‘A carreira é minha, eu decido’: a necessária resposta de Vojvoda ao preconceito e às críticas
Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, deu uma forte entrevista sobre ataques que vem sofrendo após recusar mais uma proposta de um clube do Sul/Sudeste

Nesta semana o técnico Juan Pablo Vojvoda respondeu, em coletiva, sobre os ataques de torcedores de clubes do sudeste que o chamam de acomodado. O motivo? Querer ficar no Fortaleza. O treinador argentino foi categórico ao dizer que ele quem decide em qual clube vai trabalhar.
Não vou pela cabeça das pessoas, por ouvir esse ou aquele. A carreira é minha, eu decido onde trabalhar. Estou bem no Fortaleza. Não é por comodidade [que permanece]. Fortaleza tem pressão também, recebo muitas críticas quando perdemos. Estou morando em uma cidade que gosto. Por que vou a outra cidade? Por dinheiro? Pode ser, mas eu tenho direito de decidir onde quero morar, onde quero trabalhar e com quem quero trabalhar – Disse o técnico
Uma resposta dura, necessária e em ótimo momento. Toda vez que um time grande do eixo RJ-SP demite ou perde seu treinador, eles procuram Vojvoda. Isso é o normal, pois é o reconhecimento do excelente trabalho feito no Fortaleza. Mas há dois anos que o argentino vem empilhando propostas recusadas, e está em seu direito.
Por querer ficar no Fortaleza e trabalhar no Nordeste, Vojvoda é chamado de “acomodado” (na mais educada das hipóteses) nas redes sociais. Isso é resultado de uma cultura preconceituosa que está enraizada no futebol brasileiro, na qual os bons profissionais do Nordeste são “obrigados” a aceitar qualquer proposta do Sul/Sudeste.
O êxodo nordestino e a cultura do preconceito
Essa ideia é forte por causa de eventos muito antigos, que datam do início da industrialização do Sudeste brasileiro. Nordestinos deixaram a região em peso para trabalhar nas fábricas em busca de uma vida melhor. Afinal, o Nordeste dependia muito da agricultura familiar para sobreviver e as secas estavam limando a sobrevivência dessas pessoas.
Esse fenômeno migrou para o futebol, e começou com jogadores deixando a região em direção ao sul. Craques fizeram esse caminho, a exemplo de Bebeto, Dida, Edilson Capetinha, Rivaldo e tantos outros. Estavam corretos, pois precisavam maximizar a receita deles em busca de dar uma vida melhor para suas famílias.
Mas os tempos mudaram, e os clubes nordestinos estão conseguindo bater de frente com os do Sudeste no quesito financeiro. Isso realmente incomoda as pessoas que estavam acostumadas com a cultura do preconceito. Se um time do Nordeste contrata um jogador em alta (vencendo concorrência do Sudeste) ou não libera seus profissionais a troco de bala, são atacados massivamente nas redes sociais.
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Vojvoda está correto em ficar no Fortaleza
A única saída para os preconceituosos é aceitar. O Fortaleza hoje é uma potência do futebol, e caminha para se consolidar ainda mais. O clube não deve bilhões, e lida com suas finanças de forma muito mais saudável do que a maioria dos clubes do Sudeste. Além de muito estruturado, conta com uma torcida apaixonada, presente e gigante.
No Fortaleza, Vojvoda tem a segurança de não ser demitido por causa de uma sequência ruim. Em 2022 seu time esteve em último lugar no Brasileirão durante todo o 1º turno, e mesmo sendo muito criticado pela torcida ele foi mantido. No fim, conseguiu uma classificação para a pré-Libertadores.
Algumas informações dão conta de que Vojvoda (e seu staff) recebe R$1 milhão por mês, e nunca teve um atraso sequer. Como ele mesmo disse: o argentino ama morar na capital cearense, está feliz no clube e deu a entender que não precisa de dinheiro no momento.
É inegável que precisa de muita coragem para recusar o Flamengo, como já aconteceu. Mas trocar o Fortaleza pelo Corinthians, por exemplo, que vive uma crise institucional e financeira, não seria inteligente. Tiago Nunes fez isso e se deu muito mal.
Recentemente foi a vez do São Paulo procurar Vojvoda, um clube que está em crise política e também vive com insegurança financeira. A proposta do Vasco em 2023 também não parecia um bom caminho para o argentino. Até mesmo oferta do mundo árabe o treinador recusou e nem precisou falar com o Fortaleza, o presidente ficou sabendo por terceiros nos bastidores.
Está correto Vojvoda, que fica onde é querido, ganha bem e continua fazendo história. São 199 jogos dirigindo o Fortaleza desde que chegou, e 99 vitórias. É um aproveitamento que passa dos 50%, e mais do que isso: o técnico elevou o patamar do clube com grandes feitos históricos.
- Tricampeão cearense (2021, 2022 e 2023);
- Ganhou o título do penta cearense, maior sequência da história do estadual;
- Campeão da Copa do Nordeste (2022);
- 4º lugar no Brasileirão de 2021;
- Classificou o clube para sua 1º Libertadores (2022);
- Chegou nas oitavas de final da Copa Libertadores (2022);
- Vice-campeão da Copa Sul-Americana (2023);
- Sequência de 17 jogos sem perder, maior da história do clube.
Resumindo: nenhum profissional precisa estar no Sul ou Sudeste para obter sucesso, e ninguém é acomodado por querer continuar onde se sente bem.