Libertadores

O Fluminense está de volta à final da Libertadores, e sim, Fernando Diniz é o maior culpado

Corajoso, Fernando Diniz colocou o time para a frente e tentou tanto que conseguiu: recolocou o Fluminense na final da Libertadores

Marcelo voltou ao Fluminense após 17 anos. Dois a mais do que a maior ferida aberta no coração dos torcedores: a Libertadores da América. Talvez o lateral ainda não tenha se dado conta do tamanho do feito, nem do peso de suas palavras. Na saída de campo, ele sintetizou o que foi a classificação do Tricolor para a final da competição depois de 15 anos: Fernando Diniz é o maior culpado.

— Tudo é culpa do Diniz. Toda culpa é dele — resumiu Marcelo.

Ainda que tenha sido humilde e dividido os louros da classificação com direito a virada épica no Beira-Rio, o técnico é, sim, o grande nome desta classificação.

Sua coragem para ter cinco atacantes no segundo tempo, atrás no placar e fora de casa, certamente entrou na cabeça de seus jogadores. Nos pés de John Kennedy, em quem o treinador sempre confiou. Foi o camisa 9 quem saiu do banco para mudar o jogo e para lhe dar razão: a coragem de jogar com quatro atacantes e desfrutar do talento do jovem de cabelos platinados tem tudo a ver com Diniz.

Assim como Germán Cano, que jogou mal no primeiro tempo, caiu em cima da bola no segundo… e, como sempre, decidiu. Ele tem 80 gols em menos de dois anos pelo Fluminense e isso também tem o dedo do técnico. A confiança inabalável do argentino que lhe torna uma máquina de gols não é à toa.

— Erramos mais do que no Maracanã e vencemos o jogo. Existe um componente emocional. O time foi extremamente merecedor dessa vitória. Nos arriscamos, jogamos para cima. Marcamos alto quase que o tempo todo no Maracanã. Essa vaga é extremamente merecida — afirmou Diniz, após o jogo.

Enquanto tentava estabelecer alguma lógica para a catarse que recolocou o Fluminense na final da Libertadores, Diniz era, de novo, corajoso. Seja para pedir desculpas em uma coletiva ou para explicar como seu time virou o jogo com cinco atacantes em campo num Beira-Rio abarrotado.

Diniz tinha razão: Fluminense é melhor na ‘versão Libertadores'

Fernando Diniz recebeu duras críticas por jogar com quatro atacantes na Libertadores. Enquanto o time vencia, John Kennedy era exaltado como a coragem do técnico. Mas bastou um empate no Maracanã, na semifinal, para o sistema de jogo ser criticado.

Artilheiro isolado da Libertadores, Germán Cano marcou mais uma vez para colocar o Fluminense na final - Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC
Artilheiro isolado da Libertadores, Cano marcou mais um e colocou o Fluminense na final – Foto: Marcelo Gonçalves /Fluminense FC

O resultadismo que o treinador tanto combate agiu contra ele. Mas não o abalou. Beira-Rio, 50 mil pessoas, Inter vencendo por 1 a 0. O cenário não era bom. Pouco importa. Diniz trocou Felipe Melo por John Kennedy no intervalo e foi para cima do Colorado em seus domínios. Provou que a “versão Libertadores” deste Fluminense, no 4-2-4, é a melhor para a equipe.

— Nosso objetivo era chegar na final. É um dia muito importante, não só para mim, mas para minha família e os torcedores. Chegamos desacreditados pelas pessoas de fora, mas os tricolores de verdade estavam com a gente, e sentimos essa energia. Em nenhum momento foi fácil. A gente, mais uma vez, provou que o Fluminense é time de guerreiros. A gente sai perdendo, demos a volta por cima e conseguiu ganhar. Com um jogo tão difícil, num campo difícil, com a qualidade que o Inter tem, com a história que tem, mas o Fluminense também merecia estar na final — declarou Marcelo, que escala a galeria de ídolos do Flu com a rapidez com que acha um lance genial num campo de futebol.

Cano e John Kennedy decidem mais uma vez para o Fluminense

Ainda que Diniz seja o grande personagem deste Fluminense, é impossível revisitar a história do jogo sem falar dos dois atacantes. Germán Cano e John Kennedy decidiram mais uma vez. Como no Maracanã ou no Defensores del Chaco. Também no Beira-Rio. A dupla combinou duas vezes e o Tricolor virou um jogo que parecia decidido a favor do Inter.

John Kennedy mudou o jogo e foi novamente herói da classificação do Fluminense na Libertadores - Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC
John Kennedy mudou o jogo e foi herói da classificação do Fluminense na Libertadores de novo – Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC

O que faltou a Enner Valencia no segundo tempo em que desperdiçou três chances de carimbar a vaga colorada sobrou nos atacantes do Flu. Estrela, talvez. Ou frieza. John Kennedy recebeu passe açucarado de Cano e venceu Rochet com uma cavadinha que mostra o quanto seu talento se impõe em 2023. O camisa 9 retribuiu com um toque tão sutil que pouco importa se realmente tocou para deixar o artilheiro da Libertadores sozinho na área. Em um toque, ao seu estilo, ele decidiu.

São 12 gols em 11 jogos do atacante na Libertadores em que já pode se considerar o artilheiro, e que ainda pode conquistar a taça tão sonhada para os tricolores. Germán Cano igualou Fred, com 15 gols, e já se tornou o maior goleador do Fluminense na história da competição.

— É inexplicável. Cheguei aqui com um desafio muito grande de representar um dos maiores ídolos do Fluminense como é o Fred. Ele me recebeu muito bem. Senti o seu carinho desde o primeiro momento. Dedico a vitória para ele. Ele me abriu as portas. Ele significa muito como jogador, como pessoa. É uma família. É difícil explicar com palavras — disse Cano.

Juntos, Cano e John Kennedy marcaram 15 vezes e distribuíram mais cinco assistências. Uma dupla letal.

— Muito lindo. A gente deixou tudo dentro do campo. Brigamos com um rival muito bom. A gente não deixou de acreditar. Somos um time de guerreiros. Graças a Deus conseguimos fazer os gols e chegarmos à final — encerrou o argentino, complementado pelo seu parceiro:

— Estou muito feliz e sem palavras. Tenho plantado isso desde o início do ano. Sabia que o momento ia chegar. Mas nao sabia que seria agora, no momento mais gostoso da temporada, em finais. Poder decidir um jogo desses é muito especial.

O Fluminense volta a campo no domingo (8) para enfrentar o Botafogo, às 16h, no Maracanã. Mas todas as atenções estão voltadas para 4 de novembro, quando o Tricolor reencontra a final da Libertadores em seu estádio.

Foto de Caio Blois

Caio BloisSetorista

Jornalista pela UFRJ, pós-graduado em Comunicação pela Universidad de Navarra-ESP e mestre em Gestão do Desporto pela Universidade de Lisboa-POR. Antes da Trivela, passou por O Globo, UOL, O Estado de S. Paulo, GE, ESPN Brasil e TNT Sports.
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