A tragédia pernambucana se consuma na Série B, com os rebaixamentos de Náutico e Santa Cruz
O CRB, 16º colocado e primeiro salvo da degola na segunda divisão do Campeonato Brasileiro neste momento, tem 42 pontos. O Santa Cruz tem 33 e quatro vitórias a menos. O Náutico tem 31. Faltam três rodadas. Ou seja, os dois grandes do estado de Pernambuco que disputaram a Série B foram rebaixados para a terceira divisão neste fim de semana.
LEIA MAIS: O Coelho está de volta! América garante o acesso e, agora, mira o título
É um momento complicado para o futebol pernambucano, que também vê o Sport na zona de rebaixamento da elite do Brasileirão. Mas, enquanto o Leão ainda tem chances de se salvar, a tragédia de Santa Cruz e Náutico já foi consumada. Um rebaixamento desenvolvido com muito esmero ao longo de uma temporada cheia de erros, com todos os clichês de sempre: bagunça administrativa, salários atrasados, excesso de jogadores e de treinadores.
O Santa Cruz contratou aproximadamente 35 reforços e teve três treinadores durante 2017, um planejamento quase alemão perto do Náutico, que contratou quase 40, teve cinco técnicos e, além disso, três presidentes. A queda do Timbu foi decretada com derrota por 2 a 1 para o Londrina. O Santa, por sua vez, perdeu para o Boa Esporte por 4 a 2.
Santa Cruz
Velhos fantasmas voltaram para assombrar o Arruda. É o segundo rebaixamento consecutivo do Santa Cruz, como na metade da década passada, quando o clube continuou em queda livre e foi parar na Série D. A cartilha, desta vez, foi cumprida à risca: salários atrasados, trocas compulsórias de treinadores , apostas em jogadores veteranos, como Derley e Léo Lima, além de uma boa dose de Sebastianismo à brasileira.
Ao contrário da outra vez em que retornou ao Arruda, e foi importante na campanha do acesso à elite, Grafite pouco conseguiu contribuir para evitar a queda. Marcou apenas três vezes em 14 partidas. Para segurar a prancheta, o Coral também apostou em rostos conhecidos, mas nem Givanildo de Oliveira, nem Marcelo Martelotte conseguiram resgatar o Santa Cruz.
A frustração é particularmente grande quando pensamos onde estava o Santa Cruz pouco mais de um ano atrás. Havia sido catapultado da quarta divisão para a Série A em cinco anos, era o atual campeão da Copa do Nordeste e conquistava o bicampeonato pernambucano. Mas veio o rebaixamento no Campeonato Brasileiro e meses de salários atrasados que atrapalharam todo o projeto de se estabelecer na elite.
Poucos jogadores permaneceram no clube, depois da queda, e a diretoria respondeu com pacotes atrás de pacotes de reforços. Foram mais de 35 contratações nesta temporada. E os problemas financeiros apenas pioraram. Antes da partida contra o Boa Esporte, o elenco ameaçou greve geral por causa de três meses de salários atrasados. Acabaram decidindo jogar, mas não foram capazes de evitar o rebaixamento – que já estava muito bem encaminhado.
O comando técnico foi outro caos. Vinicius Eutrópio começou o ano, mas foi demitido ainda no começo da Série B, reflexo das eliminações da Copa do Nordeste e do Pernambucano. A ideia inicial era manter o auxiliar Adriano Teixeira. Durou cinco partidas, com apenas uma vitória. Veio o especialista Givanildo de Oliveira para a sua sexta (!) passagem pelo Arruda. Demitido com duas vitórias, três empates e seis derrotas. Martelotte, o técnico do último acesso, foi convocado para o resgate, mas o estrago já havia sido feito.
Após 35 rodadas, o Santa Cruz é o time que menos venceu na Série B: sete vezes. E apenas em uma oportunidade conseguiu emendar dois triunfos seguidos – nas duas primeiras rodadas. Com 48 gols, tem a pior defesa. Fim de mandato melancólico para o presidente Alírio Moraes, que comandou o clube no melhor momento dos últimos anos. E também no pior.
Náutico
É comum um clube rebaixado somar vários treinadores ao longo de uma temporada. Não é tão comum assim somar três presidentes. A crise do Náutico foi de cima para baixo em 2017 e resultou na primeira queda para a Série C em 19 anos. Curiosamente, depois de dois anos seguidos batendo na porta da elite: o Timbu foi quinto colocado em 2015 e 2016.
O elenco foi reformulado ano passado, com um alto orçamento e muitos jogadores liberados e contratados. No total, chegaram quase 40 para o Náutico nesta temporada. Média de oito para cada treinador que comandou a equipe. Dado Cavalcanti traçou todo o planejamento para 2017 e foi demitido em fevereiro. Milton Cruz durou até o fim dos regionais. Em abril, houve greve dos jogadores por salários atrasados.
Antes do começo da Série B, a diretoria mais uma vez decidiu mudar tudo, cortou o orçamento pela metade, trocou a diretoria de futebol e trouxe Waldemar Lemos para tocar o barco. Oito jogos depois, veio Beto Campos, campeão gaúcho pelo Novo Hamburgo. Nove jogos depois, veio o quinto treinador da temporada. Como o Santa Cruz, o Náutico apostou no passado para evitar a queda e contratou Roberto Fernandes. Não funcionou.
Era realmente difícil haver um planejamento coerente no Náutico, considerando os seus bastidores. Houve três presidentes ao longo do ano: Ivan Brondi, ex-jogador e ídolo dos anos sessenta, renunciou em agosto; assumiu o presidente do Conselho Deliberativo, Gustavo Ventura, que ficou até outubro; Ivan Pinto da Rocha termina o ano.
Os jogadores também tiveram que se acostumar com as arquibancadas vazias da Arena Pernambuco. A média de público do Náutico na Série B foi de apenas 2.774 pessoas, a quinta mais baixa da competição. Ganha apenas de Boa Esporte, Luverdense, América Mineiro e Oeste. Não à toa, o Timbu já planeja o seu retorno aos Aflitos, depois de experiências muito ruins com o estádio que foi construído para a Copa do Mundo de 2014.