Comissão técnica de Tite é trunfo para melhorar número alto, mas justificável de lesões em 2023
O Flamengo teve 42 lesões em 2023, pior número nos últimos anos e, ainda que o calendário justifique, não resta dúvida que existe espaço para melhora
O Flamengo foi um dos clubes da Série A que mais teve lesões em 2023. Foram 42 baixas no departamento médico ao longo de toda a temporada, número que representa um aumento de 62% com relação a última jornada, de acordo com o Espião Estatístico, do ge. Ainda que sejam altos e tenham, de certa forma, prejudicado o desempenho do time, os números são um reflexo do calendário enxuto enfrentado pelo Rubro-Negro.
76 jogos em um ano é algo surreal, mas extremamente comum no futebol brasileiro. Para ter uma noção, o Flamengo nem foi o clube que mais jogou em 2023, já que o Fortaleza entrou em campo duas vezes a mais e, curiosamente, ou não, teve número similar de lesões. Se por um lado a maratona vivida ameniza a situação, ao analisar o desempenho de outras equipes, fica claro que a preparação do clube precisa melhorar.
Número de jogos e temporada atípica
O altíssimo número de jogos já era algo esperado pelo Flamengo, afinal, o clube disputaria três competições a mais do que o restante dos adversários. Por ter sido campeão da Copa do Brasil e da Libertadores, o Rubro-Negro entrou em campo pela Supercopa, Recopa e Mundial de Clubes, tendo fracassado em todos, sem exceção. O ano poderia ter ultrapassado os 80 compromissos, mas o clube acabou sendo eliminado da competição mais importante da América nas oitavas de final.
O que deixa a situação do departamento médico mais tranquila é a quantidade de trocas na comissão técnica. Dorival tinha feito excelente trabalho no quesito — algo que será abordado em breve na matéria —, mas não teve o contrato renovado. Vítor Pereira, na ânsia de conhecer melhor o elenco, não teve período de pré-temporada bem definido, algo que minou os planos da preparação física para o início da temporada.
Sampaoli chegou com um estilo totalmente diferente, de treinos pesados, incessantes, por vezes em dois períodos. O elenco sofreu no início com algumas lesões musculares, de Arrascaeta e Everton Ribeiro, inclusive, mas depois conseguiu diminuir um pouco o número. O cansaço pelo tamanho da maratona, no entanto, fez com que voltasse ao início já no fim da passagem do argentino.
Tite até conseguiu deixar o Flamengo mais calmo, dado o excelente trabalho de Fábio Mahseredjian, mas não foi o suficiente para evitar o pior desempenho do clube em lesões desde 2016. Os 42 problemas físicos vistos em 2023 empatou com a marca de 2017 e 2021, quando o Rubro-Negro também teve anos complicados dentro das quatro linhas, com vices e frustrações.
Matheuzinho teve a lesão mais séria, e David Luiz passou mais no DM
Entre os 42 problemas físicos do Flamengo, Matheuzinho teve o mais grave. O lateral direito sofreu uma fratura na tíbia em março e perdeu 32 partidas por isso. Filipe Luís, com 24, Pulgar, com 20, David Luiz, com 19 e Arrascaeta, de 16 compromissos, completaram os cinco jogadores que mais ficaram afastados dos gramados. O experiente zagueiro, inclusive, foi o jogador que mais esteve entregue ao departamento médico em 2023.
Outro caso específico que chamou a atenção foi o de Gabigol. O camisa 10 teve um problema crônico na coxa, que o impediu de obter o mesmo nível físico de outras temporadas. Ele ficou a uma ida ao departamento médico de igualar David Luiz como atleta que mais ficou entregue aos cuidados de Márcio Tannure e companhia. Recentemente, ele falou sobre o problema.
— Esse ano aconteceu de jogar praticamente o ano todo machucado. Machuquei meu adutor no segundo jogo do Mundial. Recuperei, mas estava em sequências de finais, era importante estar no campo, e eu não quero largar o osso. Sei que faz mal para mim, tinha que ter parado. Em fevereiro eu parei, mas Flamengo jogou Recopa, Brasileiro, foi, foi, foi.
— Tratei nas paradas da Data Fifa, mas não consegui estar 100%. Tinha que ter parado em algum momento ali. É tudo em consenso com médico, treinador na época, que era o Vitor Pereira, depois Sampaoli, Tite. É por desgaste, há cinco anos sou o que mais jogo. Isso desgasta e meu corpo pediu: “Calma aí um pouquinho”.
Trabalho de 2022, com Dorival, é espelho para o sucesso
Ainda que tenha alguns motivos plausíveis, o Flamengo não pode ser isentado do trabalho ruim de preparação física em 2023. Em comparativo inicial, é possível observar que o Palmeiras teve 16 problemas físicos a menos do que o Rubro-Negro no ano, sendo que só fez três jogos a mais. Diante da dificuldade, dá para afirmar que é plausível, sim, esperar um departamento médico vazio no Ninho do Urubu.
O trabalho de Dorival Júnior — e Paulo Sousa, claro — no ano passado pode ser tomado como referência para o 2024 do Flamengo. A começar pelo número de atletas utilizados: como o treinador promovia o rodízio entre o “time das Copas” e o “time B”, que entrava em campo somente no Campeonato Brasileiro, o Rubro-Negro teve 52 jogadores diferentes em campo. Nessa jornada, foram 43, ou seja, nove a menos.
Essa diferença fez com que o número de lesões fosse o mais baixo do Flamengo desde 2018. Ao todo, foram apenas 26 problemas em que o departamento médico precisou ser acionado. É a única grande margem da diminuição na Era Landim. A menor marca dos últimos anos é a de 2016, com 22.
- 2018 – 25 lesões
- 2019 – 27 lesões
- 2020 – 35 lesões
- 2021 – 42 lesões
- 2022 – 26 lesões
- 2023 – 42 lesões
Por mais que o torcedor tenha a impressão de que rodar o elenco é sinônimo de fracassos, muito pelo que Jorge Jesus fez em 2019, esse não é o caso. Em uma temporada tão puxada, o Flamengo não soube rodar seu elenco e, apoiado nas três trocas de treinadores, sucumbiu as lesões. A sorte é que Tite, e sua qualificada comissão técnica, terá um período para acertar a parte física do time para reverter o cenário em 2024. Esse tem que ser o ponto de esperança do torcedor.