Brasil

Finanças carregam o piano em 2023 de agressões e fiascos do Flamengo fora de campo

O Flamengo conseguiu fechar o ano com superávit de R$ 268 milhões, mas sucumbiu pelas escolhas erradas da diretoria e ambiente interno desequilibrado

Se dentro das quatro linhas o Flamengo foi mal, o ambiente fora delas explica bem as razões para os fracassos da temporada. Internamente, o Rubro-Negro viveu mais situações de saia justa do que de felicidade em 2023, muito pelas escolhas da diretoria, que já começou o ano errando ao não renovar o contrato com Dorival Júnior. O que se viu depois foi uma cartilha do que não fazer.

Os principais erros foram nas escolhas de treinadores. Vítor Pereira chegou, teve pouco tempo para trabalhar, não se adaptou e foi rapidamente demitido, com apenas quatro meses de casa. Landim buscou Sampaoli, mas fatores extra-campo, como o soco na cara de Pedro, destruíram a relação dele com o grupo. Em resumo, só a chegada de Tite deu certo, por enquanto.

Os episódios de agressão, inclusive, mostraram bem como o ambiente do Flamengo estava fervendo. Além disso, cada um teve a sua vertente: o primeiro envolveu um membro da comissão técnica e um atleta, o segundo teve Gerson e Varela, dois titulares, como protagonistas, e o último — e mais assustador — mostrou um lado que não se conhecia de Marcos Braz, vice-presidente de futebol. Ele mordeu a virilha de um torcedor após discussão em shopping, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Gerson e Varela trocaram socos, e o uruguaio precisou usar proteção na face para jogo da Copa do Brasil (Foto: André Durão)

Faltaram, também, algumas contratações pontuais que poderiam ter oxigenado o elenco do Flamengo, como dois laterais, um volante de contenção e um meia de criação. Os dois últimos foram prioridade na janela, mas o clube sonhou com Claudinho, Wendel e De La Cruz e acordou sem nada. Positivo mesmo só as finanças, que mais uma vez bateram recordes e mantiveram o Rubro-Negro como a principal potência da América. No campo da relação com a imprensa, mais do mesmo: sem treinos, poucas coletivas e muita especulação.

Finanças carregam o piano e são destaques positivo para o Flamengo

Mesmo que o Flamengo tenha falhado em outras áreas, as finanças continuam sendo carro chefe. O Rubro-Negro havia faturado mais de R$ 1 bilhão antes mesmo de outubro, com superávit de R$ 268 milhões. O clube se valorizou bastante como marca internacional, mas seu trem pagador continuou sendo a sua torcida. Maior patrimônio do clube, a Nação deu show em 2023 para manter o barco flutuando com tranquilidade.

As finanças do Flamengo seguem mostrando porque o clube é um gigante do futebol sul-americano (Foto: Infoesporte)

O Flamengo faturou mais de R$ 200 milhões somente com o matchday, que é dividido entre todas as vendas relacionadas aos jogos da equipe profissional. O clube também superou as expectativas financeiras com premiações, com R$ 17 milhões de sobra, e com vendas de jogadores . A segunda, equivalente a R$ 282,3 milhões, representa um aumento superior e R$ 160 milhões com relação ao mesmo período do ano passado.

Diretoria erra constantemente nas escolhas e mina o ano do Flamengo

É inegável que o ano do Flamengo se resumiu às decisões erradas de departamento de futebol e alta cúpula da diretoria. Desde a troca de Dorival Júnior à manutenção de Sampaoli após os episódios de agressão, tudo contribuiu para que o Rubro-Negro não se mantivesse são em momentos chave da temporada. A ausência de contratações de peso, com exceção do retorno de Gerson, também pesaram bastante para a perda de fôlego do elenco na reta final.

A falta de sinergia interna do Flamengo também não colaborou. Fazer com que todos sem motivem em um ambiente de isolamento não é nada fácil, não seria diferença em um clube que é potência da América, com uma torcida que clama por resultados. Sete reforços e três treinadores na temporada. Não é a toa que o Rubro-Negro terminou o ano sem nenhum título pela primeira vez desde 2016.

O que esperar do Flamengo fora de campo em 2024?

Um amigo de cobertura do Flamengo uma vez me disse que o clube era tranquilo como Bagdá. Ao viver o dia a dia do Rubro-Negro, fica clara a analogia. Ainda que a equipe profissional vença todos os títulos por muito, alguns assuntos ainda serão discutidos com afinco. Afinal, a cobrança é uma das maiores do futebol brasileiro. Taças para o alto viraram rotina.

Braz e Landim terão muito trabalho para colocar o Flamengo novamente em outro patamar (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

O 2024 começará cheio de pressão e, conforme os resultados forem aparecendo, isso pode melhorar, ou não. Dentro de campo, o Flamengo precisa mostrar força, todos sob os olhares atento de uma diretoria pressionada, em ano de eleição. Se as escolhas de 2023 se repetirem, o caldeirão tem tudo para ficar ainda mais quente. Tite, elenco e dirigentes estão sob enorme responsabilidade.

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
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