Brasil

Nota oficial de organizada e farpa de ex-presidente: como Data Fifa acirrou (ainda mais) os ânimos no Palmeiras

Palmeiras vive dias tensos em razão da sequência de resultados negativos e das declarações da presidente Leila Pereira fora de campo

A Data Fifa era uma promessa de dias mais tranquilos para o Palmeiras. Vindo de cinco jogos sem vencer, uma eliminação na Libertadores e uma derrota em clássico, parecia benéfico uma pausa de jogos e tempo para acalmar os ânimos. A presidente Leila Pereira, no entanto, tinha outros planos. Em entrevista coletiva concedida a alguns veículos selecionados pelo clube na quarta-feira (11), a dirigente dividiu a história do Alviverde em antes de depois da sua chegada ao comentar o ano irregular do clube, defender suas decisões e atacar a organizada Mancha Verde, que respondeu nesta quinta-feira (12).

Em extensa nota oficial, a principal organizada do clube chamou a presidente de “mentirosa do pior tipo”, classificando a recente entrevista como “um deplorável espetáculo de narcisismo”. A Mancha ainda rebateu diferentes tópicos que chamou de “devaneios de uma mente perturbada”. Se o clima entre torcida e direção já não era bom, agora beira o insustentável.

Os pontos rebatidos pela Mancha

A Mancha Verde rebateu os principais pontos da coletiva de Leila Pereira. Após dizer que a atual presidente “pensa que pode comprar qualquer um” e chamar os conselheiros do clube de “omissos que a bajulam”, a organizada lembrou que sua ruptura com a dirigente foi devido a pressões para que ela tirasse do Palmeiras o seu assessor pessoal, Olivério Júnior, ligado a Andrés Sanchez e outros nomes do Corinthians. Na sequência, afirmou ter devolvido R$ 200 mil enviados pela mandatária para financiar a viagem ao Mundial de Clubes no início de 2022, em Abu Dhabi. Vale lembrar que Leila tinha apoio expresso da Mancha, que inclusive batizou quadras de sua sede com os nomes dela e do marido. A organizada não omitiu o fato no texto e afirmou que o apoio foi um erro.

As reclamações pela falta de contratações em 2023 também retornaram. A Mancha fez questão de ressaltar que, por mais que a ruptura com a direção tenha acontecido em 2022, as queixas quanto aos reforços só começaram um ano depois e se provaram certas com o tempo. Outro importante assunto abordado foi o conflito de interesse envolvendo Leila, que além de presidente do Palmeiras também é dona da Crefisa, empresa de crédito que patrocina o Alviverde desde 2015.

Já as críticas feitas à própria organizada foram “visão elitista, classista e preconceituosa de uma entidade que é, também, um movimento social”. Já a associação da Mancha Verde com ameaças feitas contra jogadores nas redes sociais foram rebatidas com o caso de Breno Lopes, que mostrou o dedo do meio e xingou a torcida durante a comemoração do gol da vitória sobre o Goiás, em setembro. O atacante se desculpou publicamente dias depois em vídeo gravado na sede da Mancha.

A nota também lembrou que a história do Palmeiras começou em 1914, e não em 2015, e lamentou que Leila Pereira “tenha sido consumida pelo ódio” e “passe os dias buscando atacar palmeirenses que defendem a instituição desde os tempos em que ela sequer sabia o que era a Sociedade Esportiva Palmeiras”. Por fim, foi dado um recado para os conselheiros palmeirenses.

— Por fim, um recado aos conselheiros que ainda não entenderam a gravidade do que estamos vivendo: chegamos a uma encruzilhada nos 109 anos do clube que amamos, e espera-se de nossos representantes que saibam se posicionar em defesa do que nos une. A história vai se encarregar de apontar quem pecou pela omissão e quem teve a coragem de colocar o Palmeiras acima de qualquer interesse pessoal. Chegou a hora de saber quem é quem — finalizou a principal organizada do clube.

- - Continua após o recado - -

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A nota oficial

Leila Pereira é uma mentirosa do pior tipo: ao acreditar nas próprias mentiras, ela acaba vivendo em uma realidade paralela, repleta de distorções.

