Declaração de Everton Ribeiro prova, mais uma vez, que o plano é renovar com o Flamengo

As negociações de Flamengo e Everton Ribeiro pela renovação de contrato seguem a todo vapor, ainda que estejam embarreiradas por discordância no tempo de contrato. O desejo da extensão do vínculo, contudo, já vinha sendo noticiada como mútua há algum tempo. Nesta terça-feira (31), o camisa 7 deixou muito clara a intenção de permanecer no Ninho do Urubu.

Em longo texto publicado na The Players Tribune, que também virou uma espécie de entrevista, no YouTube, Everton se declarou ao Flamengo. O meia fez toda uma retrospectiva desses quase sete anos de clube, além de mostrar que entendeu bem o significado de amar o clube. Tal declaração trouxe uma energia maior, dessa vez da torcida, em pról da renovação.

Passados seis anos, o que eu posso dizer é que tem sido muito, mas muito maior do que eu imaginava. Aqui, você vacilou, se distraiu, a emoção e a mística rubro-negra te pegam de jeito. Outro dia, no estacionamento do CT, eu estava de saída e um garotinho veio falar comigo:

— Tio, qual é o seu sonho?

Caraca! Só uma criança pra fazer uma pergunta dessas. Meio desprevenido, eu respondi de bate-pronto, sem pensar muito, de coração aberto:

— Meu sonho é continuar vencendo com o Mengão.

Simbose entre Everton e torcida do Flamengo

Everton Ribeiro é uma liderança do Flamengo dentro de campo. Capitão desde 2019, o meia levantou 11 canecos pelo clube, a maioria como capitão ao lado dos Diegos, Ribas e Alves. Fora de campo, no entanto, a relação com a torcida sempre foi um pouco mais fria do que se imaginava para um jogador deste calibre que, se renovar, terminará com quase dez anos de clube.

Não é que o jogador não seja ídolo, muito pelo contrário: foi peça fundamental de uma geração muito vencedora e marcada na história do Flamengo. Viveu altos e baixos desde a sua chegada, com início conturbado e sem títulos, mas acabou premiado com glórias épicas e memoráveis a partir de 2019. A grande questão é que, nesta geração, existem outros atletas que saltam mais aos olhos do torcedor, como Gabigol, Arrascaeta e Bruno Henrique.

O camisa 7 também não é dos mais midiáticos. É uma daquelas figuras que sempre coloca a cara para dar o recado ao torcedor, na vitória ou na derrota, mas não costuma aparecer fora isso. Apegado à família, é daqueles que traz a responsabilidade para si, e a cobrança consigo mesmo é muito maior do que com os companheiros, segundo apurou a Trivela.

A publicação do texto nesta segunda-feira (31), em meio à negociação, deixou o coração do torcedor do Flamengo mais amolecido. Embora alguns ferrenhos defensores de uma renovação completa do elenco ainda estejam contra, a declaração de amor ao clube e à Nação fizeram com que a torcida pensasse no pouco tempo de resta.

O meia já está com 34 anos, ou seja, um novo contrato poderia até significar uma aposentadoria no Flamengo. Ainda que a atual temporada tenha sido uma das piores desde que chegou, Everton já afirmou que ainda possui combustível no tanque e quer seguir jogando em alto nível, especialmente depois da chegada de Tite, que é entusiasta do seu futebol.

O texto só reforçou esse lado na torcida do Flamengo. Não a parte da renovação completa do elenco, e sim de aproveitar um pouco mais essa geração que fez história no clube. Cada um com a sua situação diferente, é verdade: enquanto uns devem deixar o clube, como Rodrigo Caio e David Luiz, Everton tem boas possibilidade de ficar.

Negociação segue travada

Por enquanto, Everton Ribeiro e Flamengo ainda não chegaram a um final feliz pela renovação de contrato. O problema não está nos salários ou luvas, e sim no tempo de parceria. Enquanto o Rubro-Negro quer algo mais a curto prazo, com um ano de vínculo, os representantes do camisa 7 buscam, pelo menos, mais duas temporadas. As conversas se arrastam, mas isso não preocupa nenhuma das partes.

