Palmeiras vai ter um pouco de Diniz e um pouco de Abel na Copinha, diz técnico Lucas Andrade
Treinador do Palmeiras na Copinha está no clube desde 2016 e participou das conquistas de 2022 e 2023
O Palmeiras estreia na Copinha no próximo dia 4, contra a Queimadense, em Barueri. Será o primeiro jogo do time na busca pelo tricampeonato do torneio. Será também o primeiro jogo do técnico Lucas Andrade, 35, no comando máximo da equipe da qual foi auxiliar nos títulos de 2022 e 2023.
No Palmeiras desde 2016 – teve um hiato para trabalhar na China e na seleção entre 20 e 22 – Andrade assumiu o time sub-20 após a saída de Paulo Vitor Guimarães, em junho. PV, depois de ganhar duas Copinhas, foi ser auxiliar de André Jardine no América do México.
Em novembro, Lucas bateu o São Paulo e ganhou o Campeonato Paulista, seu primeiro título como técnico do Palmeiras Sub-20, oficialmente falando. No sub-20, as equipes às vezes se dividem em grupos focados em determinadas competições. E Andrade já comandara o Palmeiras do banco em jogos dos Estaduais conquistados pelas Crias em anos anteriores.
Com experiência em diversas categorias do Verdão, tais como sub-18 e sub-15, Andrade assumiu o sub-20 numa evolução natural. Afinal, as categorias de base do Palmeiras trabalham muito integradas. E o sub-20, topo dessa cadeia, por sua vez, é hoje praticamente uma antessala do profissional.
Em um contexto com muitos atletas vendidos muito jovens, mal saídos do sub-17, pode até parecer que o sub-20 está perdendo relevância. A opinião de Lucas Andrade é completamente oposta a essa ideia.
– Se o jogador tiver a precocidade necessário para chegar no profissional direto do 17, a gente vai vai ficar feliz e vai fazer a nossa parte. Agora, se ele não tiver, ele vai ter um espaço para se construir e terminar a formação dele. Então, eu enxergo o sub-20 como uma categoria que ajusta o tempo dos jogadores.
Em entrevista à Trivela, Andrade explicou um pouco do que espera de seu Palmeiras no torneio. E de como trabalhar com PV, ter trabalhado perto de Fernando Diniz, no Audax, e ser “colega de firma” de Abel influenciam no seu Palmeiras.
– Eu estaria mentindo se te dissesse que não tem um pouquinho desse pensamento do Diniz no Palmeiras – disse Andrade.
Com essas influências, um ataque com prodígios do sub-17, um herói de 2023 no meio-campo e um lateral de destaque na defesa, o Palmeiras, mais uma vez, é o time a sser batido no torneio.
Leia abaixo a entrevista
Trivela – A Copa São Paulo é também especial para vocês, os profissionais que a disputam? O que ela tem de diferente?
Lucas – A Copinha, a gente tem uma consciência muito grande do que ela gera de mídia, né? A gente, na categoria de base, hoje, já tem um calendário muito compatível com o que é o profissional, a gente já tem uma condição de profissionalismo muito alta. O que talvez a Copinha traga de diferença pro restante das competições do ano é questão de repetição, da mídia estar mais disponível em função de um campeonato sub-20. Isso não é comum para nossa rotina. A gente tem aí, muitos jogos transmitidos, mas lidar com esse aspecto (de grandiosidade de cobertura) é sempre importante quando se está trabalhando com jovens jogadores. A gente está explicando para eles a lógica do campeonato, para os que não jogaram. Temos alguns que estão remanescentes do último ano e alguns até que participaram de 2022 também. A ideia é fazer uma preparação que gera esse equilíbrio para lidar com os desafios que são típicos da competição.
Trivela – A base tem muito disso, né? Trabalhar a cabeça dos jogadores é tão importante quanto a técnica e a tática
A gente acha que quanto mais a gente conseguir encurtar essa distância entre o jogo do sub-20 para o jogo do profissional, mais os jogadores vão estar preparados. Então, o que que ajuda, é competir em alto nível, estar jogando as principais competições. O Palmeiras tem como como marca jogar praticamente todas as competições que são possíveis aí nas idades e competir para chegar nas finais, tudo isso faz com que essa essa construção de mentalidade naturalidade dos jogadores quando vestem a camisa do profissional.
