Landim e Flamengo têm bom plano para novo estádio, mas torcedor precisa ter paciência
Projeto do Flamengo para o Gasômetro é interessante, nas palavras do presidente Landim, porém é de longo prazo
Depois de muito burburinho nos últimos dias, o presidente Rodolfo Landim, veio a público para esclarecer o planejamento do Flamengo para construir um estádio no terreno do Gasômetro. O processo será longo e, por isso, os torcedores rubro-negros precisarão de muita paciência até o local ficar pronto para recebê-los. Se for como nas palavras do mandatário, tem tudo para dar certo.
Em entrevista à coluna do jornalista Mauro Cezar Pereira, no UOL Esporte, Landim detalhou tudo que foi pensado pelo Flamengo para o terreno do Gasômetro. Dos planos iniciais até o que vemos no momento, é possível identificar que o clube sabe bem o que está fazendo e pretende avançar nas tratativas para adquirir o terreno ainda em 2023. Será que finalmente chegou a hora do Rubro-Negro ter a sua casa própria.
A estratégia do Flamengo
Landim explicou que conseguir o terreno do Gasômetro não será nada fácil, embora o Flamengo já tenha um planejamento traçado para o futuro. O local faz parte de um FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), angariado para conseguir recursos pensando nas obras do Porto Maravilha, que interessam a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Apesar da boa localização, o terreno jamais correspondeu o investimento no local. O Gasômetro não conseguiu gerar os R$ 4,5 bilhões necessários para as obras do Porto Maravilha e, por isso, perdeu força, com tendência de ser negociado. Para Landim, a estratégia depende de como o Flamengo vai utilizar essa subvalorização para mostrar que o local ainda pode ser útil.
— Exatamente. Se eles tinham um plano de negócio, estão valorando os ativos aportados por algo muito menor, pois ninguém consegue mostrar a eles um projeto que traga o retorno que esperavam. Isso pode ser um argumento para que o Flamengo traga um projeto novo, saindo um novo valuation (análise do valor de um ativo) para aquela área, no mínimo reduzindo o enorme prejuízo — iniciou.
Por pertencer ao FI-FGTS, o terreno no Gasômetro pertence à Caixa Econômica Federal, mas não é apenas ela que participa das decisões sobre a possível venda. O fundo do banco estatal contratou um assistente técnico para dar suporte, no caso, a Vinci Partners. Dessa forma, a diretoria do Flamengo precisará convencer as duas partes se quiser adquirir o local para a construção do estádio.
— O Flamengo não terá esse entorno, mas naturalmente os donos dos terrenos vizinhos vão receber visitas de incorporadores que irão se interessar. Não seria o clube a se beneficiar dessa forma, mas os que vão explorar o entorno. Nos vendem por um preço mais baixo em troca do desenvolvimento e valorização do entorno. Preços inferiores, não de graça. Esse é o grande atrativo que eu vou mostrar ao FI-FGTS para que nos vendam. Hoje há um círculo vicioso, está parado lá e sem vender, quero criar um círculo virtuoso. Fizemos isso no futebol, com um orçamento maior e times mais fortes, ganhando mais e arrecadando mais, retroalimentando o processo de crescimento dobramos o orçamento do Flamengo — disse o mandatário.
Como está o andamento das negociações
Cá está a grande novidade da entrevista. De acordo com Rodlfo Landim, o Flamengo está buscando nova reunião com os vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, depois da mudança no mandatário e nos vices do banco estatal. Vale lembrar que, durante o último mandato, o Rubro-Negro teve dificuldades para negociar, já que as partes não estavam na mesma página.
Mesmo assim, a situação não é nada fácil. Além de se entender com a Prefeitura do Rio e com as duas frentes da Caixa, o Flamengo ainda precisará de um licenciamento ambiental. O Gasômetro já foi área de reservação de gás natural e, por isso, o solo precisará ser analisado antes que as obras comecem. Segundo Landim, o processo não deve impedir nada.
— Envolve vários atores, prefeitura, Caixa, Estado, para licenciamento ambiental… A área já foi Gasômetro e havia grandes tanques de nafta no local, não era o gás metano e etano, o gás natural, mas gaseificado ali. Podem existir resíduos de hidrocarboneto no solo. Sim, sabemos que aquilo ali é de argila orgânica, a fundação vai custar muito mais caro do que em uma construção normal. Todo o terreno que é fundo de baía tem argila orgânica, isso exige mais do estaqueamento. Mas nada que seja impeditivo — prosseguiu.
Qual o interesse do Flamengo no ponto?
O grande interesse do Flamengo no Gasômetro passa pela possibilidade de chegada em diversas vezes. O Terminal Gentileza, que ainda está em processo de construção, vai estar muito perto e será ponto final de todo o sistema de BRT. Existe a expectativa de que 130 mil pessoas sejam atendidas no local por dia. É importante frisar, também, a proximidade com o VLT, que liga a região portuária ao Santos Dumont, e as linhas de metrô e trem. Landim até citou que outros terrenos na Barra da Tijuca seriam mais atrativos se não fosse a gama de transporte.
