Vexame na CPI do Kajuru
Pródigas em ir do nada ao lugar nenhum, comissões parlamentares que investigam o esporte geram apenas constrangimento

O senador Jorge Kajuru (PSB-GO), um grande comunicador, jornalista experiente, ex-proprietário de emissora de rádio, perdeu uma grande chance de reverenciar o silêncio. Ao soltar uma piada de péssimo gosto, o senador se expôs ao ridículo e levou com ele a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas.
Kajuru disse em certo momento que “normalmente, mulher vai ao estádio e pergunta quem é a bola?”. Prontamente foi repreendido pela presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que lembrou que ela era mandatária de um grande time da Série A. Leila Pereira que seria ouvida como testemunha na CPI.
Durante a CPI que investiga manipulações no futebol brasileiro, Leila reagiu a um comentário machista do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) direcionado a senadora Margareth Buzetti (PSD-MT)
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— Trivela (@trivela) June 5, 2024
A maioria das CPIs é utilizada como palanque por políticos em busca de holofote. Quase sempre terminam em relatórios inúteis, mas o objetivo da exposição dos participantes é alcançado.
Kajuru rapidamente tentou consertar o erro e soltou um “cala a boca, Kajuru” que ampliou o constrangimento. Especialmente porque, como comunicador, ele trabalhou com várias mulheres extremamente competentes e conhecedoras de futebol. Além disso, o senador sabe que a presença das mulheres em estádios, em comissões técnicas de clube, na produção de conteúdo é cada vez maior e mais importante.
Como palanque que é, a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas segue andando em círculos. As “provas” apresentadas por John Textor continuam geram mais constrangimento que evidências. Uma gororoba que mistura tecnologia com reclamação de boteco e tenta justificar uma derrocada histórica. Em discurso confuso, o dono do Botafogo hora alisa e hora ataca o Palmeiras de Leila, que sugere o banimento do empresário.
Nada disso aconteceria se em vez de uma CPI marqueteira os senadores auxiliassem o Ministério Público de Goiás numa robusta investigação vigente sobre manipulação de resultados para apostas esportivas.
Casos existem e alguns foram comprovados. Esse caminho é o que indica seriedade e responsabilidade. Inclusive na investigação que envolve o jogador brasileiro Lucas Paquetá, do West Ham, da Inglaterra. É bom ressaltar que as dúvidas sobre o envolvimento do atleta foram levantadas pela empresa de apostas que patrocina o West Ham.
John Textor pode até ter a melhor das intenções ao fazer suas acusações. Acredito que ele queira mesmo o melhor para o futebol brasileiro. Mas para isso precisa afinar seu discurso e parar de encontrar justificativas para algo que não se resume a um jogo. Seu time ficou onze jogos sem vencer no Brasileiro de 2023 – a derrota para o Palmeiras foi a terceira partida sem vitória da sequência. O Botafogo ficou seis meses sem ganhar no torneio nacional – só voltou a triunfar na segunda rodada de 2024. Antes disso, a última vitória em seu estádio pela competição nacional foi em 27 de agosto de 2023!
O uso de ferramentas de tecnologia que Textor afirma serem determinantes para o que ele chama de “provas” tem reforçado a impressão de que o empresário conhece pouco o futebol e engrossa o coro cotidiano das reclamações de mesa de bar e grupos de mensagem entre amigos.
A piada preconceituosa do senador Kajuru, ladeado pelo senador Romário, reforça a tese de que em Brasília, o futebol é tratado como circo.