Nunes explica o gol que acendeu a chama da rivalidade entre Flamengo e Atlético-MG
Ídolo rubro-negro, ex-atacante começou a pavimentar o caminho para a alcunha de Artilheiro das Decisões na final do Brasileirão de 1980
Um gol para sempre. Quando Nunes balançou as redes pela segunda vez no dia 1 de junho de 1980, o Maracanã tremeu. Os mais de 154 mil presentes viram o terceiro tento do Flamengo na partida contra o Atlético-MG, o mais especial, que sacramentou o primeiro título brasileiro da história do clube.
O herói rubro-negro conversou com a reportagem da Trivela sobre aquele fatídico dia, além de revelar detalhes sobre a preparação do time até a decisão, um fator decisivo para o gol e, claro, uma projeção para a final da Copa do Brasil. Flamengo e Atlético Mineiro voltam a decidir um título nacional neste domingo (03).
A faísca para a rivalidade entre Flamengo x Atlético-MG
O jogo no Maracanã estava repleto de tensão. O Flamengo, que havia perdido o primeiro jogo por 1 a 0, esteve em vantagem duas vezes, com gols do próprio Nunes e Zico, mas o Atlético-MG respondeu rapidamente com o empate. Reinaldo, ídolo máximo dos mineiros, vinha garantindo o título para o Galo.
Foi quando Nunes se projetou nas costas da marcação e recebeu o passe, aos 31 minutos da etapa complementar. Na opinião do ex-jogador, o lançamento de Andrade foi o ponto-chave para a jogada, algo muito treinado pelo Flamengo de Cláudio Coutinho.
— Foi uma jogada que o Andrade estava acostumado a fazer nos treinamentos. Fazer o lançamento longo, ele sabia que eu caía pelo lado esquerdo e ele sabia que eu chegaria na bola tranquilamente, que eu tinha uma explosão muito forte — relembrou.
Outro fator curioso: no início da jogada, Nunes não tinha a intenção de fazer o gol. Outros jogadores importantes daquele esquadrão do Flamengo se projetavam dentro da área. O centroavante queria servir Zico, mas foi bloqueado e percebeu que a jogada individual seria mais interessante.
— A minha intenção realmente era tocar para o Zico e para o Tita que estavam entrando. Eu tentei cruzar primeiro, bateu no Silvestre e voltou para mim. Eu queria cruzar e ele levantava a perna esquerda e deixava a perna direita de apoio. Ali eu percebi que eu tinha que assumir a responsabilidade. E eu dei o drible justamente na perna de apoio. Assim que dei o drible eu já joguei a bola, um pouco pra frente já entrei, porque se ele toca em mim é pênalti, e o Zico ia lá, batia e fazia. E eu gritava, vai Zico, vai Zico — continuou.
Quando driblou e se viu com o caminho livre, Nunes mudou de ideia por conta de indicativos de João Leite, goleiro do Atlético-MG. Um passo foi fatal, e o centroavante, com o faro de gol que o consagrou, mandou a bola para o fundo das redes.
— Ele (João Leite) pensou que eu ia cruzar para o Zico, foi caindo para dentro do campo. Quando ele percebeu que eu não ia cruzar, ele voltou dando um voo, e a mão esquerda dele, começou a descer, a cair para o chão. Toquei firme, no alto, justamente em cima do braço esquerdo dele. Foi um gol consciente — analisou.
A decisão surpreendeu João Leite, mas não a Nunes. O ex-jogador finalizou a lembrança do fundo da memória com uma revelação que fez toda a diferença em sua carreira: a confiança em si. Nada disso seria possível sem a força mental.
— Eu sempre tive personalidade e confiança em mim mesmo dentro de campo. Ninguém me tirava essa minha personalidade nem a minha confiança. Flamengo é Flamengo. Contra eles, fui o primeiro rei no Maracanã — concluiu.
Nunes estará na torcida para que o Flamengo conquiste mais um título em cima do Atlético Mineiro. A bola rola a partir das 16h (de Brasília) deste domingo, no Maracanã. A volta acontecerá uma semana depois, mesmo horário, na Arena MRV.
Veja outros pontos abordados na entrevista exclusiva
A preparação para aquela decisão
— A gente sabia que não ia ser fácil, ia ser um jogo difícil, tanto o primeiro jogo como o segundo, mas que o nosso time estava preparado para esses dois jogos, para essa decisão. Tanto é que foi um jogo muito difícil lá em Belo Horizonte e perdemos o primeiro jogo de 1×0, certo? Aquela infelicidade do Júnior, e o Reinaldo fez o gol, a vitória lá em Belo Horizonte, mas ali não era a decisão, a decisão era o segundo jogo, no Maracanã, com a força da nossa torcida.
— A gente se preparou, quinta, sexta, sábado, treinamento forte, jogadas ensaiadas. Todo mundo atento, tanto no treinamento como nas jogadas no esquema tático que o Claudio Coutinho estava passando para gente. Mostrava o esquema tático do Atlético e conversava em cima desse esquema tático do Atlético para a gente ter a consciência de saber se movimentar e ter uma disciplina tática e saber aproveitar os momentos certos, as oportunidades e concluir. O nosso time era muito bom, e a gente foi lá e conquistou o primeiro título brasileiro para o Flamengo.
O nascimento da rivalidade
— Os dois melhores times do Campeonato Brasileiro de 1980 chegaram à decisão. Tanto o Atlético como o Flamengo tinham condições de ser campeão, mas o nosso time era ótimo, cara. O time do Atlético é um time maravilhoso, mas o nosso também era muito bom. Tanto é que ganhamos o campeonato, se tornamos campeão brasileiro. Nesses dois times só tinham seu ídolo e 5, 6, 7 ídolos. Não tinha essa. A gente entrava e procurava respeitar e ser respeitado.
Quem será o campeão da Copa do Brasil?
— Primeiro jogo aqui, o Flamengo tem que saber aproveitar e fazer a diferença aqui no Maracanã. Tem time para isso, é só fazer a diferença aqui. Agora, é importante ter uma disciplina tática, é importante ter a consciência do que o jogo apresenta. Para mim, tem condições sim de ganhar aqui dentro do Maracanã, fazendo a diferença e tem condições sim de chegar em Belo Horizonte e ganhar também, tranquilamente.