‘Meu sonho é recolocar o Santos na Série A sendo campeão da Série B’, diz JP Chermont
Em entrevista exclusiva à Trivela, Chermont fala sobre a sua chegada e sonhos no Santos, o parentesco com o jornalista Victorino Chermont
De contrato renovado, o jovem lateral-direito JP Chermont, de 18 anos, tem vivido uma temporada de sonhos. O Menino da Vila iniciou o ano na reserva da equipe que disputaria a Copa São Paulo, mas, poucos meses depois, viu tudo se transformar.
O garoto foi titular na Copinha, chamou a atenção do técnico Fábio Carille e atualmente é o dono da posição na equipe profissional, que lidera a Série B do Campeonato Brasileiro.
Em entrevista exclusiva à Trivela, Chermont fala sobre a sua chegada e sonhos no Santos, o parentesco com o jornalista Victorino Chermont, que faleceu no acidente aéreo com parte do elenco da Chapecoense, em 2016, e o esforço que tem feito para ver a sua irmã formada em medicina.
Muita emoção e mais um sonho realizado. Os bastidores da renovação de contrato do nosso #MeninoDaVila JP Chermont! ✍🏻 pic.twitter.com/5NcqSuPxFT
— Santos FC (@SantosFC) June 28, 2024
Trivela: Você é natural de Bauru, como chegou ao Santos?
JP Chermont: Eu jogava numa escolinha lá, o Craques do Futuro, e a gente tinha um sonho de jogar o Campeonato Paulista sub-11, em 2017. Entramos com o nome do Noroeste, que é o time mais conhecido de Bauru. Mas só nós conseguimos disputar, porque teve uma patrocinadora que pagou tudo que era necessário.
Sou muito grato a ela, porque as nossas famílias não tinham condições de arcar com as despesas. E, dentro de campo, nós chegamos até as semifinais contra o Santos. O treinador do Santos, na época, era o Leandro Macagnan, que hoje é um dos auxiliares do Rogério Ceni, no Bahia.
Ele gostou do meu futebol e me trouxe. Lembro que essa partida foi em novembro de 2017 e eu cheguei em fevereiro de 2018. Desde então tem sido muito trabalho. Sub-12, sub-13, sub-15, sub-17 e um pouco do sub-20, porque logo subi para o profissional.
E tem alguém daquele time do Santos, que vocês enfrentaram, que já começou a se destacar?
O Souza (lateral-esquerdo do Santos). Eu era volante naquela época, mas justamente naquele jogo precisei atuar como lateral-direito para marcar o Souza, que era um ponta. Eu brinco com ele até hoje sobre aquela partida. Digo que anulei ele em campo. Mas é só uma brincadeira nossa.
Quanto foi esse jogo?
(Risos) 2 a 0 para o Santos.
O Souza é o seu melhor amigo no elenco profissional?
Quando eu cheguei em Santos, ganhei uma bolsa de estudos na mesma escola do Souza. A gente sempre foi da mesma sala, então posso dizer que o Souza é meu irmão. Aqui no CT a gente vive juntos, e antes dos jogos também nos concentramos juntos. Além disso, moramos no mesmo prédio.
Você iniciou o ano como opção entre os reservas na Copinha, assumiu a titularidade e virou titular da equipe profissional. Como foi para assimilar tanta mudança em tão pouco tempo?
É um sonho, né?! Você sonha que um dia isso vai acontecer, mas às vezes chega a ser difícil de acreditar. Eu joguei a Copinha com o número 14, porque seria reserva. Infelizmente o titular se machucou, e eu aproveitei a oportunidade. Entreguei o meu máximo na Copinha e, graças a Deus, fui muito bem.
Depois, participei da excursão ao Qatar, onde o Santos disputou um torneio amistoso, e lá fiquei sabendo que tinha sido inscrito no Campeonato Paulista.
Aquilo foi uma grande surpresa. Quando soube, telefonei para a minha mãe feliz da vida e comecei a chorar. Na minha cabeça, ia ficar apenas treinando ou ser usado em um jogo ou outro. Mas as coisas foram acontecendo, eu me destacando e recebendo várias chances.
Até aqui qual foi o jogo mais marcante do Chermont nos profissionais? A final do Paulista ou o do Avaí, quando marcou o primeiro gol?
São duas sensações distintas. Contra o Avaí, antes do jogo, eu sentia que ia fazer alguma coisa. Dar uma assistência ou marcar um gol. Quando arrisquei a finalização e vi que a bola desviou no zagueiro, eu não sabia nem o que fazer. Meti umas 500 comemorações, tentei dançar…
Apesar de tudo isso, acho que a final contra o Palmeiras foi mais especial. Ali passou realmente um filme na cabeça. No jogo contra a Ponte Preta, pela fase de grupos, eu estava na arquibancada assistindo. De repente, dois meses depois, eu estava ali em campo para disputar uma final de campeonato. Por isso, guardo o jogo contra o Palmeiras com um carinho mais especial.
