O que o corte de Maicon diz sobre a gestão da Seleção

A demanda por informação é imparável. O público quer saber, procurará saber, tem meios de manifestar essa vontade e está disposto a aceitar qualquer coisa que vier. É como água em uma obra. Onde houver uma brecha, ela vai se enfiar e, se não for contida satisfatoriamente, causará estrago. Até o serviço de inteligência do governo norte-americano foi vítima desse novo mundo, e surpreende que a CBF ainda não tenha entendido onde está.
LEIA MAIS: A Seleção começou o novo ciclo sem nada muito além do que você já tinha visto
Maicon foi cortado da seleção brasileira por motivos disciplinares. E isso foi tudo que a comissão técnica do Brasil quis que o público soubesse. É muita ingenuidade, ou arrogância, achar que a torcida se contentaria com tão pouco. É preciso ter uma mentalidade muito restrita para imaginar que não haveria questionamentos, que apenas a versão oficial bastaria.
O silêncio da CBF se transformou em barulho das redes sociais. Aí, o assunto virou um monstro. Ao invés de ter de lidar com um comunicado de uma linha (“A CBF informa que o lateral Maicon foi desligado da delegação nos Estados Unidos por não se reapresentar na hora combinada”), a comissão técnica foi obrigada a conter uma avalanche de piadas e memes surreais, que envolviam novas formulações para o xampu de David Luiz a trotes íntimos em Elias.
Vale também uma crítica à imprensa. Sites internacionais publicaram os memes como se fossem notícias, e usaram o desconhecimento do português como álibi para não conhecerem os perfis dos sites de humor. Bem, eles se esforçaram para entender o português a ponto de traduzir as piadas, poderiam ter estendido a pesquisa para conferir a fonte. E a falta de rigor de parte da imprensa internacional nesse caso não é diferente do que ocorre em alguns momentos com parte da imprensa nacional com notícias vindas de fora.
Foi uma aula de como não gerenciar uma crise. Dunga e Gilmar (e a assessoria de imprensa, se ela teve alguma voz nisso, o que é improvável considerando a relação ruim que o técnico tinha com a antiga assessoria em sua passagem anterior pela Seleção) continuam achando que há uma disputa entre o time e a mídia, e que fornecer informações é uma forma de dar ferramentas ao inimigo.
VEJA: E se criassem uma Olimpíada com todas as modalidades originadas do futebol?
No final das contas, os maiores prejudicados foram os jogadores da Seleção. Ao invés de terem de explicar um caso de indisciplina, terão de lidar por muito tempo com piadas e provocações. Tudo porque tiveram a arrogância de se acharem acima do impulso incontrolável do público por informação.