Maurício Noriega: Final da Copa do Brasil terá duelos coletivo x individual e organização x poder de decisão
Decisão colocará Flamengo, que sobreviveu a sucessão de crises, frente ao São Paulo, animado por chegada de estrelas
São Paulo e Flamengo chegaram à final da Copa do Brasil por caminhos e com estratégias diferentes. O Tricolor paulista largou sem favoritismo e foi encorpando ao longo do torneio. Ganhou crédito e musculatura eliminando dois rivais históricos em sequência. O Flamengo partiu como grande favorito e foi acumulando dúvidas no decorrer da competição. Em meio a uma sucessão de crises, sobreviveu graças à reunião sem igual no País de jogadores decisivos.
Na semifinal entre paulistas houve duas mudanças determinantes para o resultado. O Corinthians perdeu seu jogador mais decisivo, Roger Guedes, e o São Paulo ganhou mais um jogador decisivo, Lucas Moura.
Na partida entre cariocas e gaúchos o Grêmio não teve capacidade decisiva nos momentos em que soube dominar, aproveitando a bagunça coletiva que é o Flamengo. O pênalti marcado é bastante discutível porque em várias situações semelhantes não foi assinalada infração. Mesmo assim, o Imortal em momento algum deu pinta de que teria força para virar o placar construído pelo Flamengo em Porto Alegre, naquela que talvez tenha sido a melhor atuação sob Sampaoli.
A final será novo espetáculo do futebol brasileiro, que não cansa de mostrar sua pujança. Mais de 120 mil pessoas nas semifinais e arrecadação superior a R$ 17 milhões.
O que se apresenta para a decisão envolve aspectos distintos das equipes e de suas formas de jogar.
O São Paulo encontrou estrutura coletiva com Dorival Júnior. A maior prova disso foi a atuação de um time quase todo reserva exatamente contra o Flamengo, pelo Brasileiro. Todos os jogadores sabem onde devem estar e para onde devem ir dentro do esquema tático. Em muitas partidas esta estrutura coletiva carecia de maior poder de decisão. Com a chegada de Lucas isso muda. O Tricolor paulista ostenta hoje pelo menos quatro jogadores com grande capacidade decisiva: Lucas, Calleri, Luciano e o goleiro Rafael.
O Flamengo é um time confuso e pouco encaixado. Alterna bons e maus momentos. A sustentação vem da enorme capacidade individual de seus jogadores e do elenco capaz de oferecer alternativas como nenhum outro no continente. Os apagões da zaga, que tem buracos de posicionamento incríveis, e a falta de compactação entre os setores são convites a qualquer adversário. Porém, atacar o Flamengo, mesmo bagunçado, é estar exposto ao talento de seus atletas de excelência. Uma enfiada de bola de Arrascaeta, uma arrancada de Bruno Henrique ou de Gabigol, além de Cebolinha, Everton Ribeiro, Pedro. Muita gente que pode decidir, mesmo em um contexto de pouca organização.
Muita coisa ainda vai acontecer até as partidas finais. O próprio Sampaoli disse que não sabe se ainda estará no Flamengo. James Rodriguez terá condições de dar ainda mais capacidade decisiva ao São Paulo? Conseguirá a Arábia Saudita tirar alguém dos finalistas?
Não existe teoria perfeita no futebol. Há várias formas de ganhar e muitas vitórias chegam como obra da sorte ou de heróis improváveis e vilões azarados.
O que se desenha para este grande duelo entre dois dos maiores times do Brasil? De um lado um time que se organizou e ganhou peças capazes de decidir uma partida fazendo uso desta estrutura coletiva, o São Paulo. De outro uma equipe que ainda não conseguiu oferecer ao grupo com maior poder de decisão do futebol sul-americano a mínima condição coletiva para usufruir dessa capacidade, o Flamengo.
Não há favoritismo. Numa decisão, tanto a individualidade pode prevalecer sobre o coletivo como o coletivo pode sobrepor as individualidades. Sem falar no acaso.