Desesperada com a perda de apoio da torcida e com os danos à sua imagem, Leila fez o palmeirense acompanhar, atônito, uma desastrosa entrevista coletiva (só para jornalistas selecionados, vale sublinhar) na véspera de um feriado. O intuito do amontoado de falácias era colocar o torcedor comum contra a organizada, mas o resultado foi um deplorável espetáculo de narcisismo.

Pior ainda: a idealização de uma narrativa mentirosa (nós sabemos quem está por trás disso) virou um ultraje contra a torcida e, ainda pior, contra a própria Sociedade Esportiva Palmeiras.

Alguns pontos de sua lastimável explanação podem ser encarados como devaneios de uma mente perturbada. Mas há aqueles que devem ser rebatidos desde já:

  • Leila Pereira pensa que seu dinheiro pode comprar qualquer um. Até pode ser verdade para os conselheiros omissos que ainda a bajulam, mas jamais será para uma entidade que existe há 40 anos em defesa do Palmeiras.
  • A ruptura entre Mancha Alvi Verde e Leila Pereira se deu em janeiro de 2022, quando a torcida questionou a presença de Olivério Júnior, figura intimamente ligada ao nosso maior rival, como diretor de comunicação do Palmeiras. Recém eleita presidente do clube, ela não aceitou a cobrança contra seu assessor pessoal e fugiu das conversas com as lideranças da torcida. Foi aí que, para manter a sua independência, a Mancha devolveu os R$ 200 mil que a mandatária havia doado à torcida para a viagem para o Mundial de Clubes em Abu Dhabi.
  • A festa em Abu Dhabi aconteceu mesmo sem a contribuição da presidente do clube, deixando claro que dinheiro algum poderia comprar o apoio de uma entidade que existe para defender o Palmeiras. Depois desse episódio em que a torcida apenas manifestou seu ponto de vista, Leila implodiu todas as pontes que poderiam – e deveriam – existir entre as duas partes.
  • Ainda que o rompimento institucional entre torcida e presidente do clube tenha acontecido em janeiro de 2022, as manifestações pedindo reforços começaram a acontecer apenas um ano depois, no início de 2023, sempre em tom de preocupação com o futuro – e o tempo, infelizmente, deu razão aos alertas que vêm sendo feitos desde então.
  • A despeito de comandar um conglomerado de empresas, a mandatária parece não saber o que é conflito de interesses – ou, o mais provável, finge que não sabe. Como o jornalista que fez tal pergunta não teve direito à tréplica, teremos o prazer de retomar este assunto mais adiante.
  • O infeliz comentário sobre quem seriam e o que já teriam construído as nossas lideranças revela uma visão elitista, classista e preconceituosa de uma entidade que é, também, um movimento social. Não à toa, o “Palmeiras de todos” de Leila não passou de um slogan que desmoronou rapidamente. Com o Verdão mais elitista desde a sua posse, fica claro que ela nunca acreditou no que dizia, e que suas promessas foram um engodo.
  • A tentativa de vincular a Mancha a eventuais ameaças sofridas por jogadores de futebol ecoa o desespero de quem busca camuflar a incompetência da única diretoria da Série A que se mostrou incapaz de trazer reforços na janela de contratações. A inconsistência é flagrante: todos os posicionamentos recentes da Mancha assinalaram apoio incondicional ao elenco, e o caso Breno Lopes denota o quanto a torcida, hoje mais madura do que em outros tempos, está ‘fechada’ com jogadores e comissão técnica. Bem ao contrário de uma certa dirigente que, embriagada pelo ódio, fez de tudo para transformar o ocorrido em uma crise às vésperas do duelo mais importante do ano.
  • A resposta sobre os 27 conselheiros que estão sofrendo represálias por terem assinado um requerimento é sintomática do quanto Leila Pereira é incapaz de lidar com visões divergentes – e do quanto ela pensa que o seu dinheiro pode comprar qualquer pessoa. Pois os conselheiros utilizaram um mecanismo formal para pedir esclarecimentos e transparência, e, vítimas de um flerte ditatorial dos mais descuidados, vêm sendo retaliados por cumprirem o papel que deles se espera.
  • Cumpre ressaltar, também, que Leila saiu atacando pessoas que têm toda uma história construída em defesa do Palmeiras. O revanchismo descarado, a fala descontrolada sobre “destruir a gestão” e a guerra jurídica que vem sendo travada contra quem esboça um mínimo de resistência a ela mostra bem o risco que o palmeirense corre se nada for feito para detê-la.E, de tudo, o mais importante:
  • Ao contrário do que acredita a presidente do clube, O PALMEIRAS FOI FUNDADO EM 1914, NÃO EM 2015. São 109 anos de história, de lutas e de glórias, a despeito de oportunistas que se beneficiaram largamente do clube em determinadas épocas.

