Brasil

Gustavo Scarpa e o abismo técnico entre Brasil e Europa

Jogador foi craque do Brasileirão pelo Palmeiras, fracassou na Inglaterra e na Grécia, e agora muda o Galo para melhor

Muito se discute sobre o abismo técnico existente hoje entre o futebol praticado no Brasil e o que se joga na Europa.

Há um jogador que ajuda a desenhar as diferenças de forma cristalina: Gustavo Scarpa. O melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 2022 naufragou em sua aventura europeia, com escalas em Inglaterra e Grécia. Mas no retorno ao Brasil está dando nova cara ao Atlético Mineiro.

Uma coisa é dizer que o Brasileirão é um campeonato muito disputado e efetivamente muito bom para a realidade sul-americana. Outra é tentar fazer qualquer comparação entre o nível técnico e físico do mesmo esporte praticado em terras europeias, principalmente na Inglaterra.

Scarpa jogou 21 partidas na Europa, não fez gol e nem deu passe para gol, somadas suas participações pelo Nottingham Forest, na Inglaterra, e Olympiacos, da Grécia.

A título de comparação entre os números, apenas, sem entrar no campo da exigência, os números de Scarpa em 2022 foram os seguintes: sete gols e 12 passes para gol em 35 partidas. Ele criou 16 grandes chances e deu, em média, 3,4 passes decisivos por partida.

Na Premier League, Scarpa fez seis partidas, sem gols e sem passes para gol, tendo feito média de 0,2 passes decisivos por partida.

No Campeonato Grego, ele disputou sete partidas, sem gols, criou uma grande chance e teve 0,7 passes decisivos.

No Brasileiro de 2024, Scarpa disputou três jogos, fez um gol e deu dois passes para gol. Sua média de passes decisivos por jogo é de dois. Além disso, teve participações importantes na conquista do título mineiro pelo Galo e também na Libertadores.

Para os padrões sul-americanos, Gustavo Scarpa é um grande jogador. Capaz de ser o fator decisivo do principal campeonato nacional do continente. Na Europa, em especial na Inglaterra, até por seu estilo de jogo e sua compleição física, não fez a diferença.

Pode-se argumentar que teve pouco tempo, que seu time na Inglaterra era fraco, mas quando se avalia o sucesso de outros jogadores brasileiros no futebol inglês, fica evidente a desvantagem de Scarpa. Mesmo sendo ele um jogador de excelente capacidade técnica e grande versatilidade.

Muita gente no Brasil torce o nariz para Gabriel Jesus, mas o sucesso dele na Inglaterra ajuda a explicar o fracasso de Scarpa e as enormes diferenças que separam a noção de grande jogador no Brasil e na Europa.

Scarpa é um jogador de muita visão de jogo e passe diferenciado. Para executar essas duas qualidades, precisa de espaço, o que no Brasil se concede muito mais do que na Europa — principalmente na Inglaterra. O tempo de que ele dispõe no Brasil e na América do Sul para receber a bola, ajeitar, levantar a cabeça e fazer o passe para gol ou mesmo o gol, raramente existe na Inglaterra.

O espaço e reduzido e o bote na bola é sempre muito mais rápido e preciso.

Muitos jogadores brasileiros demoram para se adaptar a essa particularidade. Por características individuais e por questões de velocidade e estilo do futebol praticado por aqui.

O exemplo de Scarpa nos faz pensar.

Ele segue sendo um jogador de primeira linha no Brasil. Importante, decisivo. Provavelmente não retornará para a Europa e tampouco será recordado por onde esteve por lá.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
Botão Voltar ao topo