Brasil

Uma reunião de cartolas definirá o que e como você vai ver futebol na televisão

Disputa pelo poder na CBF e, consequentemente, no futebol brasileiro pode mudar muito sobre transmissão na televisão

Enquanto os verdadeiros protagonistas do futebol praticado no Brasil curtem merecidas férias, a face real da disputa pelo poder e pelo dinheiro na entidade que comanda (?) o esporte ferve nos bastidores.

Chama atenção o silêncio, como sempre, de atletas e treinadores. Justamente eles, os maiores interessados em que sua atividade seja cada vez mais transparente e goze das melhores condições para que o espetáculo seja privilegiado.

O que está em jogo na disputa pelo poder na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não é organizar melhor o calendário, oferecer gramados e estádios melhores e decidir quem será, de fato, o treinador da seleção brasileira masculina principal. A disputa é pelo poder econômico que emana da liderança política da entidade que rege o futebol nacional.

Em sua assembleia geral, realizada em abril de 2023, a CBF anunciou receitas de R$1,2 bilhão e lucro de R$ 143 milhões.

Em ótimo artigo no portal Máquina do Esporte, o jornalista Erich Beting destrinchou os bastidores da disputa pelo poder na CBF, que envolve, fundamentalmente, a questão dos direitos de transmissão dos jogos de futebol no Brasil. As mudanças deste mercado têm impacto direto na política da entidade. A decadência de algumas empresas de marketing esportivo, a retomada de outras e o surgimento de mais algumas movimentaram o mercado. Forças políticas teoricamente banidas ou suspensas seguem atuando junto a algumas dessas empresas em busca de recuperação de espaço.

A FIFA, por sua vez, posa de boazinha da história

A Lei do Mandante (Lei 14.205), que garante aos clubes mandantes das partidas os direitos sobre transmissão e exibição de seus jogos, balançou monopólios que pareciam perenes e abriu espaço para que novas plataformas e conceitos de transmissão entrassem na disputa.

A FIFA, cujo modelo de gestão do esporte é replicado pelas confederações afiliadas, posa de magnânima e faz ameaças veladas ao futebol e aos clubes brasileiros. São bravatas frequentes de uma entidade que se considera acima das leis dos países e, de fato, modifica algumas leis de alguns países durante a Copa do Mundo. Mas há atores nessa ópera bufa que a FIFA “baniu”, mas que seguem importantes nos bastidores do esporte.

A solução desse imbróglio terá impactos no futebol que você, torcedor comum, assiste em suas telas.

Os clubes se movimentam de acordo com seus interesses. A Federação Paulista de Futebol, que é quase sempre antagonista da CBF, se articula tendo como aliada a força de alguns dos principais clubes de futebol do País. A eterna rivalidade Rio-São Paulo ainda é muito presente no futebol.

Disputa de poder na CBF vai decidir tudo

O modelo eleitoral da CBF é uma peça engenhosa de concentração de poder. Conforme estatuto modificado em 2017, para ser candidato à presidência da entidade o pleiteante precisa ser referendado por oito federações e cinco clubes das séries A e B. Mas a cereja do bolo da concentração de poder está no peso dos votos. Um voto de federação vale três, o de um clube da Série A  do Campeonato Brasileiro vale dois e da Série B, um. Uma federação periférica e sem clubes importantes no cenário nacional tem mais poder de voto que um clube como o Santos, por exemplo, que disputará a Série B em 2024.

Série B que sempre foi vista como patinho feio por grandes emissoras de TV, mas que hoje tem poder de, inclusive, decidir a eleição da CBF. A disputa das empresas de marketing esportivo pelo torneio deu a ela um poder enorme. Controlar a CBF significa controlar a venda dos direitos dessa competição em um cenário de pulverização do mercado de transmissão de jogos de futebol.

A disputa pelos direitos de transmissão dos jogos amistosos da seleção brasileira de futebol também mexeu com esse equilíbrio de forças. Acordos de palavra foram rompidos em cima do laço e essa situação também contribuiu para o enfraquecimento político do presidente afastado da CBF, Ednaldo Rodrigues.

A FIFA avisou que vem aí para tentar resolver a questão. Sempre falando grosso, querendo pisar nas leis dos países, exalando arrogância, como se fosse um farol da democracia. O mais provável é que ajude a costurar um acordo entre os envolvidos em busca de notícias positivas e publicidade favorável. A FIFA tem a Confederação Sul-americana de Futebol como aliada na disputa pelo poder com a Uefa.

Na Europa, a disputa foi vencida pela entidade que organiza a Champions League e a Eurocopa. Mas num cenário internacional a Conmebol pode ser decisiva para o reequilíbrio de forças. De nada interessa para a FIFA que a confederação mais importante da América do Sul esteja acéfala e na mira da Justiça Comum da maior economia do continente.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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