Brasil

Morte a tiros de torcedor do Flamengo escancara violência no futebol carioca e ineficiência do poder público

Conflito envolvendo torcidas organizadas de Flamengo e Vasco em linha de metrô deixou um morto e três feridos por tiros e facadas

O clássico entre Flamengo x Vasco se tornou a rivalidade mais sangrenta do futebol brasileiro nos últimos anos. Em todos os jogos recentes envolvendo os dois clubes, o Rio de Janeiro virou praça de guerra, com pancadaria generalizada e cenas de terror. Neste domingo (22), tal ‘roteiro' se repetiu. Um torcedor rubro-negro morreu após uma briga entre integrantes de torcidas organizadas do Mais Querido e do Cruzmaltino na altura da estação de Cosmos, na Zona Oeste do Rio.

O óbito ocorreu por disparos de arma de fogo. Organizados cruzmaltinos passaram atirando pela estação de trem e alvejaram rubro-negros presentes no local. Cinco feridos (por tiros e facadas) foram levados para o Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, também na Zona Oeste da cidade, mas um deles não resistiu e faleceu. A Polícia Militar do Rio de Janeiro conduziu 70 pessoas para o Juizado especial do torcedor (Jecrim), localizado no estádio do Maracanã.

A reportagem da Trivela entrou em contato com a Polícia Militar que, em nota, relatou o o ocorrido. Confira abaixo:

“Na malha ferroviária houve mais ações da Polícia militar, 70 pessoas foram conduzidas ao Juizado Especial do Torcedor, suspeitos de participarem de briga entre torcidas na malha ferroviária. Com o grupo foram apreendidos dezenas de cabos de madeira e rojões. Os conduzidos estavam em uma composição da Supervia e são acusados de se envolver em um confronto entre grupos rivais ocorrido na tarde deste domingo (22/10).

A composição foi abordada por agentes do 14° BPM (Bangu), 40° BPM (Campo Grande) e do Batalhão Especial de Policiamento em Estádios (BEPE),em Bangu, após informações dos setores de inteligência da Corporação que apontavam que um grupo de torcedores do Vasco seguia em direção ao Maracanã, quando o trem passou pela estação ferroviária do bairro de Cosmos. Na ocasião houve um confronto entre os grupos de membros de torcidas de Vasco e Flamengo, onde disparos de arma de fogo foram ouvidos pelos passageiros.

Após este fato, os agentes foram informados que cinco pessoas haviam dado entrada no Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande após serem socorridas por militares do Corpo de Bombeiros. Uma delas não resistiu aos ferimentos e morreu logo após ter dado entrada na referida unidade hospitalar.”

Mais cenas de guerra espalhadas pela cidade

Além do triste ocorrido na altura da estação de Cosmos, mais cenas de guerra envolvendo torcidas organizadas de Flamengo e Vasco tomaram conta da cidade do Rio de Janeiro. Às 11h (horário de Brasília), um grupo de cerca de 200 adeptos de uma organizada foi parado por policiais militares, no bairro de Paciência. O motivo? Estavam portando pedaços de madeira. O material foi apreendido e três suspeitos foram encaminhados para a delegacia.

Em Bangu, mais ocorrências. Rojões, pedaços de madeira e outros itens foram apreendidos por policiais do 14º BPM (Bangu) na estação de trem. Apesar da operação ter sido considerada bem-sucedida pelos agentes, não houve detidos no local.

Desde a manhã deste domingo (22), vídeos mostrando concentrações de torcedores organizados de Flamengo e Vasco foram publicados nas redes sociais. Nas imagens, é possível ver indivíduos com camisas cobrindo o rosto, portanto pedaços de pau e rojões, e ecoando gritos ofensivos contra o clube rival.

Uma triste rotina no Rio de Janeiro

Há alguns bons anos, o Rio de Janeiro sofre com graves problemas de segurança pública. E isso fica evidente em dias de clássico na cidade. Horas antes da bola rolar, seja no Maracanã, Nilton Santos ou São Januário, torcedores organizados vão para as ruas com um só intuito: brigar. E eles não se envergonham nem um pouco disso. Pelo contrário. Acreditam fielmente que estão defendendo “os seus” e representando o clube pelo qual torcem na chamada “pista” (rua).

As consequências de tais atos são as piores possíveis: pessoas feridas e assassinadas a sangue frio. Uma verdadeira guerra urbana. O pior disso tudo é quando inocentes acabam pagando o preço. Quantas vezes torcedores pacíficos que, por azar, passam no local errado, na hora errada, e sofrem com a irresponsabilidade de marginais. A frase “o Rio de Janeiro não é para amadores” nunca fez tanto sentido. Afinal, como pode uma cidade que respira futebol, rica em belezas naturais, cultura e história, sofrer tanto na mão de bandidos. Conforme os anos passam, o poder estadual carioca se mostra cada vez mais ineficiente.

Principais organizadas de Flamengo e Vasco estão punidas

Informações dão conta de que integrantes da Força Jovem, principal torcida organizada do Vasco, foram os responsáveis pelos disparos contra flamenguistas em Cosmos. Vale destacar que a Força, bem como a Torcida Jovem do Flamengo e a Raça Rubro-Negra (ambas do clube da Gávea), estão terminantemente proibidas de frequentarem estádios do Rio de Janeiro. Fúria Jovem, do Botafogo, e Young Flu, do Fluminense, também entram nesse bolo.

A punição imposta a essas organizadas, no entanto, pouco tem surtido efeito. Isso porque, a maioria das brigas, mesmo antes de tal proibição, sempre ocorreram há quilômetros de distância das praças esportivas. É preciso uma fiscalização mais intensa e pulso firme do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Do jeito que está, não dá para ficar. O futuro é assustador e muito preocupante.

Foto de Guilherme Calvano

Guilherme Calvano

Apaixonado por futebol, uniu o amor pelo esporte mais popular do mundo ao jornalismo. Carioca da gema e grande entusiasta da Premier League, cobriu o Flamengo no Coluna do Fla e o Chelsea no Blues of Stamford. Na música, vai de Post Malone a Armandinho. Eclético assim como na área técnica. Afinal, Guardiola e Mourinho são suas referências.
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