Brasil

Futebol banca Leila no Palmeiras, mas mandato foi menos profissional do que poderia

Presidente busca a reeleição para mandato em que não será patrocinadora

A eleição para a presidência do Palmeiras acontece neste domingo (24), com Leila Pereira e Savério Orlandi como candidatos. O setorista da Trivela, Diego Iwata Lima, analisa os principais pontos de cada um. Para ler o texto sobre Savério, clique aqui.

Leila Pereira tem muitos argumentos para ser favorita à reeleição no pleito do Palmeiras deste domingo (24).

No campo, o time de futebol disputa o tricampeonato brasileiro — um título para cada ano de seu mandato. E Abel Ferreira tem contrato por mais um ano, com proposta para até o fim de 2027 sobre a mesa.

Na parte administrativa, o Palmeiras deve ter a arrecadação recorde, de R$ 1 bilhão, e está em vias de assinar o maior contrato de patrocínio de sua história. O clube social também está melhor do que era quando ela entrou. As finanças estão equilibradas.

Mas após três anos de mandato, o Palmeiras também perdeu a chance de se fortalecer de modo mais isento. Porque, mesmo que com benefício para o clube, Leila Pereira tornou pessoais diversas decisões e atitudes que deveriam ter sido institucionais.

‘As pessoas não estão acostumadas com a verdade'

Nas muitas entrevistas em que concedeu ao longo da campanha para reeleição, sem que isso jamais lhe tenha sido indagado por algum entrevistador, Leila Pereira afirmou, mais de uma vez:

— Vão dizer que sou prepotente. Mas é que eu falo a verdade. E, no futebol, as pessoas não estão acostumadas com a verdade.

A presidente do Palmeiras não está mentindo. No futebol, mas não apenas, sinceridade demais nem sempre é visto como algo positivo. O que não exclui o fato de seu discurso muitas vezes soar prepotente.

Leila se coloca como atriz principal de um processo coletivo

Em outubro do ano passado, em entrevista coletiva na Academia de Futebol, Leila afirmou:

— No dia que eu sair do Palmeiras, se entrar outro presidente que não siga esse mesmo caminho, eu não tenho dúvida nenhuma que o Palmeiras vai voltar a ser o que era em 2014. O Palmeiras volta para a segunda divisão, gente — disse ela.

Dias depois, foi ao conselho deliberativo se explicar, dizendo que respeitava a história do Palmeiras e que foi mal compreendida. Pois, um ano e doze dias depois, em entrevista ao Estadão, ela deu a seguinte declaração:

— Se a oposição vencer, o Palmeiras volta ao que era antes de cair e não ganha mais nada.

Não é uma repetição ipsis litteris. Mas o sentido é o mesmo. Leila se coloca como o artífice principal de um processo no qual ela é de fato importante. Mas pelo qual não é, nem futuramente será, a única responsável.

Leila soube dar seguimento a movimento positivo

Leila chegou ao Palmeiras em 2015 como patrocinadora. E encontrou um clube sendo saneado financeiramente. Com um departamento de futebol no rumo da modernização e um estádio de primeira linha viabilizado sem custos. Acima de tudo, recebeu 100 anos de tradição, muitas conquistas e cerca de 15 milhões de torcedores — dos quais muitos já eram sócios do Avanti.

Já como presidente, no final de 2021, recebeu a melhor comissão técnica do Brasil e um elenco bicampeão da Copa Libertadores. Gerido por uma diretoria competente, que ela soube manter e deixar trabalhar.

É inegável que Leila faz uma administração vencedora no campo e nas finanças. Possível, em muito, porque ela é uma excelente e destemida gestora. Mas tais atributos fariam pouco efeito sem os esforços de seus antecessores.

Mistura do particular com o público

Outro ponto controverso da gestão de Leila foi o óbvio conflito de interesse que ela sempre se esforçou em negar. Que teve como gênese o fato de ela ser presidente e patrocinadora. Mas que, com o tempo, foi além.

É ótimo para o associado, mas não é correto, que ela banque do bolso a reforma do conjunto aquático, shows de cantores sertanejos e de bandas de rock pop.

É perfeito para o time, mas não é adequado, que ela empreste um avião para transportar atletas. Mesmo que isso permita que Gustavo Gómez jogue 30 minutos em um jogo decisivo, como foi contra o Bahia.

Uma administração verdadeiramente moderna não usa recursos pessoais para “ajudar” o clube e divertir o associado. Mas sim o fortalece financeira e corporativamente para que ele possa bancar seu avião — bem como ter caixa para contratar artistas.

Menos pessoal e mais administrativo

Com a já anunciada saída das suas empresas do patrocínio do clube, uma parte do conflito se desfaz. Mas a interferência do capital de Leila nas decisões do Palmeiras permanece. Algo de que ela se orgulha, sem qualquer ressalva.

— Se um candidato não tem R$ 50 mil para pagar uma alocação de um estande (…) Se uma pessoa não tem esse valor para concorrer à presidência de um clube com uma receita que esse ano vai bater mais de R$ 1 bilhão, essa pessoa não tem condição de ser presidente do Palmeiras. Aí você vai dizer, “a pessoa que não tem condição financeira não pode ser presidente de um clube desse tamanho?”. Não, não pode.

A ótima gestão de seu aliado Mauricio Galiotte, que presidiu o Palmeiras por dois mandatos e não é um bilionário, contraria tal argumento. Até porque, dinheiro não é índice de capacidade para execução de tarefas.

Se reeleita, com menos conflito de interesses e um clube mais rico e vencedor em mãos, Leila terá chance de se tornar gigante como dirigente de futebol. Mas, para tanto, precisa entender que isso passa por diminuir a pessoa Leila em detrimento da administradora.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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