Contra o Sport, em um determinado momento do jogo, o João Schmidt te chamou de lado e conversou bastante com você. Como atletas como João Schmidt, Gil e Diego Pituca, por exemplo, têm te ajudado dentro de campo?
Ah, eles têm, vamos dizer assim, a malandragem, né?! Eles sabem o caminho e o momento certo para determinadas atitudes ou escolhas. Nós, os jogadores mais novos, estamos empolgados, com a adrenalina lá no alto e eles já tem a malícia do jogo. Nos orientam dando bronca ou com uma fala mais leve. Eu acho que, nesse momento que você citou, ele estava me dando uma bronca para ajustar a marcação, porque a marcação que eu estava fazendo não estava funcionando. Ali fizemos uma mudança e tudo encaixou certinho.
Qual o conselho que mais te marcou?
Não é qual o conselho, mas quem mais me dá conselho, porque eu acato todos. Mas quem eu mais escuto é o Schmidt. Ele conversa bastante comigo e eu entendo o jeito que ele fala. Por vezes, pode até falar de maneira mais agressiva, mas eu gosto muito do jeito que ele ordena e orienta.
Mas o Schmidt consegue falar de maneira agressiva? Ele parece ser tão calmo…
Ah, consegue… (risos)
A sua irmã está fazendo faculdade de medicina, né? Ela vai seguir pra área do esporte?
Não vai para o esporte, não… Deixa a Julia ir para outra área. No esporte tem muita gente de olho na minha irmã (risos). Tenho que abrir o olho.
E é você que está custeando a faculdade dela?
Sou eu que pago a faculdade dela, sim. Desde as categorias de base eu tento ajudá-la com o pouco que eu tinha, porque é o sonho da vida dela. Então, como os meus pais apostaram no meu sonho de ser jogador de futebol, eles também apostam no sonho dela. E, na verdade, o meu sonho é poder ajudar toda a minha família que está em Bauru. Isso começando justamente por ela, que cuidou de mim quando meus pais não podiam estar presentes.
Qual é o seu parentesco com o Victorino Chermont, jornalista que faleceu no acidente aéreo com o elenco da Chapecoense?
Ele era primo da minha mãe. Eu não cheguei a conhecê-lo, mas sei da história dele. Acompanhava as reportagens na TV. Infelizmente ocorreu aquele desastre. Lembro do acidente. Eu tinha 10 anos. Foi bem complicado. A minha mãe ficou bastante chateada. E não só pelo Victorino, mas por tudo que causou aquele acidente.
Você segue indo para os treinamentos de bicicleta ou agora que tirou carteira de habilitação não quer mais saber de pedalar?
Eu tenho que pegar um carro para mim (risos). Eu só ando com o carro da minha mãe, tadinha… Às vezes acabo deixando ela a pé, coitada. Mas quando ela precisa ficar com o carro para ir na feira ou no mercado, eu venho de bicicleta sim ou a pé.
Qual o grande sonho do JP Chermont com a camisa do Santos?
O meu grande sonho mesmo é ganhar uma Libertadores pelo Santos. Mas, neste momento, é conseguir o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. A gente tem que trabalhar com a nossa realidade. Então, o meu sonho é recolocar o Santos na primeira divisão sendo campeão, que é o melhor para todos.
Parte da torcida diz que não precisa ser campeão, porque não quer esse título no Memorial das Conquistas. Vocês conversam sobre isso?
Ah… É o nosso trabalho. A gente entra num campeonato e queremos ganhar. Enquanto eu estiver jogando vou lutar para ser campeão. E tenho certeza que todos no elenco pensam assim.
Você estava na Vila Belmiro no confronto que resultou no rebaixamento do Santos?
Sim. Consegui um ingresso para aquele jogo que geralmente não conseguia. Costumava ficar na arquibancada mesmo, atrás do gol. Naquele dia, entrei pelas cativas e depois, sem ninguém ver, pulei para outro setor (risos). Mas aquele dia foi muito triste. Chorei, porque não tive como segurar. O primeiro jogo que assisti na Vila, quando cheguei, foi um em que o Rodrygo fez três gols.
Aceitar que esse clube estava rebaixado foi muito difícil. E para sair do estádio foi bastante complicado. Gás de pimenta, confronto entre a Polícia Militar e os torcedores. Tive que sair correndo para chegar em casa.