em importância e influência no meio do futebol. Tentou comprar o Newcastle, sem sucesso. Também estava por trás do financiamento de um novo Mundial de Clubes – que acabou adiado pela pandemia e ninguém sabe se voltará. Também está por trás da ideia de uma Liga das Nações Mundial, uma ideia que frequente os círculos de poder da Fifa e Uefa há anos.

O príncipe da Arábia Saudita é o jovem Mohammed bin Salman, de 35 anos, e que tem como visão o investimento no esporte para melhorar a imagem mundial do país. Tanto que passou a receber diversos eventos esportivos de relevância, como por exemplo uma etapa do Fórmula 1 em 2021, que será disputada pela primeira vez no país. Uma candidatura à Copa do Mundo, porém, seria ainda mais ousado.

Certamente a candidatura saudita, seja com a Itália ou qualquer outro país, atrairia muita controvérsia e, diante de uma candidatura como a inglesa, poderia ser vista como pouco segura, do ponto de vista institucional para uma entidade como a Fifa, que é uma organização, acima de tudo, política – como tem que ser, só precisa ser uma boa política, o que é um pouco mais complicado.

Candidaturas conjuntas ajudam a mitigar os custos

As candidaturas de dois países são bem aceitas pela Fifa. A primeira que conseguiu vencer a disputa para sediar o evento foi a parceria Japão e Coreia do Sul, em 2002. Outras candidaturas tentaram, mas a segunda a conseguir vencer foi uma parceria tripla: Estados Unidos, Canadá e México, que sediarão a Copa 2026. Esta também será a primeira Copa do Mundo que o número de seleções aumenta de 32 para 48, o que também aumenta o custo de sediar um evento assim.

O aumento do número de seleções de 32 para 48 foi uma medida tomada por política e por dinheiro, como falamos em 2017. É uma medida que fortalece o presidente da Fifa, que ganha mais apoio – mais gente chegará à Copa do Mundo, afinal de contas, o que significa também muito mais dinheiro para as federações que estiverem no mundial.

Em termos financeiros, também é uma boa para a Fifa: aumenta, ao menos a princípio, o valor pago pelos direitos de transmissão. Afinal, são mais jogos, o que interessa a mais países e isso significa, em teoria, mais dinheiro também na conta da entidade que dirige o futebol mundial.

Só que há problemas com isso. Um deles é aumenta o risco de banalizar a ideia de uma “festa das nações”, como bem escreveu Leandro Stein por aqui. O outro é que o custo para sediar um evento desse é ainda maior. Ao precisar receber 48 seleções, é preciso uma estrutura maior em todos os aspectos: centros de treinamento, hotéis, rede de transporte e estrutura de hospitalidade para os torcedores.

Tudo isso custa e sediar uma Copa do Mundo tem sido um negócio muito mais questionável. A Fifa mudou as suas exigências, tirando coisas estúpidas como a exigência de estádios em um padrão irreal, mas mesmo considerando os estádios já construídos, ainda é custoso. Por isso, sediar uma Copa do Mundo em parceria de dois ou mais países acaba sendo uma boa alternativa para mitigar os custos.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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