Acho que é nítido o quanto Naves, Vanderlan, Fabinho são jogadores que não sentem a participação no profissional em função de tudo que viveram no sub-20 na categoria de base e também dos jogadores que tem mais destaque em mídia. Então quanto mais a gente conseguir encurtar a distância do nível de treino do profissional, do nível de jogo, mais esses jogadores estão aptos a serem absorvido pelo profissional. Esse é o maior desafio: encurtar essa distância ao longo da temporada.
Trivela – Olhando pelo lado de fora, há a impressão de uma integração total entre as categorias masculinas do clube. Como é sua proximidade com os outros técnicos da base e com o Abel?
Acho que talvez a gente viva um momento ímpar na história do clube. No que diz respeito a essa interface base com profissional, no que diz respeito à gestão, na função de Anderson (Barros, diretor de futebol), Cícero (Souza, gerente de futebol) e João (Sampaio, diretor da base) que têm uma interação direta. E na função de comissão técnica, em especial por meio do (auxiliar de Abel) Vitor Castanheira, que é o responsável. Ele tem uma um organograma muito claro das responsabilidades. Isso é uma coisa que a gente aprendeu muito com eles. Eles sabem exatamente quem faz a interface com cada área. Então, o contato direto é com o Castanheira, mas a gente também tem oportunidade de encontrar os demais membros de comissão, sempre muito solicitos e disponíveis para estarem com a gente, inclusive, o Abel. A gente tem tem trocas diárias, eles são caras que sempre respeitam os nossos momentos competitivos também, o que é muito raro, né? Treinador profissional normalmente tem um foco muito grande no resultado da equipe principal.
Trivela – Por mais um ano, um sub-15 vai jogar a Copinha. Endrick e Luis Guilherme jogaram nessa idade, Estevão também. Neste ano, será o Wesley. É um salto muito grande para esses garotos, pular do sub-15 para o sub-20? Ou hoje a integração é tanta que não há esse salto?
A gente seria injusto se dissesse que não existe um salto, porque existe uma questão de nível de enfrentamento. Mas o Wesley é um menino especial, está com a gente, tá treinando e tem se adaptado muito rápido. Talvez, pelo que ele viveu aí na história de vida dele, ele teve que amadurecer cedo, né? Então, a gente não consegue notar nenhum tipo de insegurança por parte dele, porque ele é um menino muito maduro e muito profissional, até pelo que ele já viveu.
Trivela – Vai de cada caso
Essa é uma oportunidade que o Palmeiras tem tido nos últimos anos. Ela ela não é um fato histórico, que sempre aconteceu. Mas, nos últimos anos, sim, isso se tornou uma rotina em função do nível que esses meninos atingiram. O Endrick, o Luis na primeira Copinha, depois o Estevão, na última. E, agora, mais uma vez, a gente oportunidade de contar com o jogador de 15 anos é fruto do trabalho é feito como um todo nas categorias menores, na captação, na maneira com que o clube traz os jogadores para dentro, para a gente poder oportunizar.
Mas é consequência de um trabalho, né? Eu enxergo sub-20 como uma consequência. É consequência de um processo que é construído desde o sub-10, sub-11, com um monte de profissional envolvido. Eu enxergo esse processo de botar um menino de 15 anos na Copinha como consequência de um trabalho bem feito como um todo.
Trivela – Não é porque ele tem 15 anos, mas porque ele tem capacidade de estar nessa equipe.
Exatamente, capacidade técnica demonstrada na categoria. E uma oportunidade que que o clube enxerga de fazer ele crescer em todos os sentidos. Botar ele para ser apresentado para a torcida, reconhecido de maneira efetiva dentro do processo de formação. Então é uma oportunidade que ele vai ter e a gente espera que ele possa aproveitar
Trivela – Você esteva nessa comissão em 2022 e 2023, mas agora, você é o técnico principal. O que o Palmeiras do Lucas terá de diferente do Palmeiras do PV?
