Brasil

Como time que usa o sub-20 do Vitória virou sensação na Série D

Quando o árbitro Diego Pombo Lopez apitou o fim de Vitória 2 x 0 Itabuna, no dia 3 de março, pela última rodada do Campeonato Baiano de 2024, as duas equipes viveram sentimentos distintos.

Naquele dia, o rubro-negro da capital baiana comemorava seu retorno às semifinais da competição estadual após seis anos.

Já o Itabuna, que precisava vencer se quisesse permanecer na primeira divisão baiana, não conseguiu escapar da degola, terminou a competição na lanterna e com apenas seis pontos.

Ali, poderia ser o início da derrocada de uma equipe que havia feito uma campanha histórica no ano anterior.

Rebaixamento no Campeonato Baiano colocou participação da Série D em xeque

O rebaixamento para a Série B do Campeonato Baiano após terminar a temporada anterior com a terceira melhor campanha do estadual mudou todo o planejamento do time para o restante da temporada.

É até meio clichê dizer que ninguém planeja ser rebaixado e o quanto prejudica a imagem do clube. Mas, no caso do Itabuna, isso quase acabou lhe custando a suada vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.

A vaga na Série D de 2024 veio após a equipe do sul do estado baiano garantir a terceira melhor campanha no Baianão de 2023, um feito e tanto para um time que ficou alguns anos longe da elite do futebol baiano logo no ano do seu retorno.

Porém, rebaixado em 2024, o time se viu em uma crise financeira e sem estrutura para garantir a participação na Série D.

Ricardo Xavier, diretor de futebol do Itabuna, chegou a comentar a sobre uma possível desistência da equipe baiana por falta de patrocínio.

— Se for possível a participação, depende do patrocínio da Emasa (Empresa Municipal de Águas e Saneamento), que foi prometido aos quatro cantos… Não sei nem se legalmente há a possibilidade de desistência, mas sem patrocínio, a gente tem que jogar fora com custo muito elevado, então tem que ter o patrocínio — afirmou.

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‘Casamento' com divisão parcial de bens entre Vitória e Itabuna foi a solução

Com o sonho da competição nacional indo por água a baixo, a solução veio rápida. Pouco mais de duas semanas após o rebaixamento no Campeonato Baiano, e já sem esperanças de seguir na Série D, uma proposta de casamento bateu à porta do Itabuna.

O Vitória, mesmo time que carimbou o rebaixamento do time, ofereceu uma parceria que naquele momento salvaria o ano do Itabuna.

O rubro-negro ofereceu para o Itabuna um elenco, um treinador, um diretor para gerir o time durante a competição nacional e toda a estrutura física. Do Itabuna, na prática, restou apenas a camisa.

Em troca, ampliaria a marca do Vitória no sul do estado. Um casamento salvador para o Itabuna.

Estamos formalizando um casamento aqui. E casamento você sabe como é. Então, sim, é uma parceria longa, duradoura, a gente pretende que isso vá longe. Nem só revelar atleta, mas ajudar o Itabuna a voltar para série A do Campeonato Baiano. É um casamento que está sendo celebrado — disse Fábio Mota, presidente do Vitória.

O Vitória emprestou seus jogadores e sua estrutura em troca de uma porta aberta em uma região dominada por torcedores dos times do sul e sudeste.

Além da parceria com o Itabuna, o Leão ainda abriu uma sede oficial na cidade e uma escolinha para garimpar novos talentos. O acordo entre as duas equipes tem validade de três anos, renováveis por mais três.

— Lá no sul ainda tem muitos torcedores de clubes do sul e sudeste, e a ideia é fortalecer nossa marca por lá. Muitas pessoas de Ilhéus, Itabuna, Ubaitaba, Gandu, e entre outros municípios, querem fazer testes no Vitória. Agora vamos ter o Vitória em Itabuna, com funcionários do Vitória e escolinha do Vitória, para fortalecer a marca e descobrir talentos — disse Fábio Mota.

Na verdade, mais do que as portas abertas, o Vitória ainda conseguiu resolver um problema da divisão de base gerada pelo baixo desempenho do time profissional: a falta de calendário.

O baixo desempenho da equipe principal nos últimos anos, que chegou a disputar a Série C do Campeonato Brasileiro, fez o Leão perder algumas posições preciosas no Ranking da CBF.

Até 2020 o time ainda aparecia entre os vinte primeiros colocados do ranking. De 2021 para cá, o time deixou o top-20, prejudicando a divisão de base do clube que passou a não ser convidada para as principais competições da categoria no país.

