Brasil

Seis anos do penta: relembre o jogo mais maluco do Cruzeiro na Copa do Brasil de 2017

Cruzeiro e Palmeiras fizeram um jogo eletrizante que terminou em 3 a 3, após o time mineiro abrir 3 a 0 no primeiro tempo e o Porco buscar o empate na etapa final

No dia 27 de setembro de 2017, uma quarta-feira como hoje, o Cruzeiro conquistava sua quinta Copa do Brasil, alcançada após uma vitória nos pênaltis sobre o Flamengo, depois de dois empates nas finais. O título tirou o Cruzeiro de uma fila de 14 anos sem vencer um mata-mata, um desejo da torcida naquele momento.

O troféu coroou uma campanha impressionante, marcada por muita emoção. O clube celeste esteve na Copa do Brasil desde a primeira fase e bateu, na sequência: Volta Redonda (RJ), São Francisco (PA), Murici (AL) — e agora as pedreiras —, São Paulo, Chapecoense, Palmeiras, Grêmio e Flamengo.

Uma campanha onde o clube passou pela diferença mínima de um gol contra São Paulo e Chapecoense, pelo critério de gols fora de casa — que ainda era adotado naquele momento — contra o Palmeiras, e nos pênaltis, contra Grêmio e Flamengo, claramente teve momentos de grande emoção e expectativa. Podemos destacar o brilho de Fábio contra adversários na marca da cal, ou pelos gols salvadores de Diogo Barbosa, Hudson e Arrascaeta, nas quartas, semi e final, respectivamente, entre outros lances.

Mas dentre tudo o que aconteceu na Copa do Brasil daquele ano podemos destacar um jogo: o maluco 3 a 3 contra o Palmeiras, no Allianz Parque. A partida rendeu uma promessa curiosa do então treinador Mano Menezes, um bom resultado que pareceu ruim, o início da trajetória de um jogador que hoje brilha pelo Porco e muita, muita emoção.

Palmeiras 3 x 3 Cruzeiro

Após bater uma complicada Chapecoense nas oitavas de final, vencendo por 1 a 0 em casa, com um gol marcado pelo atacante Raniel no início da partida, e empatando em 0 a 0 fora, o Cruzeiro se classificou para enfrentar o Palmeiras na fase seguinte. Apesar da Raposa contar com bons jogadores, o time paulista era o favorito no confronto, já que era o atual campeão brasileiro e tinha uma base consolidada, comandada por Cuca.

As equipes se enfrentaram no Allianz Parque no dia 28 de junho e as equipes foram escaladas da seguinte forma:

  • Palmeiras: Fernando Prass; Fabiano (Egídio), Yerry Mina, Edu Dracena e Zé Roberto; Tchê Tchê e Thiago Santos; Roger Guedes (Keno), Alejandro Guerra (Miguel Borja) e Dudu; Willian Bigode.
  • Cruzeiro: Fábio; Ezequiel, Kunty Caicedo, Léo e Diogo Barbosa; Lucas Romero (Hudson) e Ariel Cabral (Henrique); Robinho (Ramón Ábila), Thiago Neves e Alisson; Rafael Sóbis.

Primeiro tempo dos sonhos

Quando a bola rolou, mesmo com o favoritismo do Palmeiras, o Cruzeiro não se intimidou e rapidamente abriu o placar. E o gol saiu da forma que a equipe de Mano Menezes mais gostava — e que o alviverde voltaria a ser punido na Copa do Brasil do ano seguinte — num contra-ataque fulminante.

Alisson, hoje no São Paulo, arrancou de seu campo de defesa, cruzou a linha do meio de campo e, ao chegar na intermediária palmeirense, acionou Diogo Barbosa, que passava como um foguete. O agora lateral-esquerdo do Fluminense cruzou — ou deu um passe, visto a qualidade da assistência — rasteiro, com muita precisão para Thiago Neves, que de esquerda só teve o trabalho de guardar e comemorar tipicamente colocando a mão na orelha. Não ouviu nada.