— Ali teremos o Terminal Gentileza, ponto final de todos os BRT (Bus Rapid Transit, um sistema de transporte coletivo do Rio de Janeiro), rodoviária bem em frente, além do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, que interliga a região portuária ao centro financeiro da cidade e ao aeroporto Santos Dumont), que vem da cidade e chegará ao mesmo terminal. E para quem vem de metrô e trem, estaria a uma distância que a pessoa aceita andar até chegar ao estádio, pouco mais de um quilômetro. Tem muito terreno para o lado da Barra da Tijuca e outras regiões, mas com acesso difícil. Se não tivéssemos essa opção, iríamos atrás de outra, mas ela existe e ainda cabe ali um estádio.
Projeto de SAF
Para eguer o seu estádio, o Flamengo também precisará de ajuda dos patrocinadores. Para entender melhor o processo, Landim foi à Alemanha no meio deste ano, a fim de tratar sobre o assunto com dirigentes do Bayern de Munique. O modelo dos bávaros, que passa pela venda de 25% das ações do clube, é inspiração para que o Rubro-Negro consiga a sua casa.
O mandatário do Flamengo explicou o processo e voltou a frisar que o objetivo do clube é não se endividar durante o período de construção do estádio. Pela venda de um quarto da SAF, segundo a previsão de Landim, o Rubro-Negro conseguiria adquirir mais de R$ 1,2 bilhão, o suficiente para, pelo menos, iniciar as obras no Gasômetro.
— Já viajei pelo mundo para entender como alguns estádios foram feitos e o processo desenvolvido. Não quero endividar. O estádio do Corinthians obteve R$ 300 milhões pelo naming rights, o mesmo ocorreu no Palmeiras. Fui ao estádio do Bayern e basicamente eles se transformaram numa SAF para ter o estádio, vendendo 24,9% da parte do futebol. Na lei alemã, se os sócios minoritários têm menos de 25%, não decidem nada. Esse foi o projeto com a Allianz comprando naming rights, a Adidas ampliando o contrato com o clube em longuíssimo prazo e dando uma espécie de luvas, e a Audi, que lança todos os seus carros no Bayern (cada um dos três ficou com 8,3%, totalizando 24,9%). Portanto existem formas de levantar recursos, buscaremos parceiros comerciais de longo prazo num eventual financiamento, reduzindo o endividamento ao máximo — analisou.
Sonho próximo, mas é hora de ter paciência, torcedor
Pelas movimentações do clube, o torcedor do Flamengo está ciente de que o sonho da casa própria está próximo. Não que o Maracanã não seja um lar para o clube, muito pelo contrário, foi palco das grandes conquistas do Rubro-Negro nos últimos anos. Apesar disso, existe uma clara diferença naquilo que poderia faturar, já que o Mário Filho pertence, no papel, ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, e ele cobra seu preço.
A Trivela entende que, pelo andar da carruagem, o estádio poderia ficar pronto na reta final de 2025, com possibilidade de atraso até o início de 2026. Vale destacar, contudo, que não existe nada firmado no papel, nem mesmo a compra do terreno por parte do Flamengo. Por enquanto está tudo no campo do planejamento, no intuito de agir na hora certa.
Dessa forma, ainda que exista a expectativa pela construção, o torcedor do Flamengo precisará segurar a emoção e aguardar. Segundo Landim, a torcida ainda será premiada com setores para o rubro-negro raiz, ou seja, aquele que está no estádio com frequência. O mandatário também confirmou que o local não deve ser palco de show e terá gramado natural.
— Será um estádio somente para futebol, com gramado natural. Se quiserem fazer shows, façam no Maracanã depois que acabar a temporada. No estádio, sim, teremos museu, restaurante, loja lá dentro. A ideia é ter uma área para o torcedor raiz, que vai aos jogos, com preço estabelecido pela frequência. Com o reconhecimento facial não tem como passar para outra pessoa. Então se ele é frequente nessa área, passa a ter o ingresso mais barato em parte do estádio. A grande receita virá de camarotes, de empresas, de quem estará disposto a pagar dez vezes mais do que o torcedor comum, com lounges onde possam levar o pessoal deles, etc.
Apesar da boa e esclarecedora entrevista, Landim terminou com uma polêmica. Na justificativa de manter um Flamengo estruturado, o presidente afirmou ser contra o direito a voto para sócios torcedores em pleitos dos cargos altos do clube. Na opinião do mandatário, seria abrir brecha para que promessas “irreais” recolocassem o Rubro-Negro no ostracismo.
— Para tudo isso funcionar será preciso mudar a governança no Flamengo para que não apareça alguém que destrua esse caminho. O Flamengo está estruturado, mas alguém pode quebrar o clube em três meses, a governança do Flamengo é super presidencialista e os poderes que o presidente tem são enormes. Se eu amanhã quiser contratar o Neymar, lanço uma dívida de R$ 1,25 bilhão e ponto. Por isso sou contra fazer do sócio torcedor um eleitor. Alguém lançaria uma plataforma de promessas malucas e quebraria o Flamengo. Ficaria mais fácil emplacar um discurso populista. Eu poderia fazer uma graça em 2024, meu último ano de mandato, e deixar um buraco para quem vai ficar no meu lugar. Poderia — finalizou.