Brasil

Maurício Noriega: Futebol brasileiro dá um bico na ‘espanholização’

Para quem achava que o Brasileirão se transformaria numa versão tropical das ligas da Espanha ou da Alemanha, a realidade é um choque positivo

Há alguns anos circulou entre torcedores e jornalistas a tese de que o futebol brasileiro caminhava para o inevitável destino da “espanholização”. O embasamento era de que as disputas, como ocorre na Espanha, ficariam restritas a Real Madrid e Barcelona (vez ou outra o Atlético). Ou, pior, que corríamos o risco de virar uma Alemanha, onde o Bayern reina praticamente absoluto.

A realidade trouxe um choque para os defensores dessa tese. Houve um tempo que era direcionada ao Corinthians, na era Tite. Ou ao São Paulo de Muricy. Mais recentemente os argumentos eram baseados em Flamengo e Palmeiras.

Mas a temporada 2023 tem mostrado que o futebol brasileiro é muito diferente. Nada se compara em termos de competitividade. Pode-se discutir nível técnico etc. Mas não há competitividade como aqui. Os outrora imbatíveis Flamengo e Palmeiras perderam fôlego. O Flamengo pode fechar o ano sem taças. O Palmeiras ganhou duas, tem alguma chance no Brasileiro, como o Flamengo, mas parece pouco provável que um deles vença.

O São Paulo reencontrou as conquistas e faturou a taça que mais cobiçava. O Botafogo ressurge e caminha para o título nacional. O Fluminense retorna a uma final de Libertadores como favorito, o RB Bragantino se insere sem nenhum medo entre os poderosos, como tem feito há bastante tempo o Athletico Paranaense.

O retrato do Brasil nos últimos dez anos foi o seguinte: nos últimos dez anos, cinco times diferentes venceram o Campeonato Brasileiro; nos últimos dez anos, sete times diferentes venceram a Copa do Brasil.

Na Espanha, apenas três times foram campeões nacionais nas últimas dez temporadas, sendo seis times distintos vencedores na Copa do Rei. Na Alemanha, o Bayern ganhou todas as Bundesliga de 2013 a 2023. Na Pokal, a Copa da Alemanha, a distribuição é diferente, com seis ganhadores diferentes.

A Premier League teve cinco times campeões desde a temporada 12/13.

Para o bem e para o mal há fatores que tornam o futebol brasileiro equilibrado como nenhum outro. Para o bem temos uma quantidade sem igual de times realmente grandes esportiva e socialmente. Para o mal, temos um calendário que pune a competência e os males impostos pelas janelas de transferência.

No Brasil, apenas ter muito dinheiro disponível não é garantia de título – que o diga o Atlético Mineiro. A proximidade técnica entre líder e lanterna é sem igual.

 

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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