O departamento de futebol tem excelente relação com o staff de Everton Ribeiro, e os envolvidos mantém conversas sobre a renovação. Uma nova reunião, depois de uma primeira considerada positiva, deve ser marcada para a próxima semana, a fim de discutir, de vez, como alinhar o novo contrato. Como mencionado, existe o interesse mútuo pela extensão do vínculo.

Leia trechos do texto de Everton Ribeiro

“Vencer acalma o meu espírito, manda embora o temor que eu sinto de não fazer direito o que eu sei fazer dentro de um campo de futebol e decepcionar as pessoas. Então, eu jogo uma água na cara e vamo que vamo: “Bora! Bora, que eu defendo o time do coração de pelo menos 40 milhões de pessoas e não quero decepcionar nenhuma delas”. Eu assumi esse compromisso comigo e com o Flamengo assim que desembarquei no Rio, em 2017, e vi aquela multidão vestindo vermelho e preto e gritando meu nome no aeroporto.

Por ter jogado contra e ter visto do que eles eram capazes, eu achava que sabia tudo sobre esses malucos. Que nada. Foi só naquele saguão em festa, quando os caras fizeram eu me sentir parte da Nação, eu, um recém-chegado!, foi ali que eu entendi por que todo jogador brasileiro sonha em jogar no Flamengo um dia.

Alguns não vão admitir, tudo bem, mas que sonham, sonham. É mais forte que a gente. Eu, por exemplo, estava sossegado em Dubai. Morava na beira da praia, vinha jogando bem num dos times mais tradicionais de lá, vencendo jogos do campeonato e com um contrato de quatro anos para cumprir. Essa equação, pra mim, era o ideal de tranquilidade. Por que eu mudaria? Porque era o Flamengo me chamando, pô! Se entrou o Mengão na equação, o resultado vai ser outro, não tem jeito” (…)

“Ok, jogar no Flamengo não é uma eterna lua-de-mel. Há momentos pesados de cobrança e pressão e, sinceramente, eu acho que nem dá pra ser diferente. Tudo no Flamengo é intenso, grande, poderoso: a história, as conquistas, os ídolos, a torcida, os clássicos.

Quem joga aqui precisa entender que carrega a esperança, o sonho, a felicidade de milhões de pessoas. Tem pai de família que economiza no supermercado pra ver o Flamengo no Maracanã pelo menos uma vez na vida. Quem não entende isso não entende o Flamengo, não entende o futebol, não entende nada” (…)

“Título nunca é demais. Quanto mais a gente tem, mais a gente quer… O oposto do medo, lembra? Mas esta temporada, definitivamente, não foi do jeito que planejamos. Precisamos reconhecer isso. Assumo a minha parcela de responsabilidade e compartilho da frustração de todo o grupo por ter decepcionado nossa torcida. 

Por tudo que vencemos, o torcedor esperava mais de nós. Afinal, jogar no Flamengo exige um compromisso permanente com a vitória, o que me faz recordar que um ano atrás, quando ganhamos a segunda Libertadores da nossa geração lá em Guayaquil, tínhamos certeza de que ainda havia muito mais para conquistar. E eu sigo acreditando nisso.

Agora, títulos outros clubes também ganham. O que é único do Flamengo, patrimônio, é o inexplicável de ser Flamengo.

Sei que é grandioso e histórico o que eu vivo aqui, mas tenho dificuldade de explicar. Aí acabo simplificando. Se aquele garotinho voltar no estacionamento do CT e me perguntar o que é ser Flamengo, eu vou responder que é como tomar um picolé com os filhos num fim de tarde: simples, terno, memorável e poderoso. 

Ser Flamengo é como a vida.

Uma vez e para sempre”