A gente construiu uma coisa muito feliz no sub-20, uma coisa muito horizontal. Eu tinha já uma parceria com PV desde 2016, quando eu cheguei no clube aqui, ele entra seleção. E eu trabalho junto com ele lá na seleção sub-15 em 2014, na época, que foi campeão sul-americana, e a gente Manteve esse contato. E quando a gente retorna para o clube, e a gente já tinha um alinhamento muito grande de ideia juntamente com o Gilmey (Aimberê, auxiliar), que é um profissional que já está aqui há mais de sete anos, envolvido com o sub-20. A gente conseguiu trazer toda essa vivência dos últimos anos de sub-20 e ao mesmo tempo trazer uma nova concepção para que as coisas florescessem.
Trivela – Há uma continuidade.
A saída da PV, lógico, é uma perda grande que a gente teve. Mas a gente entende que tudo foi plantado a longo prazo e com sustentação. Tem coisas que são muito particularidades, da personalidade mesmo, do detalhe que tem como a gente fugir, são inerentes. Tem alguns conceitos de jogo que, talvez, o torcedor olhe e perceba a correção, que é um pouco diferente. Outros ele vai já estar identificado, porque realmente é continuidade. É tudo muito natural. O que vai acontecer na percepção vai ser muito sutil, não vai ter nada drástico, “mudou completamente a proposta, a ideia”. Não, minha ideia foi dar sequência a um trabalho bem feito do PV e do Palmeiras.
Trivela – Mas tem algo muito característico seu no time? Suas marcas?
Eu acho que elas são mais a respeito do grupo de jogadores. Porque a grande lógica do nosso trabalho e até algumas oportunidades. É uma lógica que potencialize o melhor jogo, o melhor jogo estrutural para aquelas peças. Então, o que muda a princípio é a disposição em função do que eu tenho em mãos hoje, né? Você vê o nosso primeiro time da Copinha, em 2020, já era um time com um jogo posicional muito estruturado e algumas dinâmicas muito claras: do Giovani jogando com uma individualidade do lado direito. A segunda Copinha, a gente já tem uma uma condição de um time mais pressionante, um pouco menos de jogar em estrutura e mais de fazer transições bem feitas e fazer com que o adversário fique incomodado. Então, acho que é o que as pessoas vão ver nesse time atual é um time que tem uma méda um pouco das duas coisas.
A gente tem jogadores que estão remanescentes dessa última Copinha, onde o nível de competitividade foi muito intenso, e a gente conseguiu, dentro das limitações que a gente tinha naquele momento, fazer um bom trabalho, colocando esses meninos que tem um grande talento e estão em projeção. São jogadores chegando do sub-17, outros que estão no sub-20, estão aparecendo agora com a saída dos meninos 2002, 2003, ao profissional. É um time que vai ter uma média das duas últimas Copinhas. Uma competitividade grande, que a gente demonstrou em 2023, com os jogadores que possam se equilibrar também individualmente como em 2022.
Trivela – Você teve esse contanto intenso com o PV, que virou referência no Palmeiras. Trabalha perto do Abel Ferreira. E também trabalhou próximo ao Fernando Diniz, no Audax. O que esses treinadores trouxeram de influência para você?
É então me considero uma pessoa de sorte nesse sentido, de ter tido essas vivências, com caras que me fizeram. Estamos falando de três aí, mas tem tantos outros, o Felipe Leal, da seleção, e outro profissionais com que eu trabalhei no Palmeiras, sempre contribuíram e deixaram um pouco das ideias dentro do que o do que eu penso hoje de futebol. Falando em especial do Diniz, ele chega no Audax quando a gente tinha um modelo muito legal na base. A gente tinha um modelo de construção através do goleiro, de progressão da bola, sem um jogo direto. Era uma cultura do clube. E, quando ele chega, ele oportuniza a gente de ver isso aplicado no profissional mesmo. Ele chega e, depois, quando faz a final contra Santos (Paulista de 2016), a gente percebe que o Diniz colocou aquelas ideias no jogo.