Thiago Neves abriu o placar da partida entre Palmeiras e Cruzeiro
Thiago Neves abriu o placar logo no início do jogo – Foto: Cruzeiro/Reprodução

Atrás no placar, o Palmeiras precisava buscar o resultado, mas que marcou foi o Cruzeiro. Aos 19 minutos, mais uma jogada com o selo Mano Menezes contra o Palmeiras. Ezequiel, Thiago Neves, Romero, Thiago Neves por cima, Sóbis de cabeça, e Romero já estava livre pelo lado direito da defesa palmeirense. O argentino invadiu a área olhou e rolou na medida para o ex-palmeirense Robinho bater de direita e marcar: 2 a 0. A movimentação do camisa 19 para escapar do excelente Mina, que viria a ser vendido ao Barcelona, impressionou.

E o Cruzeiro não parou por aí. Aos 31 minutos, doze depois do gol, Thiago Neves ficou com a bola na intermediária após erro na saída de bola palmeirense, carregou e meteu um passe em profundidade, no melhor estilo Fifa, para Alisson que recebeu nas costas da defesa do Palmeiras, avançou e tocou por cobertura após saída desesperada de Fernando Prass, marcando o terceiro golaço daquele primeiro tempo.

O Cruzeiro simplesmente havia aberto três a zero naquele que era conhecido como o melhor time do Brasil, fora de casa, no primeiro tempo. Confronto definido? Nem perto disso. O segundo tempo renderia ainda renderia muito.

A remontada do Palmeiras

Mesmo com 3 a 0 no placar, não se pode descuidar quando se tem Dudu do outro lado. Cuca, que já havia sacado Fabiano e colocado Egídio após o 3 a 0, mexeu novamente, sacando Guerra e colocando Borja. Mano Menezes também mudou no intervalo, tirando Romero e colocando Hudson.

As mudanças de Cuca pareceram ter feito diferença, ou aquele gol estava iluminado, e logo aos sete minutos do segundo tempo Borja recebeu na entrada da área e achou Dudu. O camisa 7, formado no Cruzeiro, deu bela deixadinha para Zé Roberto que bateu em cima da marcação. Quis o destino que a bola sobrasse novamente para Dudu, que de dentro da área mandou uma bomba no ângulo de Fábio. O gol logo na volta do intervalo deu novo ânimo ao Palmeiras, que logo correria atrás do prejuízo.

Nove minutos depois, aos 16, Dudu voltaria a aparecer. Após a bola pingar na entrada da área, Borja, de cabeça, mandou para dentro da cozinha cruzeirense e o camisa 7 surgiu como um raio, em condições dadas por Caicedo, para bater de primeira e vencer Fábio.

Atônito, o time estrelado parecia não entender o que estava acontecendo e o Palmeiras aproveitou. Logo depois, aos 20, a vantagem estava demolida, com a assinatura de outro ex-Cruzeiro, o atacante Willian Bigode. Após Roger Guedes escorar de cabeça um lançamento para dentro da área, Léo afastou mal e a bola sobrou para Willian, que deu uma chicotada que desviou em Caicedo e tirou totalmente o goleiro Fábio do lance. Ao camisa 1 celeste restou o desespero de ver aquilo acontecendo.

Do lado do Palmeiras, muita festa e explosão da torcida, que já havia sentido o momento da equipe, e viu um jogo perdido ser pintado de verde.

Jogadores do Palmeiras celebram gol de Willian Bigode que empatou partida
Jogadores do Palmeiras celebram gol de Willian Bigode que empatou partida – Foto: SE Palmeiras/Reprodução

Empate com gosto de derrota

Ainda que com o sabor amargo da reação palmeirense, Mano Menezes sabia que o 3 a 3 não era mau negócio, principalmente com o critério de gols fora de casa. Por isso, o desafio passou a ser segurar o ímpeto palmeirense e sair do Allianz Parque sem perder. O resto seria problema para depois. E assim se fez. A partida terminou em 3 a 3, com a definição da classificação ficando para a volta, no Mineirão, um mês depois, no dia 26 de julho de 2017.

