Grêmio precisa agir antes que imagem do clube se arranhe por culpa de alguns

É uma minoria. Tudo bem, é uma minoria mesmo. Foram focos isolados de intolerância que geraram as agressões verbais contra Aranha no Grêmio 0x2 Santos desta quinta pela Copa do Brasil. Mas não podemos nos perder apenas no fato de que foi uma minoria. Ao mesmo tempo em que foi, realmente, uma parcela pequena da torcida, também é verdade que o efeito que ela pode ter é enorme. Como o fato de que, mais uma vez, um jogo do Grêmio terminou com notícias de manifestações racistas. E, pela repetição do fenômeno, o clube não pode mais tratá-lo como evento isolado de um ou outro idiota. Precisa tomar uma atitude mais assertiva contra o tema, para seu próprio bem.
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Torcedores gremistas provocaram manifestações racistas em pelo menos dois outros casos, ambos Gre-Nais: as finais do Gauchão de 2011 e 2014. As vítimas foram, pela ordem, Zé Roberto e Paulão. A isso se soma o caso de Aranha nesta quinta e ao apelido de “macacos” pelos quais os colorados são chamados. É o suficiente para algumas pessoas tenderem a rotular o Grêmio e toda sua torcida como racistas. Não são, mas é preciso ter uma atitude mais ativa para evitar que essa percepção se espalhe ainda mais.
Como? Botando em prática o discurso. Em 2013, o Tricolor divulgou um vídeo para combater o racismo no futebol. É um ótimo filme, que elogiamos na época (veja aqui). Mas, pelo visto, o efeito não foi tão grande. É preciso ser mais agressivo. Em sua nota oficial sobre o caso Aranha, o Grêmio coloca:
Informamos que o Departamento Jurídico do Clube, em conjunto com a administração da Arena, já está tomando todas as medidas possíveis para que os envolvidos neste episódio sejam identificados e para que os materiais disponíveis sejam enviados às autoridades policiais, a fim de tomarem as providências cabíveis no âmbito criminal. No que se refere às ações administrativas, caso os responsáveis identificados sejam sócios do clube, estes serão imediatamente suspensos do Quadro Social e proibidos de ingressar no estádio.
A promessa é curta e direta, e transformar esse discurso em ação é importante. Mas não deve parar aí, e é onde a coisa pode ser mais dura. O clube precisa aceitar que o caso é grave, e não se escorar no “é um caso isolado” para diminuir o que ocorreu como forma de evitar punições maiores. E precisa também agir em cima de sua torcida, mesmo que contrariando alguns (como os que acham aceitável chamar os colorados de “macacos”).
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É difícil, dirigentes morrem de medo de discordar de torcedores com medo de perder apoio político. Basta ver como vários clubes são reticentes em retirar apoio a torcidas organizadas ou mesmo de se desvincular institucionalmente. Mas o Grêmio não pode ter atitudes dúbias, como relativizar os casos ou deixar de expor que parte de seus torcedores precisam mudar a forma de agir. A partir daí, pode ser criada uma mobilização entre os próprios gremistas. Afinal, quase tão impressionante quanto as imagens de torcedores xingando Aranha é o fato de as pessoas em volta não parecerem chocadas com o que estão vendo/ouvindo.
No cenário atual, a minoria gremista que xinga um jogador negro está atingindo dois alvos: o atleta adversário e o Grêmio. O jogador prestar queixa sobre o ocorrido e iniciar o processo contra o agressor. O clube também precisa fazer sua parte.