Alvo de Corinthians e Flamengo no passado, treinador português explica ‘não’ ao Brasil e dá razão a Abel Ferreira
Especulado no último ano em gigantes do Brasil, Paulo Fonseca apontou o calendário brasileiro como principal razão para não ter aceitado os convites
O “boom” de técnicos portugueses no futebol brasileiro, potencializado pelo rápido sucesso de Jorge Jesus no Flamengo em 2019, trouxe diversos nomes de peso ao país, como Abel Ferreira, Bruno Lage, Jesualdo Ferreira, dentre outros. Um dos treinadores especulados (e foram muitos), mas não contratados, foi Paulo Fonseca, alvo do próprio Rubro-Negro carioca e do Corinthians no ano passado. Aos 50 anos, o atual comandante do Lille, em entrevista à Trivela durante o evento TransferRoom Summit em Lisboa, explicou os motivos de não ter treinador uma equipe do Brasil e justificou com uma declaração do compatriota que comanda o Palmeiras.
Fonseca assumiu que recebeu convites de clubes brasileiros, mas que o calendário, que exigem que as equipes joguem de dois em dois dias, não o deixaria fazer o time jogar de “forma atrativa” – algo considerado essencial para o técnico.
– Sim, eu tive vários convites durante esses últimos tempos do Brasil, das melhores equipes. Agora, há coisas que eu devo confessar que não motivam no futebol brasileiro e é aquilo, no fundo, o que o Abel [Ferreira, do Palmeiras] disse esta semana. Para um treinador que gosta de construir uma forma atrativa de jogar, eu acho que no Brasil é impossível, porque não há tempo. As equipes jogam de dois em dois dias, viagens, não há tempo para treinar, não há tempo para recuperar. Como é que os treinadores conseguem trabalhar as suas equipas? É difícil.
– Como eu sou um treinador que gosta do jogo, gosta da forma de ganhar, não só de ganhar, para mim é difícil trabalhar no Brasil, porque não há tempo e não há tolerância. Porque quando existe menos tempo, maior tolerância deve haver porque se deve compreender que os treinadores não têm tempo para trabalhar e funciona [no Brasil] precisamente ao contrário. Então, se perde três ou quatro jogos e os treinadores são demitidos – desabafou o português, tendo uma visão realista do país, mesmo de longe.
Paulo Fonseca ainda exaltou a qualidade dos jogadores brasileiros, a competitividade do campeonato e as grandes festas nos estádios, mas trata isso um bônus em meio aos diversos ônus do futebol no Brasil.
– Eu sei que o Campeonato Brasileiro é altamente atrativo, tem grandes jogadores e atmosferas incríveis nos estádios, mas estes são prós dentre vários contras das nossas coisas como treinadores. Volto a dizer, se nós queremos construir algo, temos que ter tempo para isso. O Abel tocou nesse ponto em uma entrevista coletiva: [o calendário] é altamente desgastante, mas é também muito difícil porque é recuperar e jogar, recuperar e jogar – completou.
Por que Paulo Fonseca escolheu o Lille?
Paulo Fonseca fechou com o Lille para temporada 2022/23 e fez boa Ligue One, terminando em quinto (Foto: Icon Sport)O técnico português ficou um ano parado, entre a saída da Roma em 2021 até a chegada ao Lille, no meio de 2022. Antes de fechar com os franceses, Paulo era apontado como alvo do Flamengo, que fechou com o compatriota Paulo Sousa, e possível substituto de Sylvinho no Corinthians, em fevereiro do ano passado. Para aceitar o convite, ele novamente levou em consideração o tempo para treinar e implementar suas ideias, além de citar a força da Ligue One.
– [Os motivos para escolher a França] Ter um campeonato altamente competitivo, cheio de jovens talentos e ter tempo para construir algo meu, ter tempo para construir uma equipe com as minhas ideias. E no primeiro ano foi importantíssimo não ter competições europeias, tivemos sempre semanas limpas para treinar. Este ano temos a Conference League, é mais difícil, mas ainda assim é longe do que se faz no Brasil, em que não há paragens, em que se joga dois em dois dias – exaltou Fonseca.
Ainda falando do Campeonato Francês, Paulo Fonseca foi mais longe e trata a competição como a segunda principal liga da Europa, atrás apenas da Premier League, da Inglaterra.
– Para mim, o campeonato francês – e não é por eu estar lá -, mas é, talvez, o segundo melhor campeonato da Europa. Não quero fazer comparações com os outros continentes, como vocês da América do Sul, porque também tem campeonatos fortíssimos, mas na Europa não tenho dúvida nenhuma que talvez a França neste momento seja o segundo campeonato mais forte da Europa agora – finalizou o português.