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‘Espero que ele seja o meu Telê’: apresentado, Carpini adota Muricy como mentor no São Paulo

Carpini fala sobre conversa com Dorival, planos para os reforços e primeiras ideias para o São Paulo

No longo processo de entrevistas que o São Paulo conduziu para escolher seu novo treinador, Muricy Ramalho foi um grande entusiasta de Thiago Carpini. A admiração é mútua, e a sintonia entre os dois foi imediata. Não à toa, o treinador pretende adotar o coordenador técnico como seu grande mentor no clube. Exatamente como Telê Santana fez com o agora ex-treinador, décadas atrás.

Apresentado oficialmente pelo São Paulo nesta segunda-feira (15), Carpini afirmou que quer que Muricy seja o “seu Telê”. O treinador diz que se identificou de imediato com o o coordenador durante as conversas por videoconferência pelo jeito direto nos questionamentos.

– Eu quero extrair o máximo. Ele contou um pouco da história da transição dele. Quando tinha o Telê. Eu fiz essa analogia comigo mesmo. Que ele seja o meu Telê. Que ele me ajude. Eu gosto de pessoas diretas, que falam olho no olho. Em relação à entrevista, o Muricy foi o Muricy. Direto, franco, objetivo. Ele entende todas essas mudanças. É um jogo diferente, um jogo mais estudado, dinâmico, de mais inteligência tática. Eu me identifico muito com várias falas dele. Inclusive, na nossa entrevista, pensamos muito parecido – disse Carpini.

Tricampeão brasileiro pelo São Paulo entre 2006 e 2008, Muricy foi auxiliar técnico de Telê Santana antes de engrenar carreira como treinador. Hoje coordenador técnico, ele foi um dos maiores entusiastas da contratação de Carpini para o clube.

Carpini assinou contrato com o São Paulo até o fim desta temporada, com cláusula de renovação automática em caso de um grande título, ou se ele atingir alguns objetivos estipulados. O treinador faz sua estreia pelo Tricolor no próximo sábado (20), às 18h (horário de Brasília), contra o São Bernardo, no Morumbi, pela primeira rodada do Campeonato Paulista.

Ao longo de quase uma hora de entrevista coletiva, o técnico não fugiu de uma pergunta sequer. Ele respondeu sobre as suas inspirações, o salto na carreira e também a responsabilidade de assumir o São Paulo. Carpini revelou que teve mais de uma conversa com Dorival antes de assumir o clube e ainda deu as primeiras pistas sobre como pretende armar a equipe e utilizar James Rodríguez

> Confira os principais trechos da entrevista:

Assumir o São Paulo aos 39 anos

“Eu tenho ouvido muito em relação à idade. É uma coisa que tem sido pauta em alguns questionamentos. Acho perfeitamente aceitável. Mas me preparei para esse momento. É uma oportunidade muito grande, não digo única. Mas creio que nesse momento, é a maior delas. Eu acho que a capacidade não está atrelada à idade. Todo mundo foi jovem um dia. Todo mundo teve uma primeira vez. Esta está sendo a primeira de dirigir um clube desse tamanho. Isso nos torna mais experientes ou mais vividos passando por elas. Em algum momento tem que acontecer. Antes da idade, eu enalteço mais a coragem do São Paulo em me oportunizar. Eu vejo um grande desafio, mas vejo o copo meio cheio, é uma grande oportunidade”.

Conversou com Dorival?

“O Lucas junto com o Pedro fizeram o trabalho mais minucioso da transição. O início da pré-temporada, as perspectivas do que foi trabalhado. Alguns pontos de vista que facilitam nosso trabalho. Isso encurta o caminho. A grande virtude do ser humano é aprender com o erro do outro. Eu não tenho uma relação de amizade com o Dorival, mas falamos na minha caminhada. Na final do Paulista, eu recebi uma mensagem de apoio com ele. Eu recebi ontem uma mensagem muito bacana dele, com o Lucas também. Eu sei que a demanda dele na Seleção é muito grande, mas é muito legal ver esse carinho que ele tem”.

