Brasil

São Caetano: de vice-campeão da Libertadores ao ostracismo e iminente risco de falência

Dívida milionária com prestadora de serviço pode levar o São Caetano a ter todos os seus bens bloqueados pela Justiça

Quem pôde acompanhar a ascensão do São Caetano, carinhosamente apelidado de Azulão, jamais poderia imaginar o que aconteceria com o clube na segunda década do século XXI. Promovido à primeira divisão do futebol paulista em 2000, o ainda desconhecido time do ABC Paulista chegou como um rolo compressor no cenário nacional e 23 anos depois, pode ser obrigado a fechar as portas.

A Trivela explica, em detalhes, como o time decaiu e agora enfrenta sérios problemas financeiros, que podem causar o bloqueio dos seus bens pela Justiça.

A sensação São Caetano

Em 2000, o São Caetano foi vice-campeão do Módulo Amarelo da Copa João Havelange, e enfrentou o Vasco da Gama na decisão daquela competição. O time se manteve muito competitivo em 2001, cravando um vice-campeão brasileiro, quando perdeu a final para o Athletico Paranaense de Geninho e Alex Mineiro. Mas o ápice do Azulão veio um ano depois.

Em 2022, o time paulista fez uma campanha histórica na Libertadores, e por muito pouco não chegou a conquistar a Glória Eterna. A América do Sul parou para assistir ao São Caetano de Jair Picerni, que tinha como formação base a seguinte escalação: Sílvio Luiz; Russo, Daniel, Dininho e Rubens Cardoso; Marcos Senna, Adãozinho, Robert e Anaílson; Somália e Aílton.

Na final, o Azulão enfrentou o Olímpia do Paraguai, do goleiro Tabarelli e do meia Orteman. Apesar de ter vencido o primeiro jogo daquela final por 1 x 0 no Defensores Del Chaco, o Azulão perdeu de virada o jogo de volta no Pacaembu por 2 x 1, e acabou perdendo o título nos pênaltis.

Dois anos mais tarde, o São Caetano se manteve como um clube forte, e que sempre incomodou muito os times considerados grandes. Em 2004, o Azulão faturou o título estadual em cima do Paulista de Jundiaí, na 2ª final “caipira” da história da competição. Treinado por Muricy Ramalho, a equipe do ABC venceu os dois jogos, realizados na época no Pacaembu, sendo 3 x 1 no primeiro jogo e 2 x 0 no segundo.

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São Caetano: do céu para o abismo em 19 anos

A partir daí, o clube não conseguiu mais se manter tão competitivo, e começou a acumular dívidas, e mais do que isso, a falta de estrutura financeira fez o time despencar, e praticamente sumir do mapa, tanto no cenário nacional quanto no estadual. Em 2023, a Associação Desportiva São Caetano foi rebaixada no Campeonato Paulista A2, e jogará a 3ª divisão de São Paulo em 2024.

Entre o final de 2022, e o início de 2023, o departamento de futebol do São Caetano tentou vender o clube para algum investidor, em uma tentativa de aderir ao modelo de gestão das SAFs. Porém, as duas tentativas foram frustradas por conta da falta de investidores. O São Caetano possui uma série de dívidas trabalhistas, fiscais e extrajudiciais. O primeiro lance oferecido a possíveis financiadores foi de R$90 milhões. Com a negativa, um novo pregão foi desenvolvido no valor de R$60 milhões, também sem sucesso.

Rompimento com dono das Casas Bahia culminou em uma crise quase sem fim

O Azulão se tornou o que foi por conta do aporte financeiro de Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia e um dos empresários mais ricos do Brasil. A relação entre Klein e São Caetano durou até 2020, quando houve um rompimento entre as partes. Nos últimos anos de parceria, uma crise financeira sem precedentes atingiu o clube, a ponto de acumular mais de seis meses de salários atrasados, seja para jogadores, funcionários e fornecedores. Um caso polêmico de W.O pela recusa dos atletas em entrar em campo, e uma derrota por 9 x 0 no Campeonato Brasileiro da Série D também marcaram os últimos e tristes anos do clube.

Praticamente sem calendário para disputar na próxima temporada, o São Caetano está sufocado por dívidas, e o que já foi um time temido no início dos anos 2000, corre o risco iminente de decretar sua falência nos próximos dias. Na última sexta-feira (6), a empresa Stars Securitizadora, que prestou alguns serviços para o clube, entrou com um pedido na Justiça de um pagamento de valores devidos, que somados chegam a cerca de R$2,8 milhões.

