O Athletico x Flamengo prometeu e entregou um jogo de ótima intensidade – ainda que as discussões sigam além

Athletico Paranaense e Flamengo prometiam um jogo intenso na Arena da Baixada, durante o primeiro encontro pelas quartas de final da Copa do Brasil. Fizeram realmente um jogo intenso – e, mais do que isso, também aberto e com chances de gol para ambas as equipes. Deveria ser uma partida exaltada pelo futebol em alta voltagem. Mas que, infelizmente, também tem seu enredo conduzido por uma arbitragem ruim. Mesmo acertando quase todas as marcações, Anderson Daronco conseguiu desagradar muita gente. O VAR interferiu mais do que deveria e se omitiu quando necessário, diante do papel meramente figurativo dos bandeirinhas. Ao final, o apito serviu para tirar o foco do que foi um embate dos mais agradáveis na Arena da Baixada. E que, diante do empate por 1 a 1, deixa a situação aberta para o reencontro no Maracanã.
Existiam vários atrativos para o jogo em Curitiba. De um lado, o Athletico tenta manter o ritmo sob as ordens de Tiago Nunes, naquele que é um dos times mais bem treinados do país. Os paranaenses se preparam também aos mata-matas da Libertadores e este retorno aos trabalhos já oferecia um desafio interessante. Por outro lado, o Flamengo atiçava a curiosidade com o início da jornada de Jorge Jesus. O português ocupa o noticiário há mais de um mês, mas finalmente poderia estrear em uma partida oficial. Permitiria as impressões iniciais sobre este novo momento do clube.
O jogo na Baixada não demorou a atender as expectativas. O Flamengo inicialmente adotou uma postura ofensiva, mesmo jogando longe de seus domínios. Vitinho precisou de apenas três minutos para levar perigo pela primeira vez. Só que o Athletico tinha as suas armas. O toque de bola rápido e vertical do Furacão costuma funcionar muito bem, principalmente na Baixada. A resposta foi praticamente instantânea, num chute travado de Rony. A formação agressiva escolhida por Tiago Nunes também indicava como os anfitriões causariam problemas à zaga adversária.
A arbitragem precisou de apenas dez minutos para roubar a cena. Em bola longa para Marcelo Cirino, Diego Alves se antecipou e segurou a bola. Porém, sua intervenção com as mãos aconteceu fora da área. Deveria ser uma marcação simples ao bandeira, mas ele estava mal posicionado e não viu. Pior, o VAR também deveria ter avisado Daronco pela ação com a mão em uma oportunidade clara de gol, que poderia ter rendido o vermelho. Omitiu-se. E, ainda que este acabasse sendo o único erro claro da arbitragem, ele determinaria o andamento da noite.
Sem que a decisão fosse revertida, restou a ambos os times lutarem. O Flamengo tentava avançar, mas tinha dificuldades para romper a defesa adversária. Enquanto isso, o Athletico dava uma aula de objetividade. Buscava o lançamento à sua rápida linha de frente, explorando as costas da adiantada defesa do Fla. Bruno Guimarães, sobretudo, fazia uma partidaça para acelerar as ações dos atleticanos em seus ataques. Não demorou para que a balança pendesse ao Furacão.
Aos 17 minutos, o Athletico forçou uma excelente chance para Cirino. A marcação alta atrapalhou a saída de bola do Flamengo e Cuéllar fez um recuo rumo aos pés do atacante. Diego Alves conseguiu salvar. Os caminhos pareciam se abrir ao Furacão, até que o primeiro gol saísse aos 19. O primeiro dos três tentos anulados dos atleticanos. A troca de passes envolvente gerou o gol. Márcio Azevedo foi lançado por Léo Pereira e colocou a bola na cabeça de Marco Ruben, que não perdoou. Todavia, o lateral estava adiantado. A arbitragem anulou com auxílio do VAR.
