Zagallo, o maior treinador do futebol do Brasil, merece todas as reverências
Em tudo que Zagallo fez na carreira há a marca do pioneirismo e da inovação. Muito do futebol que se pratica hoje no mundo já era feito pela seleção de 1970, comandada pelo maior treinador do Brasil
Mario Jorge Lobo Zagallo é o maior treinador da história do futebol brasileiro. Nenhum outro nome teve tamanho impacto em alterações táticas e inovações na forma de se jogar, como atleta ou como treinador, do que o alagoano nascido em 9 de agosto de 1931. Com sua morte, o Brasil e o mundo do futebol precisam reverenciá-lo e lembrar dele como um dos maiores do esporte. Porque Zagallo foi isso.
Zagallo, acima de tudo, foi um pioneiro
Zagallo exalou pioneirismo ao longo da carreira. Desde o dia em que seu pai resolveu comprar seu passe junto ao Flamengo para que o filho pudesse jogar no Botafogo. Ciente de que, embora fosse um excelente jogador de futebol, mas não o mais qualificado tecnicamente, soube se adaptar às necessidades táticas das equipes para estar sempre jogando.
A figura do que se convencionou chamar de quarto homem de meio-campo é praticamente sinônimo de Zagallo. Como disse o capitão Bellini sobre o time campeão mundial de 1958: “O Zagallo era o único atacante que ajudava o meio-campo”. Talvez por isso ele tenha deixado pelo caminho concorrentes de peso como Canhoteiro e Pepe. Era o Zagallo pioneiro desde os tempos de jogador.
Seleção Brasileira foi a paixão e obsessão de Zagallo
A seleção brasileira se transformou em obsessão de Zagallo muito provavelmente pelo trauma de ter estado no Maracanã no último jogo da Copa de 1950, como soldado do Exército. A tristeza foi tanta que ele caminhou para se tornar um dos maiores da maior seleção do mundo. Deu o troco com sobras, participando da conquista de quatro Mundiais. Zagallo virou sinônimo de Seleção Brasileira.
Se como jogador ele foi fundamental em dois títulos, os de 1958 e 1962, como treinador ele fez ainda mais pela Seleção. Uma proteção quase paternal que se confunde com sua carreira de treinador. Que começou em 1965, aos 34 anos, quando aceitou o convite para ser treinador do juvenil do Botafogo e deu início a uma trajetória impressionante.
Zagallo, logo de cara, foi campeão carioca juvenil em 1966 e assumiu a equipe principal para ser bicampeão estadual em 1967 e 1968 e conquistar a Taça Brasil de 1968. Zagallo, logo de cara, já era uma dos melhores técnicos do país.
Não a toa que após a saída de João Saldanha há menos de 100 dias para o começo da Copa do Mundo de 1970, Zagallo assumiu uma seleção brasileira que gerava desconfiança e em 78 dias de trabalho deu sua cara ao time que conquistaria o tricampeonato no México. Implantou um sistema de jogo moderno e versátil para absorver a constelação de craques disponíveis do meio para a frente.
Foi no último amistoso antes da viagem para o México, uma vitória por 1 a 0 sobre a Áustria, no Maracanã, que o sistema de jogo que variava do 4-3-3 para o 4-4-2 se estabeleceu. Estavam em campo desde o início Clodoaldo, Gérson e Rivellino. Piazza migrara do meio-campo para a zaga, e Pelé e Tostão estavam no ataque com Roberto Miranda. Rivellino entrou na vaga de Miranda como quarto homem de meio para fazer o gol da vitória e chancelar o esquema que seria vitorioso.
Muita coisa que é considerada comum no futebol de hoje a seleção de 1970 já fazia. Um volante mais fixo e outro saindo para o jogo. Um lateral que ficava mais e compunha uma linha de três sem a bola (Everaldo) e outro que se jogava ao ataque (Carlos Alberto). A recomposição do ataque e do meio-campo sem a bola, com até Pelé se juntando à primeira linha de marcação, obediente e tático. O ataque poderoso sem precisar de centroavante fixo.
Zagallo pagou pela polarização e o bairrismo
Zagallo foi o primeiro ser humano a ser campeão mundial como jogador (em 1958 e 1962) e como treinador (em 1970). Mas infelizmente, duas instituições ainda presentes no mudo atual cobraram dele um preço alto: polarização e bairrismo.
Ele foi acusado injustamente de compactuar com a Ditadura Militar apenas por ter aceitado o convite para substituir Saldanha, que era militante de esquerda e comunista declarado numa época em que isso era quase uma sentença de morte. Por ser um treinador com trabalhos sempre ligados ao Rio de Janeiro foi vítima de bairrismo por parte da imprensa paulista por muitos anos.
Em 1994 sua figura foi importante para a conquista do Tetra, dando o tempero da experiência e do resultado a Carlos Alberto Parreira, servindo de anteparo para muitas críticas ao estilo de jogo da seleção, que teve Zinho como um representante do que Zagallo fora em campo.
Em 1998, bateu na trave na tentativa de ganhar outra Copa como treinador. Foi somente depois de trabalhar na Portuguesa de Desportos, em São Paulo, em 1999 e 2000, que a imprensa paulista soube reconhecer sua importância histórica.
Como disse Vanderlei Luxemburgo, fã declarado de Zagallo, a Holanda de 1974 foi uma só, mas o Brasil de 1970 deixou muita coisa para o futebol mundial.
No que se refere à compreensão tática do jogo e à aplicação das funções com e sem a bola, Zagallo é o maior treinador da história do futebol brasileiro e um dos maiores do futebol em todos os tempos.
O Brasil deve ao Velho Lobo muito mais reconhecimento e reverência.