O São Caetano como conhecemos morreu: vai mudar de nome e espera rumos
Tradicional São Caetano, vice-campeão da Libertadores há 21 anos tenta se reconstruir a partir de mudança
Para os mais saudosistas, o São Caetano sempre será conhecido como Associação Desportiva. Foi assim que o time encantou o Brasil e por pouco não conquistou a América em 2002, quando foi derrotado pelo Olímpia do Paraguai em uma decisão histórica. Pois bem, é triste analisar desta forma, mas o Azulão da forma como conhecemos está prestes a desaparecer e com ele seu tradicional escudo também será alterado, em uma tentativa, até certo ponto válida, de retomar o protagonismo do time, que chegou a fazer frente aos times grandes do Brasil no início do século.
O Azulão passará a se chamar São Caetano Futebol Clube, e seu escudo antigo, tão tradicional, será trocado por um mais moderno, com a imagem de seu mascote, ao centro. Uma mudança ousada, que tenta trazer a tona uma nova realidade ao time do ABC, que depois de 2005, nunca mais se encontrou dentro do cenário nacional, embora tivesse conquistado o vice-campeonato do Paulistão em 2007, diante do Santos. Sendo assim, o clube, que vai divulgar seus novos jogadores nesta terça-feira (14), está com o planejamento fechado para 2024, quando terá apenas a disputa do Campeonato Paulista A3 e a Copa Paulista.
Bicho-papão de vários clubes da elite do futebol brasileiro, em especial o Corinthians, o São Caetano perdeu um de seus principais patrocinadores em 2020, quando rompeu relações com a família Klein, ex-herdeira das Casas Bahia. Com isso, acumulou dívidas, chegou perto de decretar falência e agora conta com um ex-agente de Felipão, o empresário Jorge Machado, para reconstruir o clube, em um trabalho que vai demandar tempo, muita dedicação e acima de tuto profissionalismo para voltar ao cenário nacional.
São Caetano faz votação para definição de novo escudo
Na tentativa de trazer a população da cidade de São Caetano, e os apaixonados pelo futebol do clube, que se encantaram com o Azulão e sua meteórica ascensão no início dos anos 2000, a diretoria abriu votação para definição do novo escudo da agremiação, com duas opções possíveis. Para votar no novo escudo do time, os interessados poderão acessar a página oficial da equipe no Instagram (@adscoficial) e por lá ver os stories, onde é possível escolher uma das duas opções possíveis.
O objetivo da mudança de escudo e do nome é inserir o clube na nova realidade do futebol. Segundo nota publicada pelo São Caetano, uma nova era dentro da agremiação vai surgir a partir destas mudanças e conta com seus torcedores e amantes do que um dia foi o time para tentar levantar a agremiação.
“Diante da nova realidade do futebol e do clube, o Azulão passa a se chamar São Caetano Futebol Clube e terá também um novo escudo. Convidamos nossos torcedores para decidirem qual será usado já a partir da Copa São Paulo de Juniores, em janeiro. Uma nova era está se iniciando, e o Azulão já está pronto para voos ainda mais altos. Contamos com a colaboração dos nossos verdadeiros torcedores. Quem participar da enquete irá concorrer a uma bola oficial, uma camisa nova do clube e um par de ingressos em todos os jogos do São Caetano como mandante no Paulistão 2024”, publicou o clube.
Repercussão negativa faz diretoria do São Caetano mudar de ideia em relação ao escudo
É só em um momento como este de mudança que podemos observar o quanto o torcedor é apaixonado pelas tradições de um clube. Quem teve a oportunidade de acompanhar a ascensão do São Caetano no início dos anos 2000, mesmo que torcesse para outro time, simpatizava com o Azulão e se entristeceu muito por conta do que aconteceu com o clube nos últimos anos. Sendo assim, muitos torcedores e internautas repercutiram a possível mudança de escudo do time, o que fez a diretoria repensar a ideia de alterar o distintivo da agremiação.
O engajamento e pedidos para que o logo não fosse alterado foi tanto, que na manhã desta terça-feira (14), o clube emitiu uma nota oficial explicando que não irá mais fazer a alteração do escudo, agradecendo pela interação da torcida e reafirmando o compromisso de fazer do São Caetano um clube grande novamente.
Por conta da grande repercussão junto a nossa torcida, o que entendemos ser o maior património do clube, a diretoria decidiu que não irá mudar o escudo do Azulão. Estamos imbuídos em buscar novos dias de vitórias para o clube e contamos com o apoio dos nossos verdadeiros torcedores para que 2024 seja o grande ano de retomada com as conquistas. Os desafios são proporcionais a certeza que juntos seremos ainda mais fortes.
Todos juntos com o São Caetano.