Cada vez mais, o Athletico empurrava o Flamengo contra a parede. Os cariocas tinham suas escapadas limitadas aos contra-ataques, mas era pouco. O domínio estava com os paranaenses, que precisavam definir melhor as tentativas. E o segundo gol anulado aconteceu aos 34. Irritou bastante quem via a partida. Não pela marcação, correta, mas pela maneira como ela foi realizada. O impedimento aconteceu no início do lance. Ruben balançou as redes 14 segundos depois, em jogada já do outro lado da área. Em um impedimento fácil, o bandeira não assumiu. O desgaste era desnecessário.
Os banhos de água fria não atrapalharam o Athletico. O time continuou melhor, explorando as vulnerabilidades de um Flamengo ainda fora de sintonia. Se o gol não veio, era por detalhes. Mas o encaixe do Furacão era inegavelmente maior, inclusive na defesa. Até o intervalo, o jogo seguiu pendendo aos anfitriões. Diego Alves realizou boa defesa em chute de Nikão e Halter perdeu uma chance inacreditável, ao dominar e isolar.
O início do segundo tempo quase guardou uma surpresa do Flamengo. Arrascaeta descolou uma linda bola para Gabigol, que saiu na cara do gol, mas Santos fez a defesa. Pouco depois, com justiça ao que a partida tinha sido até aquele momento, o Athletico abriu o placar. Nikão cobrou escanteio pela direita e, após desvio de Arão na primeira trave, Léo Pereira apareceu livre para completar no segundo pau. Os atleticanos pareciam mais preparados para se dar melhor neste primeiro duelo.
O lance cabal da etapa complementar aconteceu aos 11 minutos. Em jogada de ataque do Athletico, Ruben disputou a bola no alto com Rodrigo Caio e, na sequência, Marcelo Cirino pediu pênalti após contato com Renê. O atacante tinha razão, mas Ruben cometeu a falta sobre Rodrigo Caio antes. Não deveria ser uma marcação difícil. Entretanto, Daronco conferiu no VAR e demorou quase sete minutos para tomar a decisão – ao menos correta. Esfriou o jogo, em intervalo que ajudou o Flamengo.
Jorge Jesus mexeu logo na retomada da partida. Diego e Everton Ribeiro entraram, nos lugares de Cuéllar e Vitinho. O gol saiu na sequência. Renê cobrou um lateral longo e Gabigol girou sobre Léo Pereira. De frente com Santos, o atacante deu um sutil toque para encobrir o goleiro. O relógio marcava 19 minutos e a partida parecia aberta. Foi este o melhor momento da contenda, com uma franca trocação entre as equipes. Enquanto o Fla apresentava mais qualidade técnica na construção, o Furacão não abdicava de sua postura incisiva.
As oportunidades pipocavam de ambos os lados. Se Bruno Henrique parou em milagre de Santos após desferir uma cabeçada cruzada, com o impedido Gabigol perdoando sob os paus, Bruno Nazário respondeu em chute bloqueado por Rodrigo Caio na pequena área. As brechas iam aparecendo. E o Athletico teve novo gol anulado aos 38, com Marcelo Cirino, em impedimento após lançamento em profundidade. O final, no entanto, perdeu ritmo e terminou limitado pelas picuinhas entre os jogadores – com direito a uma vergonhosa encenação de Gabigol, alegando agressão de Santos. Nos longos acréscimos, o Furacão buscou mais, sem conseguir romper a defesa flamenguista. A definição ficará mesmo para o Maracanã.
O Athletico Paranaense tem mais motivos para lamentar o empate. Por causa da expulsão ignorada de Diego Alves, pode ser, mas também por ter jogado melhor durante a maior parte do tempo. Criou mais chances, atacou com velocidade e rompeu a marcação dos cariocas, ainda que tenha pecado nas finalizações. Já ao Flamengo, fica o mérito da reação a partir das mudanças, que abre a possibilidade de classificação no Maracanã. A promessa é de outro bom duelo no reencontro pelas quartas de final. É torcer por uma arbitragem melhor e, sobretudo, mais convicta do que fará. O VAR, mesmo acertando a maioria, acaba gerando mais problemas quando conduzido de uma forma tão atrapalhada. Este era um jogo típico para que ninguém falasse da arbitragem. Conseguiram estragar.