A parceria com o Itabuna, então, serviu para colocar os jogadores do sub-20 em uma competição profissional, dando mais experiência para os atletas, que chegam mais preparados no profissional.

O que já rendeu frutos. Dos jogadores “emprestados” ao Itabuna, três se destacaram e foram convocados para fazer parte do plantel do técnico Thiago Carpini para a sequência do Brasileirão da Série A.

Os atacantes Lawan e Luis Miguel, e o volante José Breno aguardam apenas a regularização no BID para ficarem à disposição da equipe principal do Vitória. Os três se juntam ao goleiro Lucas Arcanjo como os únicos do elenco formados nas divisões de base do clube.

Detalhes da parceria entre Itabuna e Vitória

  • Itabuna recebeu por empréstimo todos os jogadores do sub-20 do Vitória;
  • Itabuna passou a treinar no Barradão e se beneficiar de toda estrutura do Vitória;
  • Time do interior passou a mandar os seus jogos no Estádio de Pituaçu, em Salvador;
  • Laelson Lopes, treinador do sub-20 do Leão, assumiu o comando;
  • Thiago Noronha, diretor da base do Vitória, assumiu como gestor do Itabuna;
  • Sede e escolinha oficiais do Vitória em Itabuna;
  • Possibilidade de facilitar trocas de jogadores entre as equipes principais;
  • Calendário para o sub-20 após a saída do Vitória do top-20 do ranking da CBF.
Time sub-20 do Vitória parceria com o Itabuna
Enquanto os profissionais vão sofrendo na Série A, o sub-20 do Vitória vai passeando na Série D representando o Itabuna, time do sul da Bahia. Foto: Icon Sport

De rebaixado a sensação da Série D: Itabuna garantiu classificação antecipada para a próxima fase

E o casamento entre Vitória e Itabuna vem dando certo. Com 12 jogos disputados no Grupo F da Série D, o Itabuna é o segundo colocado com 23 pontos somados, seis vitórias, cinco empates e apenas uma derrota. À sua frente na tabela, apenas o Nova Iguaçu, do Rio de Janeiro.

A parceria deu tão certo que o Itabuna só foi perder a sua primeira – e por enquanto única – partida na Série D na décima rodada, quase dois meses depois do início da competição. A derrota foi justamente para o líder Nova Iguaçu, por 1 a 0, lá no Rio de Janeiro.

Os dois últimos jogos da primeira fase, contra Ipatinga e Real Noroeste, vão servir para a equipe do sul da Bahia definir se termina na liderança da competição, já que a equipe já garantiu a classificação. O primeiro destes dois jogos será neste sábado (13), no Estádio do Pituaçu, em Salvador.

Não foi a primeira vez: 10 anos atrás, Vitória viu CBF dizer não a casamento com ‘rival' do interior

A parceria do Vitória com o Itabuna não foi a primeira que o rubro-negro de Salvador emplacou – ou tentou emplacar – com um time do interior da Bahia.

10 anos atrás, em 2014, o Leão fechou uma parceria com o Bahia de Feira, da cidade de Feira de Santana (cerca de 100km de Salvador), time que era a sensação no início da década passada, e que chegou até a ser campeão Baiano de 2011.

Mas, para que a parceria seguisse em frente, o Bahia de Feira deveria abrir mão do seu nome e das suas cores, que fazem referência ao maior rival do rubro-negro.

A proposta de parceria, então, apresentava o novo nome para o clube, que passaria a se chamar Esporte Clube Feira de Santana e trocava o azul, vermelho e branco pelo vermelho e preto.

Porém, a parceria sequer saiu do papel. O acordo entre as duas equipes foi negado pela Confederação Brasileira de Futebol e não chegou a ser finalizado.

A justificativa usada pela CBF para negar a formalização da parceria foi de que duas equipes que disputam o mesmo torneio não poderiam formalmente serem parceiras. Além do Campeonato Baiano, Vitória e Bahia de Feira ainda também participaram da Copa do Brasil daquele ano.

Foto de Márcio Júnior

Márcio JúniorRedator de esportes

Baiano formado pela Faculdade Regional da Bahia. Cobriu de carnaval a Copa do Mundo na TVE Bahia, onde venceu o prêmio de reportagem do mês. Passou pela ALBA, Rádio Educadora, Superesportes e Quinto Quarto antes de se tornar repórter na Trivela.
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