“Tenho uma relação antiga com o Dorival. A gente trocou algumas mensagens. Encontrei nos cursos da CBF. Depois, na final do campeonato Paulista, ele foi um dos treinadores que estavam torcendo muito. Desde o dia que a gente firmou o compromisso, ele ficou aberto, escancarado mesmo tendo os compromissos da Seleção de me passar tudo o que ele deixou no São Paulo. Tanto que o Lucas e o Pedro ficaram aqui. É de uma grandeza muito bacana. Estamos sempre trocando informações para otimizar algumas coisas”.

Carpini conversou com Dorival antes de assumir o São Paulo (Staff Images/Divulgação CBF)

Já pensa na Supercopa?

Eu prefiro tratar jogo a jogo. Eu sei que cada jogo tem um peso, uma representatividade diferente. É uma final, um título. Um jogo grande. Mas temos um jogo contra o Santo André no sábado. É minha estreia. Meu primeiro contato com o Morumbi como comandante. Não posso pensar no quinto ou sexto jogo antes de pensar no primeiro. Esse período vai dizer como vamos chegar. A nossa Supercopa é o Santo André.

Interesse do Cruzeiro e do Santos

Eu fico feliz de ser lembrado por diversos clubes desse nível, dessa prateleira. Mas eu sempre penso que o próximo passo é o mais importante. Você sempre vai ser questionado pelo próximo passo. Eu lembro quando saí do Juventude, falaram como vai ser. Agora, como vai ser no São Paulo. É um treinador de Série A, B? É jovem? Eu me senti muito seguro pela maneira que o São Paulo me abordou, pelos processos internos do Rui, do Nelson, pelas conversas com o Muricy. É inevitável a referência que ele é para nós treinadores jovens. Eu ter a oportunidade de assumir o lugar de um técnico da Seleção e eu ter a oportunidade de sentar todos os dias para tomar café com uma pessoa assim. O Muricy me falou no sábado o tempo que ele teve com o Telê. E eu espero que o Muricy seja o meu Telê. Eu não tenho vaidade e quero muito aprender com ele”.

Mudança de patamar

Já parei e agradeci muito a Deus. Vejo como a vida é dinâmica. Eu peço todos os dias para não tirar os pés do chão. Não só na vida, mas no futebol, a vida oscila muito. Hoje eu tenho vivido um grande momento na minha vida. Eu quero aproveitar muito essa oportunidade. Essa relação humana, esse ambiente que existe aqui, eu quero absorver o máximo tudo isso. Fazer parte dessa maneira de forma positiva. O legado que o professor deixou do ano passado. Eu enquanto profissional, não muda nada. Os mesmos comportamentos. Muito trabalho, muito empenho, muita sinergia no meu vestiário. E algumas coisas para evoluir para eu me manter. Meu desafio é não passar por esse nível, mas me manter nesse nível”.

Como encaixar os reforços

Eu vejo como dor de cabeça boa. No meu papel como comandante, eu quero reiterar que o ano pós-conquista é mais difícil. Espera-se muito mais. A minha preocupação não é só onde vão jogar Luciano, Calleri, James. O mais importante é como a gente vai ter o coletivo, levando em consideração diversos fatores. A primeira fase vai ser mais ajustada. A gente vai precisar rodar mais o elenco. O São Paulo foi muito assertivo nesse projeto que foi acertado com a diretoria. É uma dor de cabeça boa.

Elenco está fechado ou busca mais reforços?

“Encontrei desde o início do processo e acho fantástico que o São Paulo adote esse processo, que sirva de exemplo para outros clubes para minimizar os erros. Eu sei todo o elenco, da base, os que jogaram, os que não jogaram. A planta do elenco me foi passada. É um elenco muito bom. Acredito que algumas peças pontuais podem surgir. Alguns pontos que possam ser necessidade. Um lateral, um atacante. Se isso acontecer, ótimo. Se não, estou muito otimista com o que vai acontecer no ano”.