Com isso, a empresa entrou com um pedido de falência de Confissão de Dívida por parte do São Caetano, que possui um prazo de até 10 dias, desde a emissão deste pedido judicial, para quitar os valores. Caso contrário, todos os seus ativos passarão a ser gerenciados por um Administrador Jurídico, escolhido por um Juiz de Direito, para que todos os valores devidos pelo clube sejam quitados.

O São Caetano vai falir?

Conforme apurado pela Trivela, o São Caetano forneceu algumas notas promissórias para quitação da sua dívida junto à Stars Securitizadora. O clube também assinou uma “Confissão de Dívida”, documento no qual reconhece que deve este montante para a prestadora de serviço. Por conta do não pagamento de nenhuma das parcelas deste acordo, a Stars protestou esta; dívida e entrou com o pedido de decretação de falência.

A Trivela conversou com o advogado especialista da área, o Dr. Ricardo Del Sole do S.DS Advogados, que deu mais detalhes dos procedimentos a serem seguidos a partir de agora, e o que poderá acontecer com o São Caetano caso a dívida não seja paga no prazo estipulado. Del Sole também acompanhou o andamento do processo de recuperação judicial do Guarani, que está disputando a Série B do Campeonato Brasileiro, e que pretende se tornar SAF nos próximos anos.

O clube campineiro tinha um alto montante de dívidas oriundos de ações trabalhistas, mas tem conseguido colocar as suas contas em ordem, e pode, em um prazo bem curto, seguir um caminho de muito sucesso dentro do cenário futebolístico nacional.

A partir de agora, o São Caetano terá este prazo (de 10 dias) para realizar o pagamento desta dívida junto à Stars Securitizadora. Caso o montante devido não seja quitado, o clube terá todos os seus bens e ativos congelados, e um Administrador Judicial, escolhido pelo Juiz, será o responsável por listar os credores do clube, e vender o que o clube tiver para a realização do pagamento deste valor, afirmou Del Sole.

O advogado ainda explicou as diferenças entre o processo vivido pelo Guarani e São Caetano. No caso do Bugre, apesar de ter entrado com um pedido de recuperação judicial, e ter acumulado dívidas altas ao longo dos anos, o clube ainda detém a administração de todos os seus ativos, mas é acompanhado de perto por um gestor, que monitora as contas do clube para garantir que todas as dívidas sejam pagas. Já o Azulão terá todos os seus ativos transferidos de seu conselho administrativo para um profissional à parte do clube, e dedicado à análise, à listagem dos credores, e ao pagamento de todas as dívidas existentes.

Como o Guarani pretende se tornar uma SAF em breve, terá de quitar todas as suas dívidas, por isso, entrou com um pedido de recuperação judicial. Ao contrário da falência, o clube ainda detém o controle de seus ativos, mas é acompanhado de perto por um gestor judicial, que fiscaliza o pagamento do montante devido.

Já o São Caetano, caso não consiga fazer o pagamento deste valor no prazo estabelecido, terá seus bens e ativos congelados, e gerenciados por um administrador judicial, tirando este poder do conselho de administração do clube. Este profissional terá como missão listar todos os credores, e avaliar o que será possível fazer para realizar a quitação da dívida, explicou o advogado.

Sem projeção de melhora, São Caetano aguarda por um milagre

Outrora considerado uma potência, o São Caetano amarga as duras consequências de suas gestões ruins, e da falta de dinheiro. Caso seja concretizada a sua falência, o Azulão correrá o risco de não participar do Campeonato Paulista da Série A3 em 2024, e pior do que isso, ser punido pela Federação Paulista, e praticamente desaparecer do cenário profissional do futebol no Brasil.

A única esperança para o clube, e para o torcedor da cidade, que aprendeu a amar o time que quase foi campeão da América do Sul há 21 anos, é a chegada de algum investidor que possa gerar receita para o clube, e assim, sanar as suas dívidas.

Com a popularização dos clube-empresas no Brasil, o único caminho possível para a Associação Desportiva São Caetano é buscar por financiadores e apresentar um projeto eficiente para tentar salvar um dos representantes do ABC Paulista que foi mais longe na história do futebol da região.

 

 

Foto de Lucas de Souza

Lucas de SouzaRedator

Lucas de Souza é jornalista formado pela Universidade São Judas em São Paulo. Possui especialização em Marketing Digital pela Digital House, e passagens pelos sites Futebol na Veia e Futebol Interior.
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