Pia em xeque: tudo o que sabemos sobre a possível saída da técnica da seleção
Treinadora da equipe feminina anda na corda bamba, mas CBF prega paciência para tomar decisão

Uma semana depois da eliminação na Copa do Mundo, a seleção feminina segue com futuro incerto. No aguardo de uma definição da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ainda não se sabe se a treinadora Pia Sundhage, assim como outros membros da comissão técnica, seguirão na equipe. Porém, a permanência da sueca parece pouco provável diante da repercussão negativa pela queda prematura.
Neste raio x, a Trivela analisa os possíveis caminhos para a troca do comando da seleção feminina e detalha os últimos acontecimentos nos bastidores da entidade.
Pia Sundhage em xeque
A atuação apática do Brasil contra a Jamaica, na última quarta-feira (2), deixou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, de “cabeça quente”. Além de ficar incomodado com a falta de criatividade da equipe, outro ponto que incomodou muito o mandatário foi a postura blasé de Pia e seus auxiliares à beira do gramado – a mesma criticada por Cristiane em entrevista à Trivela.
Mesmo assim, a alta cúpula da CBF ainda estuda sua saída, principalmente pelo medo de errar na troca a menos de um ano dos Jogos Olímpicos de Paris. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o tema ainda é embrionário e só deve ter um desfecho ao fim da Copa do Mundo.
Apesar de se sentir pressionada a dar uma resposta, pelo desempenho ruim da seleção, a entidade não quer acelerar o processo de demissão. Isso porque o caso do time masculino, que pena para substituir Tite, tem assombrado Ednaldo e a alta cúpula.
A CBF anunciou Fernando Diniz como técnico interino até 2024, enquanto aguarda o fim do contrato de Carlo Ancelotti com o Real Madrid. Nem o treinador italiano ou o clube espanhol confirmam essa informação.
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Substitutos são estudados pela CBF
A troca de comando não é tratada como uma solução pela CBF, mas nomes já estão sendo estudados pela entidade para substituir Pia. O ge informou que Arthur Elias, técnico do Corinthians, e Emily Lima, ex-técnica da seleção brasileira e atual treinadora da seleção peruana, são os alvos. A Trivela confirmou a informação.
Em contato com a reportagem, Emily diz ainda não ter recebido nenhuma sondagem e ressalta que tem um compromisso com a equipe do Peru. O treinador do Corinthians não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta matéria.
Pia Sundhage: pontos fortes e fracos na seleção
A escolha de Pia Sundhage para técnica da seleção brasileira feminina fazia foi uma ótima escolha quando foi anunciada. A sueca tinha trabalhos relevantes no currículo, como as seleções americana e sueca, somando boas campanhas que incluíam dois ouros olímpicos. Por isso, era completamente compreensível que houvesse empolgação.
Além disso, houve ganhos com Pia. Ela acendeu uma luz para a CBF, mostrando as falhas na gestão do futebol feminino. Faltava calendário, faltavam competições (incluindo as de base), faltava um departamento para a modalidade. Pia não é responsável direta por tudo isso, mas a sua voz foi importante, principalmente pelo know how que tinha. Com ela, o Brasil evoluiu nesse sentido.
Dentro de campo, o que Pia trouxe também ficou claro: a técnica fez o time ter um padrão tático, o que foi sentido especialmente nos primeiros dois anos do seu trabalho. O problema é que, por mais que implementasse um formato de jogo, a treinadora tinha dificuldade para lidar com a parte técnica das brasileiras. Na Olimpíada de Tóquio, por exemplo, primeiro grande torneio, o futebol brasileiro teve altos e baixos no feminino. A eliminação diante do Canadá, e sem jogar um bom futebol, foi decepcionante.
O trabalho deu seus primeiros sinais de esgotamento na Copa América de 2022. O Brasil, grande favorito, passou com tranquilidade na primeira fase, com goleadas e vitórias maiúsculos. Passou pelo Paraguai sem sofrer grandes ameaças, mas a final contra a Colômbia mostrou um time sem criatividade, com claras limitações técnicas, e que venceu sem ter jogado bem.
Por outro lado, quando a equipe foi testada diante de potências da modalidade, mostrou evolução. Nos últimos compromissos antes da Copa, conseguiu alguns bons desempenhos, como a vitória sobre o Japão, na She Believes Cup, o bom jogo contra a Inglaterra, na Finalíssima, com derrota apenas nos pênaltis, e a vitória em amistoso contra a Alemanha. Resultados animadores para o Mundial.
Durante todo o ciclo, porém, o Brasil teve diversos problemas contra equipes que se defendem muito. Nesses casos, transparecia a falta de criatividade. A saída de bola por vezes ficava restrita a lançamentos longos de Rafaelle, em busca da veloz Geyse. Embora a formação tática fosse cumprida à risca, as jogadoras que atuavam pelos lados do campo tinham pouca influência no jogo, como poderiam, e isso prejudicava a criação.
O desempenho na Copa deixa claro que o trabalho de Pia se esgotou. Teve momentos para serem valorizados, mas a falta de evolução desde a final da Copa América não dá sinais de que algo vai mudar. Há uma Olimpíada para ser jogada, em menos de um ano, e a perspectiva para o Brasil não é boa diante do que se viu na Copa. Não só porque o time não teve um bom desempenho, mas porque diversos outros times mostraram capacidade de competir e complicar a Canarinho.
Sem Pia, a CBF deveria olhar para Arthur Elias, que monta o time mais vitorioso do futebol feminino nos últimos anos. Mas ele não é a única opção. Tatiele Silveira, que fez bom trabalho na Ferroviária e atualmente está no Colo Colo, do Chile. São apenas dois nomes, mas, a verdade é que é hora de voltar a ter um comando brasileiro à frente da equipe nacional.