Luan tem chance de ficar no São Paulo após chegada de Carpini (IconSport)

Herança de Dorival

“Muitas coisas do jogo, a gente pensa parecido. Quando você tem uma herança de trabalho vitorioso, tem muitas coisas boas. Pela troca de comando. Agora chegou o Carpini, agora é do meu jeito. As coisas boas, a gente potencializa. Outras, a gente pensa diferente. É natural. De maneira gradativa, vamos propondo outras ideias para melhorar o jogo coletivo”.

Utilizar Luan e Nikão

“Todos os atletas que se apresentaram foram num consenso da diretoria, do planejamento, até ter essa troca de comando. O Luan está integrado, vai brigar pelo espaço dele. O São Paulo tem uma linha de trabalho de respeitar as pessoas. A seleção é natural. Cada um vai ocupando seu espaço. Cabe a mim ir direcionando de acordo com os jogos e competições. Luan vai brigar pelo espaço dele. Se fizer por merecer, volta a jogar. Se não fizer, outro faz e volta para o final da fila. Eu não desisto das pessoas, mas todo mundo tem um limite”.

“(O Nikão) Já está conosco. Via ter a oportunidade no dia a dia. Temos que definir isso para que a gente possa cada vez mais estar próximo e mexer pouco no grupo e criar vínculos. Por isso que eu falo. São desafios gigantescos, mas muita coisa boa deixada pelo trabalho do Dorival”.

Ideias de jogo

“Eu gosto de um jogo mais impositivo. Identifico minhas equipes com um jogo de posse. Eu não gosto de bola longa. Não que não possa bater um tiro de meta. Se você gosta de ter controle, a bola não é nem sua, nem do adversário. Se tiver conceitos de forma mais organizada, sair de forma organizada, minimizando riscos para chegar com a bola com mais gente no ataque. E da mesma forma o inverso. Eu não abro mão da competitividade. Eu cobro muito esse encaixe alto na marcação para que a bola chegue mais disputada para a nossa última linha, a compactação, um time que não abra mão de ter a bola, mas com objetividade”

Referências como treinador

Pode até parecer. Não é meu perfil falar o que não penso. Eu sempre gostei da maneira do Dorival trabalhar, admiro o Fernando Diniz. Gosto da gestão de pessoas do Renato Gaúcho. É um cara que faz isso como poucos, tive oportunidade de ser jogador dele. Ele leva o dia a dia com de maneira muito leve. Alguns conceitos do Klopp, o Guardiola. A gente vê um pouco desses profissionais. Algumas coisas, a gente traz para nós. A gente vai formando os conceitos”.

James, Luciano e Lucas brigam por uma posição no campo?

“Pelo que conheço desses atletas, a gente acompanha muito esses atletas. O James tem uma função mais específica. Os outros têm mais alternativas. Em uma distribuição tática, o Lucas faz mais de uma função. O Luciano faz mais de uma função. O Wellington Rato. O James talvez seja o meia, meia mesmo. Talvez tenhamos que ajustar o James para fluir o que tem de melhor. Tive uma pessoa parecida no meu últtimo trabalho, o Nenê. Que a gente possa ter um entendimento em cima do adversário. Que eles possam dar o respaldo de trabalho para termos as melhores escolhas. Os outros dão mais alternativas. O James, vamos ter mais tempo para conhecer o dia a dia. Conheço o James de tudo o que ele fez, mas no dia a dia vai ser melhor.

Abrir portas para a nova geração

Isso não é um peso para mim. A minha preocupação no Água Santa, no Juventude, no Sâo Paulo. É sempre fazer o meu melhor. Conquistar o respeito. O futebol é movido a resultado. Mas o nosso dia a dia está muito além do resultado. Não me preocupo com essa carga de ser o jovem que tem que dar certo para abrir o cenário. A gente vive futebol, tive um período como atleta. O imediatismo, a formação de opinião pesa para algumas decisões.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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