Promessa de Mano Menezes

A construção do resultado, somada a outras atuações defensivas ruins — com dez gols sofridos em cinco jogos — que aconteceram antes e depois de enfrentar o Palmeiras, fizeram Mano Menezes tomar uma atitude curiosa. O treinador cruzeirense prometeu à torcida celeste não levar mais três gols no jogo seguinte.

— Meu trabalho é em relação à equipe toda. Não é só da parte ruim. Quando faz gol, é meu também. Começou a fazer gol, é trabalho do treinador. A parte ruim, que é a parte defensiva, que caiu, também é parte do treinador. Vamos resolver. Só tem um jeito de resolver: é trabalhando. Penso que temos essa possibilidade novamente. Eu prometo ao torcedor do Cruzeiro que, no próximo jogo, o Cruzeiro não vai tomar três gols — falou Mano Menezes.

— Apagão é simplificar as coisas. É deixar para o imponderável coisas acontecem e que não pertencem a isso. As características das minhas equipes é que sofrem poucos gols. Então, agora temos um fato diferente do que é, que está fugindo da lógica. Temos que achar o porquê. Não se deve só aos dois (Léo e Caicedo). Seria uma injustiça colocar a culpa neles. Sei que o gol passa ali no último momento. Mas perdemos o padrão de se defender. Uma equipe tem que ter padrão. Como ela quer fazer quando o adversário põe uma situação diferente. Começamos a fazer hora de um jeito e hora de outro jeito. teremos uma semana cheia para recuperar. Certamente isso não vai acontecer mais — explicou e garantiu o então comandante celeste.

A promessa não durou muito, um mês. Ainda assim, o desempenho defensivo melhorou consideravelmente, principalmente na Copa do Brasil. Isso passou, também, por uma mudança: a consolidação do zagueiro Murilo.

Técnico do Cruzeiro, Mano Menezes valorizou o empate conquistado na casa do Palmeiras
Mano Menezes valorizou o empate conquistado na casa do Palmeiras – Foto: Cruzeiro/Reprodução

Murilo vira titular no Cruzeiro

As seguidas más atuações do zagueiro Kunty Caicedo fizeram o jogador perder a posição na zaga para o jovem Murilo, cria da base celeste, então com apenas 20 anos. O jogador passou a figurar como titular após a derrota no clássico para o Atlético-MG, que aconteceu logo após o 3 a 3 entre Palmeiras e Cruzeiro.

Com Murilo na zaga ao lado de Léo, a defesa celeste cresceu e o jogador foi importantíssimo no restante da campanha, incluindo no jogo da volta contra o Palmeiras.

Curiosamente, hoje Murilo defende o Palmeiras, após se aventurar no futebol russo. O jogador, agora com 26 anos, é um dos principais zagueiros do futebol brasileiro e peça importante no time de Abel Ferreira.

Com emoção, Cruzeiro se classifica na volta

O jogo de volta, disputado em 26 de julho, provou que o 3 a 3, apesar de ruim pela circunstância, foi excelente no final das contas. Num jogo de muita emoção, o Cruzeiro jogava pelo empate até 2 a 2, porque naquela altura, ainda existia o critério do gol fora de casa.

Diogo Barbosa chora após marcar gol da classificação do Cruzeiro sobre o Palmeiras na Copa do Brasil de 2017
Diogo Barbosa chora após marcar gol da classificação do Cruzeiro – Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

A equipe de Mano Menezes segurava um 0 a 0 até os 26 da segunda etapa, quando o Palmeiras não perdoou em chute de Keno que desviou em Lucas Romero e matou Fábio.

Mas num roteiro de cinema, aos 40 minutos, o ponta Alisson recebeu como um lateral-esquerdo no ataque e cruzou na medida para o lateral-esquerdo Diogo Barbosa aparecer como centroavante e guardar de cabeça. O jogador, que saiu às lágrimas, marcou aquele que seria o gol da classificação celeste e que abriria caminho para o histórico título do Cruzeiro.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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