Trivela – Ele mostrou que era viável.
Foi muito legal ver o Diniz trabalhar, porque a gente falava: “na base, a gente consegue fazer o goleiro participar efetivamente da saída, essa questão do futebol total. Mas, no profissional, naquele momento, a gente ainda não conseguia ver isso. E ele conseguiu fazer e vem fazendo anos aí com todas as competências e valências das equipes dele. Eu entendo que, lógico, cada clube tem um contexto, né? Hoje, tem a oportunidade de construir o próprio controle aqui em função da representatividade que ele tem como treinador da seleção brasileira, como treinador do Fluminense. Mas, acima de tudo, ele deixa essa marca do empoderamento da capacidade dos jogadores elevarem o desempenho. Assim como o Abel faz aqui, também de maneira muito competente.
Trivela – O que você leva para o seu time que aprendeu com esses caras?
Nosso grande desafio como treinador é tentar fazer os jogadores terem a melhor versão deles. Eu acho que esse é o grande diferencial do Abel, grande diferencial do Diniz do PV e todos os treinadores que eu citei aqui: é fazer os jogadores melhores as pessoas, melhores no geral, né? A gente aprecia um jogo que possa que possa ter essa construção equilibrada a partir do goleiro. Mas é lógico que a gente entende que hoje as estruturas de pressão se preparam cada vez mais para efetivar a abordagem alta, o que dificulta o modelo de construção com o goleiro. Mas eu estaria mentindo se te dissesse que não tem um pouquinho desse pensamento do Diniz no Palmeiras.
Trivela – Os jogadores são vendidos cada vez mais cedo e, por isso, os jogadores mais fora de série chegam muito cedo ao profissional, pulam direto do sub-17. O sub-20 está perdendo sua função? Faz sentido, ter essa categoria?
Isso é um reflexo do da nossa da nossa interação social, o Brasil é um país exportador de matéria-prima no futebol que é o jogador e o clube europeu cada dia até buscar mais cedo obviamente para formar dentro da cultura dele a nossa necessidade esportiva também. Ela é muito precoce porque a gente também dentro do nosso mercado nacional, a gente precisa projetar os grandes jogadores para eles chegarem rápido ao profissional em função de ter tempo de utilizá-los, né? Porque o jogador já é vendido aos 18 anos, se você não subir ele de maneira precoce e você não vai ter tempo de utilizar ele dentro da sua equipe. Então, eu entendo que o sub-20, hoje, é uma categoria que equaliza o tempo. Assim, se eu pudesse dizer o qual que é a nossa função para mim, ela é equalizar o tempo dos jogadores. O tempo do Endrick, que é mais rápido, o tempo do Estevão, que também é rápido, o do Wesley. O tempo do Kauã Santos (inscrito na Copinha), que é médio. Mas que não é menos relevante do que o do Endrick.
Trivela – São tempos diferentes
Se o jogador tiver a precocidade necessário para chegar no profissional direto do 17, a gente vai vai ficar feliz e vai fazer a nossa parte. Agora, se ele não tiver, ele vai ter um espaço para se construir e terminar a formação dele. Então, eu enxergo o sub-20 como uma categoria que ajusta o tempo dos jogadores.
É então, eu acho que que na verdade esse é um ciclo. Até que a gente já vê os clubes com grande histórico de formação de grandes jogadores. Ele já tem já tinham essa tendência, né? O Palmeiras passa apenas os últimos três anos aí essa tendência de salto da categoria sub-20 ou de passagens muito curtas na categoria sub-20 de alguns atletas. Mas visto que as equipes europeias por exemplo trabalham sub-23 para equalizar essa questão da maturação e da formação, eu acho que no Brasil sub-20 faz o papel do time B, faz o papel do sub-23, eu acho que hoje eu subi 20 como você mesmo cita é uma equipe integrada profissional que vai dar sequência nesses jogadores para que essa formação dele possa ser completa dos que não devem. Então hoje eu vejo pelo contrário. Acho que a importância do sub-20 ela ela tá mais na ligação com departamento profissional, para que consiga dar esse tempo para os jogadores.