Brasil

No Fluminense, a sutileza de Renato Augusto encontra o apetite de Xerém

Craque estreou com a camisa 20 no mais alternativo dos elencos que o Fluminense poderia escalar, e fez, com classe, o que se esperava

É só o início do ano, os titulares nem estrearam, o rival é de quarta divisão, e aqui podemos listar mais todos aqueles poréns do futebol brasileiro relativizado e regionalizado até o mês de abril, mas o Fluminense teve um bom sinal no domingo ao vencer o Nova Iguaçu com seu time mais do que alternativo e, diante do placar de 3 a 0 com três gols de jovens formados em casa, promover a estreia de Renato Augusto, mais um farol de sobriedade e técnica no já refinado elenco de Fernando Diniz.

Felipe Andrade, 21, deslocado para primeiro volante, e Isaac, 19, construindo e atacando pelo lado esquerdo, são nomes que vão se mostrando mais à vontade com a camisa do campeão da América. Antônio Carlos, na zaga, e Lelê, na frente, se firmaram como dois pilares importantes nesse início de temporada que casou com as férias da equipe principal, que jogou até quase o Natal. E Gabriel Pires, em estreia após chegada do Botafogo, também deu corpo ao meio de campo como única mudança do técnico Marcão em relação à vitória anterior.

Mas no intervalo veio Renato Augusto, com a camisa 20 que consagrou Deco (e, por que não, em referência ao eterno casal Washington e Assis). Não que tenha feito chover ainda mais na noite de campo encharcado no Rio de Janeiro, mas em meio tempo mostrou o que sabe com a aparente naturalidade de sempre: cortou caminho para encontrar bons passes, mediou a posse de bola e foi aquele parceiro fácil para uma tabela que abre espaços na defesa rival. A poça d'água segurou sua possível primeira assistência, num toque que chegaria para a finalização de Isaac.

De novo, é verdade que esse primeiro encontro da sutileza de Renato com o apetite dos meninos formados em Xerém é inconclusivo, parcial, apenas um segundo tempo numa temporada de 60 ou 70 jogos. Ainda assim, vale o registro de um cara com extrema facilidade de entender o andamento de uma partida e o funcionamento de um time, além de não deixar dúvidas sobre o entendimento próprio sobre seus limites e seu tamanho no plantel. Ele não chega às Laranjeiras para ser dono do time, e nem precisa. Ser o craque coadjuvante, a segurança técnica que coopera com o andamento tricolor, já poderá ser o bastante.

Porque o maior barato da chegada de Renato é não precisar quebrar a cabeça para saber onde encaixá-lo no time. E aí está uma das grandes crises em reforçar times campeões, a consequente dificuldade de mexer numa estrutura que virou a maior lembrança de toda uma geração (ou duas, três, quatro) de torcedores. Se seus lampejos pontuais já apareceram aqui e ali num contido Corinthians, é de se esperar que possam ser ainda mais interessantes na nova casa, onde terá parceiros de passe aos montes ao seu redor. Um golaço do Fluminense.

Dilemas de um Fluminense campeão na janela de transferências

O elenco melhorou na virada do ano. Perdeu Nino e em algum momento deve perder André, como previsto. Antônio Carlos, Felipe Alves, Gabriel Pires, Terans e Renato ampliam o leque de Diniz, que muitas vezes teve poucos substitutos prontos para os momentos importantes do último ano. Douglas Costa é uma aposta depois da passagem dispersa pelo Grêmio, mas a boa notícia pode ser não lhe conferir tanto protagonismo e chegar num plantel mais encorpado, não voltado à sua individualidade que há tempos não decide. Um time de Ganso, Arias, Keno e Cano com um banco de Renato, Terans, Douglas Costa e John Kennedy, sobrando ainda Lima, Yony, Lelê e os garotos. Nada mal.

São ainda cinco jogos pelo Carioca antes da viagem ao Equador para abrir a Recopa Sul-Americana como visitante. Aí, passado o Carnaval, começa para valer o ano, numa sequência de LDU, Flamengo, LDU novamente e Botafogo. O Flu deste ano tem o desafio de ser melhor que o da temporada passada, quando tocou o céu. É difícil, mas se coçou para isso.

Foto de Paulo Junior

Paulo JuniorColaborador

Paulo Junior é jornalista e documentarista, nascido em São Bernardo do Campo (SP) em 1988. Tem trabalhos publicados em diversas redações brasileiras – ESPN, BBC, Central3, CNN, Goal, UOL –, e colabora com a Trivela, em texto ou no podcast, desde 2015. Nas redes sociais: @paulo__junior__.
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