Brasil

‘Está esquisito’: segunda pipocada do Palmeiras contra arquirrival em menos de um mês precisa acender alerta

Palmeiras precisa reaprender como ganhar dos seus principais adversários se quiser uma temporada sólida e o apoio da torcida

O Palmeiras, de fato, fez um jogo exemplar contra o Corinthians no domingo (18), pelo Campeonato Paulista. Se tivesse repetido os 3 a 0 de abril do ano passado, na mesma Arena Barueri, ou os 4 a 0, de janeiro de 2021, do Allianz Parque, o resultado teria de ser encarados como normal e justo.

Em vez disso, o Palmeiras saiu de campo “derrotado” por um empate em 2 a 2, diante de um Corinthians ainda sendo organizado, claramente mais pobre de recursos técnicos, que estava quase eliminado do Campeonato Paulista. E que, pior, jogava com nove jogadores e tinha o zagueiro Gustavo Henrique improvisado como goleiro.

Contra o São Paulo, na Supercopa Rei, no ultimo dia 5, a superioridade não foi tão grande. Ainda assim, o Alviverde, que é um time melhor que o Tricolor do Morumbis, criou mais chances, teve mais volume e bateu mais a gol. Se alguém tinha de sair do tempo normal com o troféu, esse time era o Palmeiras. Mas vieram os pênaltis. E o Palmeiras perdeu. De novo.

Nos dois casos, há ainda um agravante: enquanto Abel tem quatro anos de Palmeiras, Thiago Carpini, do São Paulo, tinha quatro jogos, antes de superar o Verdão. António Oliveira é ainda mais novato no seu clube: o Dérbi foi o terceiro jogo dele no comando do time.

Na tensa entrevista coletiva após o empate de ontem, passou quase batida uma resposta de Abel dizendo estar acontecendo algo com o time que lhe escapa.

– Como vou explicar as chances perdidas? Não teve nada a ver com volume que criamos. Se chegasse e falasse que fez cinco ou seis chutes, que não criou, mas não foi o caso. Nosso problema não tem sido o volume. Estamos a fazer gols, mas falta um bocadinho, que está esquisito – disse o técnico.

Não é só eficácia

O fato de os clássico terem acontecido em um intervalo tão curto de tempo torna fácil tentar rabiscar uma análise. Abel, por exemplo, fala em falta de eficácia – algo que os números comprovam. Mas não parece ser só isso.

Perder nos pênaltis é algo bem corriqueiro para o Palmeiras de Abel. Foram sete derrotas em oito disputas, afinal. E sim, perder pênaltis, ou não defendê-los, é falta de eficácia. Mas também é falta de um psicológico mais robusto, de um estofo emocional mais sólido na hora do “vamos ver”.

Do mesmo jeito, deixar de matar um jogo em que se é tão superior, como contra o Corinthians, também denota, no mínimo, a ausência de um instinto “assassino” e pragmático. Um desejo de transformar em resultado prático a excelência da execução do projeto de jogo.

Porque ganhar nem sempre é consequência de se jogar bem. Ganhar, aliás, sobretudo no futebol, é algo mais simples: basta superar a pontuação adversária.

Se nem Abel sabe, não é a Trivela quem vai definir o que é o tal “bocadinho” que esteve a faltar ao Palmeiras nos dois clássicos. Mas, com a autoridade de quem viu de perto as duas derrocadas, é possível afirmar que tanto Corinthians quanto São Paulo demonstraram mais gana de superar o Palmeiras do que o Alviverde teve de superá-los.

Não, o Palmeiras não joga sem vontade, entrega ou dedicação. Mas talvez, diante da superioridade técnica flagrante e das tantas e merecidas conquistas, precise reencontrar o prazer em afundar seus rivais. Porque é nos clássicos que os times ganham força, confiança e, acima de tudo, reforçam ou afrouxam os laços com a torcida.

Em 3 de março, o Verdão terá novamente o São Paulo pela frente. Seja qual for o problema, o Palmeiras tem 12 dias para solucioná-lo.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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