Conheça Jorge Machado, o mentor por trás das mudanças no São Caetano
Jorge Machado, famoso no mundo do futebol por cuidar das carreiras de Felipão e Rivaldo, será o encarregado por tentar trazer o São Caetano de volta ao cenário nacional. Para o dirigente, o momento é de acordar um gigante adormecido e afirma que o time vai recuperar-se em relação ao que passou nos últimos anos e que a partir de seu retorno, não sabe o que o futuro reserva ao clube. O primeiro passo vem com a mudança do nome e do escudo e posteriormente a luta pelo acesso à Série A2 do Campeonato Paulista.
“O São Caetano é muito grande, tem muita história. Não tem última cartada, não tenho a pretensão de achar que vou fazer uma coisa diferente de um clube do tamanho que tem o São Caetano. O clube está adormecido. Nós vamos acordar e depois quem vai embalar eu não sei. Vamos esperar que seja a gente, que sejamos a babá”, frisou Machado.
Para o empresário, São Caetano do Sul é uma cidade com muito potencial de investimento e afirma que não será o único responsável por reconstruir o time, que nos últimos anos, acumulou nada mais nada menos do que sete rebaixamentos, sendo o último na 2ª divisão estadual, o que parece ter sido o fundo do poço para um time que até 20 anos estava lutando pelo título do Campeonato Brasileiro e por detalhes não conseguiu disputar o Mundial de Clubes diante do Real Madrid.
O São Caetano chegou a ser leiloado em 2023 para tentar sanar suas dívidas trabalhistas, judiciais, fiscais e extrajudiciais, que juntas somam aproximadamente R$ 90 milhões de reais. Entretanto, após ninguém se manifestar pela compra do clube, o atual presidente do clube, Manoel Sabino Neto, conseguiu na Justiça o direito de retomar a administração do Azulão e a venda da agremiação acabou sendo descartada.
São Caetano busca por parceiros para voltar a ser forte
Até 2020, o São Caetano recebia doações da família Klein, fundadora da rede de lojas varejistas Casas Bahia. O nome mais importante desta relação entre Azulão e a empresa era Saul Klein, que, após um desentendimento com Nairo Ferreira, diretor do clube, acabou cortando relações com a entidade esportiva, o que deu início a crise atual vivenciada pelo time. Segundo Klein, sua família teria destinado mais de R$ 80 milhões de reais à agremiação e acumulado uma dívida de R$ 50 milhões.
Por conta do desentendimento entre investidor e dirigente, a relação entre a família Klein e o São Caetano acabou encerrando. Os títulos da Copa Paulista de 2019 e do Paulista da Série A2 em 2020 foram as últimas grandes conquistas do clube, mas foram rapidamente abafadas pelo rebaixamento da elite do futebol de São Paulo em 2021 e o acúmulo de dívidas que por pouco não penhoraram praticamente todo o acervo do clube.
Para Jorge Machado este tipo de parceria, na qual a entidade esportiva depende de um mecenas para pagar suas contas, é muito danosa e por isso, até o início da próxima temporada tem trabalhado muito para conseguir parceiros interessados em investir no clube para fortalecer seu elenco e ser competitivo no calendário que terá em 2024. Além da Série A3, o São Caetano vai em busca do título da Copa Paulista, que dá ao campeão o direito de disputar a Copa do Brasil ou o Campeonato Brasileiro da Série D. Apesar de afirmar que não se importaria de colocar dinheiro do próprio bolso para administrar o clube, este tipo de relação unilateral geralmente não termina bem.
“Quando você depende de um aporte financeiro e esse aporte falta, o clube sente. Você tem que ter um clube compacto, desde a categoria de base até de cima se sustentando. Isso é difícil, o Palmeiras caiu quando a Parmalat saiu, o Fluminense depois da Unimed sofreu muito. Você não pode depender do aporte financeiro de uma pessoa, você tem que depender de planejamento e trabalho”, detalha o dirigente.
Não há espaço para paixão nem amadorismo, o futebol moderno deve ser tratado como negócio, no qual o maior beneficiário deve ser o clube e seus torcedores. O São Caetano foi um dos times mais admirados no Brasil, muito por conta de sua fama de bom pagador e de uma cidade que abraçou seu clube e que sonha em ver o Azulão na elite do futebol paulista e brasileiro. A partir da mudança do escudo e de seu nome, será necessário escrever uma nova história, como em um livro em branco, na qual a trajetória pode culminar com um dos maiores cases de reconstrução de clubes no Brasil.
Estar entre os dois times que subirão para a Série A2 do Paulista em 2025 e lutar pelo título da Copa Paulista para conseguir uma vaga na Copa do Brasil ou na Série D do Brasileirão são os objetivos principais de uma diretoria com muita vontade e energia para fazer história no futebol.