A Mancha Alvi Verde lamenta profundamente que Leila Pereira tenha sido consumida pelo ódio, e que, ao invés de administrar o clube, passe os dias buscando atacar palmeirenses que defendem a instituição desde os tempos em que ela sequer sabia o que era a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Ao longo de 40 anos de dedicação incondicional às cores verde e branca, a Mancha já acertou muito e já errou também – como ao apoiar a candidata que hoje preside o clube. Mas nunca deixamos de ter o Palmeiras em primeiro lugar, e jamais poderemos admitir que uma arrivista qualquer venha desmerecer a história que foi construída com tanto suor por nossos antepassados.

Reiteramos nosso compromisso com os interesses esportivos da Sociedade Esportiva Palmeiras e com os anseios dos milhões de palmeirenses que estão pelo Brasil e pelo mundo. Temos plena consciência do quão pesada é a nossa voz, e reiteramos que dinheiro algum compra o nosso amor.

Por fim, um recado aos conselheiros que ainda não entenderam a gravidade do que estamos vivendo: chegamos a uma encruzilhada nos 109 anos do clube que amamos, e espera-se de nossos representantes que saibam se posicionar em defesa do que nos une. A história vai se encarregar de apontar quem pecou pela omissão e quem teve a coragem de colocar o Palmeiras acima de qualquer interesse pessoal. Chegou a hora de saber quem é quem.

Paulo Nobre também responde

Quem também deu uma reposta às falas de Leila Pereira foi Paulo Nobre, presidente palmeirense de janeiro de 2013 a dezembro de 2016. Em carta aberta via redes sociais e publicada pelo Uol, o ex-mandatário criticou duramente a coletiva de Leila, acusou a atual presidente de “não ter ideia do que é ser palmeirense” e a relembrou das muitas glórias do Palmeiras antes de 2015, além de citar “Apesar de Você”, música de protesto de Chico Buarque”.

A resposta foi longa, mas abordou muitos dos temas que incomodaram o torcedor na gestão de Leila Pereira, a qual Nobre classificou como “ainda inexpressiva”. O ex-presidente foi duvidou da relação palmeirense da atual dirigente, falou de casos de “vergonha-alheia”, lembrou a “lei do silêncio” imposta nos bastidores alviverdes recentemente e destacou brevemente grandes momentos da história do clube.

Ele também defendeu a Mancha Verde, mesmo que sem citar seu nome. O palmeirense tem um carinho gigantesco por Paulo Nobre em 2023, mas não foi sempre assim. Em 2013, então em seu primeiro ano de mandato, ele cortou algumas regalias que a principal organizada recebia, como ingressos para as partidas da equipe, e foi chamado de “covarde, iludido e inexperiente” em manifesto. Dois anos depois, novas críticas públicas da torcida durante os desfiles de Carnaval em São Paulo, meses antes da conquista da Copa do Brasil. A situação é irônica hoje, mas ao menos mostra que encontrar uma reconciliação é possível e que nem tudo está perdido para Leila — por mais que pareça.

A carta de Paulo Nobre reforçou o clima pesado que Leila Pereira deixou no ambiente alviverde, que já não era bom e fica ainda pior. Também acaba aumentando o apreço do torcedor pelo escritor, que presidiu o Palmeiras do retorno para Série B após dez anos até o início de mais uma era vencedora, conquistando a Copa do Brasil e do Brasileirão. Fortes emoções em dias que prometiam calmaria.

Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
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