O Goiás superou turbulências para se segurar no G-4 e, por fim, comemorar o acesso à Série A 2022
Goiás montou o elenco às vésperas da Série B e trocou duas vezes de técnico, mas se manteve competitivo do início ao fim

A última passagem do Goiás pela primeira divisão do Campeonato Brasileiro durou apenas duas temporadas. Apresentou talentos e rendeu até uma décima colocação em 2019, mas a reação em meados do segundo turno de 2020 não consertou o estrago feito pela péssima metade inicial da campanha. O retorno dos esmeraldinos à Série A, em compensação, acontece de maneira imediata. Os goianos ainda assim passaram por muitos percalços em 2021. O início de ano claudicante culminou em várias contratações antes da Série B e algumas oscilações, mesmo dentro do G-4 na maior parte do tempo, provocaram duas quedas de técnicos. Mas não foi isso que impediu a competitividade e a celebração do acesso nesta segunda-feira. Tadeu, herói de outros momentos, seria um personagem essencial também à redenção. Saiu com seu nome gritado pela torcida presente no Brinco de Ouro, após uma grande atuação que valeu os 2 a 0 sobre o Guarani e confirmou a subida.
Se a maneira como o Goiás ainda tentou evitar o desastre no Brasileirão de 2020 rendeu uma ponta de esperança, o começo da nova temporada não seria fácil à torcida esmeraldina. A campanha no Campeonato Goiano foi fraca, com o risco de eliminação na primeira fase e a queda para o Atlético Goianiense nas quartas de final. Para piorar, a Copa do Brasil se encerrou logo no primeiro duelo. A visita ao Boavista se provou bastante indigesta, com uma derrota incontestável que atrapalhava também o orçamento para a Série B.
A situação do Goiás pedia mudanças. O elenco utilizado no início do ano contava basicamente com garotos da base, exceção feita a poucos remanescentes da campanha do Brasileirão – com menção principal a Tadeu, grande figura do clube nos últimos dois anos, e ao capitão David Duarte. O técnico Pintado chegou e o elenco também passou a ser moldado às vésperas da Série B. O fim dos estaduais indicou um caminho aos esmeraldinos, que buscaram destaques do interior. Alef Manga, o artilheiro do Carioca pelo Volta Redonda, e Bruno Mezenga, também artilheiro do Paulista com a Ferroviária, foram os negócios principais. Para o meio chegava Élvis, figura importante no acesso do Cuiabá em 2020. Outra novidade era o rodado Apodi.
O Goiás começou a campanha logo na parte de cima da tabela da Série B. Isso não significava, porém, total estabilidade. A equipe não conseguia emendar duas vitórias seguidas no primeiro turno. O bom início como mandante não era correspondido fora e, quando os esmeraldinos melhoraram como visitantes, pioraram em seus domínios. O sobe e desce na tabela variava entre a terceira e a sexta colocação. Nesses altos e baixos, Pintado durou 12 rodadas no cargo. O futebol pobre resultou em atuações ruins e críticas da torcida, especialmente por substituições e escolhas táticas. O comandante ainda entrou em atrito com a diretoria, o que acelerou sua saída. Marcelo Cabo assumiu em seu lugar.
A mudança no comando deu um novo impulso para o Goiás. Marcelo Cabo ainda perdeu para a Ponte Preta em sua estreia, mas logo o time emendou dez rodadas consecutivas de invencibilidade, com seis vitórias no período. Neste momento, os esmeraldinos tomaram pela primeira vez a vice-liderança. Ajudavam também novos reforços que desembarcavam em Goiânia. Sem que Bruno Mezenga correspondesse, Nicolas veio do Paysandu como nova opção para o comando do ataque. O veterano Fellipe Bastos era outra novidade no meio.
A virada de setembro para outubro, no entanto, guardou um momento de provação para o Goiás. A equipe sofreu quatro derrotas num intervalo de cinco rodadas, perdendo inclusive o clássico para o rival Vila Nova, ameaçado de rebaixamento. O triunfo no confronto direto com o CSA até garantiu um respiro, mas depois vieram empates contra Londrina e Botafogo. Marcelo Cabo, então, seria demitido. Ainda na quarta colocação, os esmeraldinos apostavam no auxiliar Glauber Ramos (que já tinha dirigido a equipe em boa parte do Goianão) para cumprir a missão na reta final da campanha.
Novos empates contra Ponte Preta e Operário não foram ideais, mas seguravam o Goiás no G-4. Até que o reencontro com as vitórias acontecesse, enfim, na reta decisiva. O triunfo contra o Coritiba valeu muito. Depois veio a vitória na visita ao Remo, que abriu o caminho. E, nesta segunda, arrancar pelo menos um empate contra o Guarani em Campinas seria importante para garantir uma gordura na zona de acesso. Melhor ainda, os 2 a 0 no placar vieram e anteciparam o serviço sem depender da rodada final. Matematicamente, os goianos novamente estão na primeira divisão.
Tadeu, presente em todos os jogos da Série B, teve uma atuação perfeita em Campinas. O goleiro colecionou grandes defesas para possibilitar o placar. Mesmo depois de fazer o seu nome na Série A, permaneceu no esmeraldino, superou um problema de saúde da filha e cumpriu o objetivo de recolocar a equipe na elite. Élvis, outro jogador fundamental nesta campanha do acesso, por seu papel na armação, marcou o primeiro gol dos goianos. E o segundo foi de Nicolas, que teve sua melhor fase exatamente na guinada do time na virada dos turnos. Outros nomes importantes da equipe, como os zagueiros David Duarte e Reynaldo, também estiveram em campo no jogo decisivo. Faltou só Alef Manga, artilheiro com dez gols e principal referência ofensiva.
Mesmo com tantas mudanças, o Goiás conseguiu manter certos pilares para brigar na parte de cima da tabela. A defesa sofreu apenas 29 gols, empatada com o Botafogo como a menos vazada do torneio. O goleiro Tadeu passou 16 compromissos com a meta invicta. Além do mais, os esmeraldinos variaram pouco dentro ou fora de casa nos números finais. A equipe tem a terceira melhor pontuação como mandante e também a terceira melhor como visitante – longe de seus domínios, supera Coritiba e Botafogo, os outros promovidos por antecipação.
O desafio será manter o nível na Série A evitando o risco de se tornar uma equipe ioiô. As mudanças de técnicos e a própria montagem do elenco às pressas geram algumas dúvidas para a primeira divisão. Além disso, o alto número de atletas emprestados pode provocar um desmanche – entre estes, o artilheiro Alef Manga. O importante neste momento é a garantia do retorno à elite. A partir de então, é reiniciar o planejamento e tentar conseguir bases mais firmes para não ficar exposto às instabilidades, o que poderia ter um custo mais alto nesta Série B.
A rodada final da Série B ainda oferecerá uma disputa eletrizante pelo acesso. O Avaí é o quarto colocado com 61 pontos, mas o CRB chegou aos 60 nesta segunda. CSA e Guarani também seguem vivos com 59. Na parte inferior, há uma briga ferrenha entre Vitória, Londrina e Remo, na qual dois deles cairão. Emoção de sobra, enquanto Botafogo, Coritiba e Goiás festejam a missão cumprida.