Brasil

Davi? Nova Iguaçu não está na final por acaso e quer surpreender o poderoso Flamengo

Comandado por Carlos Vitor, o Nova Iguaçu é uma das sensações do Carioca e quer vencer o Flamengo na final

O Nova Iguaçu teve grandes testes até a final do Carioca, tendo se provado em todos, mas o que vem por aí é a verdadeira prova de fogo para a equipe de Carlos Vitor. O Flamengo é um desafio que pode fazer a Laranja Mecânica fazer história. Como Davi contra Golias, no famoso conto bíblico, ela busca apenas uma oportunidade.

Não é segredo para ninguém que o Nova Iguaçu é menos time do que o Flamengo, afinal, o material humano e o poder financeiro do clube da Gávea não se comparam nem com os de Fluminense, Vasco e Botafogo. Para vencer, Carlos Vitor e companhia precisarão ter garra, coração e, em especial, apresentar a organização dos outros duelos contra os grandes.

Assumindo o papel de Davi

A diferença para o Flamengo começa na folha salarial. O Nova Iguaçu paga cerca de R$ 250 mil em vencimentos mensais para atletas, enquanto o bilionário clube da Gávea gasta 100 vezes mais — isso mesmo —, R$ 25 milhões por mês em salários. Claro que o Rubro-Negro é um parâmetro fora da curva, mas outras comparações deixam a ideia de Davi e Golias mais clara.

O Nova Iguaçu paga o mesmo, com todo o seu elenco, que um jovem jogador do Flamengo, oriundo da base, recebe por mês. O salário de Victor Hugo gira em torno deste valor. Isso sem contar os vencimentos do Rubro-Negro que giram na casa do milhão. Gabigol ganha o equivalente a seis folhas salariais da Laranja Mecânica. O abismo é grande. Essa disparidade só deixa a chegada do Nova Iguaçu à final do Carioca mais impressionante.

— O Nova Iguaçu terminou no G4 desde o início da primeira rodada. Muitas vezes as pessoas podem estar esquecendo disso. Então nada é por acaso — disse Carlos Vitor, técnico do time.

Campanha justifica chegada à final

Assim como Davi, o Nova Iguaçu também tem o seu estilingue para tentar nocautear o gigante Golias. Ele vem na forma de um ataque poderoso, que não apenas bombardeia os seus adversários, mas tem qualidade para buscar a melhor finalização. A equipe de Carlos Vitor é a terceira que mais finaliza, com quase 15 por partida, tendo acertado 41% delas, o melhor aproveitamento do Carioca.

A Laranja Mecânica da Baixada conta com nomes interessantes e, acima de tudo, altruístas. Yago, Alexandre e Bill trocam de posição e fazem a bola chegar em Carlinhos, vice-artilheiro do Carioca, com oito gols, redondinha. Foi de uma trama protagonizada por eles, inclusive, que o Nova Iguaçu conquistou a vaga na final do Estadual, batendo o Vasco no Maracanã.

Um coletivo forte assim só funciona com uma boa comissão técnica e, nesse caso, Carlos Vitor da conta do recado. Cal, como é carinhosamente chamado, defende um jogo vertical para o Nova Iguaçu, potencializando aquilo que seus atacantes têm de melhor. O time não vive de contra-ataques, costuma trocar passes e buscar a melhor jogada, mas sempre em velocidade. Esse é o ponto fundamental.

— Pode esperar o que viemos fazendo dentro da competição. Equipe que realmente pensa em propor o jogo, que tem futebol de procurar aproximação com boa troca de passes, com passes longos, médios e curtos. E procurando verticalidade sempre — finalizou.

Se existe um ponto fraco nesse esquema, contudo, é a defesa. O Nova Iguaçu ainda sofre para fechar espaços e só não sofreu mais gols na semifinal contra o Vasco pela grande fase de Fabrício. Esse é o mapa da mina para o Flamengo.

Bill comemora o gol que colocou o Nova Iguaçu na final do Carioca (Foto: Jorge Rodrigues/AGIF/Sipa USA)

Chegou a hora

A equipe do subúrbio do Rio já fez história nas mais diversas frentes. Seja reinserindo bons jogadores ao mercado, como Carlinhos, formado na base do Corinthians, ou por recolocar um pequeno na final do Carioca depois de 19 anos, a campanha do Nova Iguaçu já está marcada na memória. E esse sonho não agrega apenas dentro de campo.

A diretoria do Nova Iguaçu ainda conseguiu arrecadar valores expressivos em uma competição que não tem premiação há pelo menos três anos. As rendas de bilheteria estão muito próximas dos R$ 2 milhões, valores que também foram recebidos via Copa do Brasil.

Conquistar o primeiro título carioca de um clube de menor expressão desde 1966 seria gigante para o Nova Iguaçu, digno da vitória histórica de Davi contra Golias. O primeiro jogo será disputado neste sábado (30), às 17h (de Brasília), no Maracanã.

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
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